Aione 15/03/2017Pequenas Grandes Mentiras é o segundo romance de Liane Moriarty publicado no Brasil pela editora Intrínseca, que recentemente o relançou com a capa da série de TV da HBO baseada na obra e estrelada por Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodley nos papéis das protagonistas Madeline, Celeste e Jane, respectivamente.
A história gira em torno dos acontecimentos prévios à morte ocorrida em uma festa oferecida aos pais da escola estadual de Pirriwee, na qual estudam os filhos de Madeline, Celeste e Jane. Pequenas Grandes Mentiras se inicia na fatídica noite, porém sem revelar quem foi a vítima e se sua morte foi acidental ou um homicídio. Então, a história retrocede alguns meses no tempo a fim de construir todos os eventos que desencadearão a morte ao final.
O plot central de Pequenas Grandes Mentiras pode ser o mistério envolvendo o acidente ou homicídio. Porém, ainda que a curiosidade despertada no leitor acerca dessa revelação seja um grande motivador e impulsionador da leitura, é o talento de Liane Moriarty em construir suas personagens e sua forma de abordar questões importantíssimas que verdadeiramente conduz a narrativa. Escritos em terceira pessoa, os capítulos se alternam de acordo com a perspectiva de cada protagonista e carregam suas visões de mundo, principalmente as pequenas mentiras que elas contam a si mesmas – e por isso o leitor deve estar atento para enxergar e refletir além do que é dito por elas.
Durante todo o livro, há trechos de depoimentos dos pais presentes na festa, demonstrando não só os problemas existentes entre eles, como também as inúmeras interpretações errôneas dos fatos. Além de cada questão poder receber diferentes pontos de vista, elas também são alteradas de acordo com a interpretação que recebem e ilustram a força prejudicial de boatos e fofocas, sendo também um bom exemplo de diferentes níveis de maldade inerentes ao ser humano. Afinal, todos compartilhamos de características que, embora diferentes e próprias a cada um, nos torna complexos e imperfeitos (segundo uma visão idealizada), no sentido de carregarmos o bem e o mal em nossa personalidade.
Assim como em O Segredo do Meu Marido, Pequenas Grandes Mentiras é construído por uma escrita despretensiosa, capaz de enganar a respeito do conteúdo do livro. Conforme avançamos na leitura, percebemos o quanto a autora se aprofunda nas complexidades de suas personagens e das temáticas abordadas, sem fazer dela pesada em momento algum. Ao mesmo tempo em que ela cativa o leitor pelo mistério desenvolvido e proporciona a ele um nível de entretenimento, ela também se esbalda no universo feminino, trazendo pontos que exigem discussões e necessitam ser ilustrados para exemplicar o que é afirmado. E Liane Moriarty faz isso com maestria, ao se aprofundar nas personalidades de suas protagonistas, demonstrando seus anseios e receios, seus traumas e dificuldades. Acima de tudo, o livro trata da violência contra a mulher, e foi impossível não me sentir admirada pela sua forma de desenvolver a temática em meio à narrativa. Sobretudo, senti toda a força existida na união feminina, e fiquei exultante com a cena final, na varanda, quando finalmente descrita.
Pequenas Grandes Mentiras está ao lado de O Segredo do Meu Marido como duas das minhas melhores leituras de 2017, mesmo que ainda estejamos no início do ano. Liane Moriarty me ganhou por sua habilidade em construir uma história complexa a partir de acontecimentos completamente rotineiros, e por ser capaz tanto de surpreender, com uma trama envolvente e repleta de mistérios, quanto de nos levar a refletir, principalmente com relação ao universo feminino e às problemáticas diretamente relacionados a ele, sempre por meio de uma narrativa convidativa e despretensiosa. Sem dúvida alguma já a tenho na minha seleção de autores dos quais pretendo ler inclusive suas listas de supermercado.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2017/03/14/resenha-pequenas-grandes-mentiras-liane-moriarty/