spoiler visualizarLaísa 29/01/2013
Juliano VP, um cara do bem vivendo do lado certo da vida errada.
Há tempos que já ouvia falar deste livro, o pessoal da faculdade de Jornalismo super recomendava a leitura. Além de ser uma reportagem brilhantemente narrada e montada por Caco Barcelos, é uma estória singular do bandido 'bom', com coração cheio de sonhos de justiça social e ingênuo demais para os chefões da maior facção criminosa do Rio de Janeiro, quiçá do mundo.
As estória do Juliano VP nos prende pela forma como ele enxergava o mundo, pelo jeito ingenuo dele de acreditar e dar a vida pelo Comando Vermelho, que no final das contas não suportou sua visão revolucionária do mundo do crime, o lado certo da vida errada, como costumava dizer. Conhecer o outro lado da vida de um criminoso e descobrir que os seus sonhos eram visionários, não somente preso ali no mundo de drogas-armas-policia-corrupção-cadeia-miséria-favela. Ele queria muito mais, queria aprender a lutar com as FARC, lia Che Guevara ( e muitos outros livros), sonhava em conhecer a guerrilha colombiana e aprender com eles. Foi traído pela imprensa que ganhou um prato cheio ao receber em primeira mão uma entrevista sua, onde ele narra a verdade nua e crua onde ingenuamente, ele crê que as suas idéias vão abrir as mentes das pessoas. Ledo engano. Passou de um anônimo até então chefe de Morro ao traficante mais procurado do nosso país. Com a pressão dos dirigentes do Estado em cima da polícia, foi preso e levado para a Polinter, de onde conseguiu fugir com outros presos em ação arquitetada e digna de cena de filme.
O Juliano tinha amizades com intelectuais da asfalto, gente de poder aquisitivo e que raramente era associada a um favelado-bandido. Isso chocou a população e os políticos, que nada sabiam de sua vida e de seus ideais, que constantemente eram deturpados pela imprensa, com matérias escritas em favor do lado corrupto da política e da polícia, onde bandido bom é bandido morto, não há espaços para a sua voz, muitos menos às suas idéias.
Foragido e já condenado a vários anos de cadeia, Juliano se esconde como pode, até o dia em que o então amigo cineasta João Salles, que durante um tempo fornecia a ele uma mesada mensal com a intenção de fazê-lo largar a vida no crime, concede uma entrevista que vira capa de jornal. Foi novamente um prato cheio para os abutres da imprensa cair em cima e deturpar novamente a imagem dele, ainda mais associando-o a uma figura tão singular, de um cineasta renomado e dono do maior banco privado do país. Mas o João, assim como muitos que leram o livro, entenderam que o Juliano era de fato, inteligentíssimo e um bandido de coração bom, que merecia sair do crime e se livrar do final de vida eminente para qualquer bandido: a morte.
Assim que a matéria com dita entrevista do João saiu, a caçada a Juliano recomeçaram intensamente e começa então, uma fuga, onde em cada dia está num lugar, passou pela Argentina, viveu no mato da floresta do Rio de Janeiro, se escondeu em favelas vizinhas, até o dia em que o cerco se fechou e foi achado fraco e moribundo num barraco de uma favela onde conseguiu abrigo. Foi para a cadeia Bangu, onde vivem até hoje os chefões do CV, que ele tanto idolatrava. Lá queria estudar e exigia uma biblioteca de verdade onde poderia estudar realmente, pensava em no futuro ele próprio poder fazer sua defesa criminal.
Assim que este livro foi lançado, o Caco enviou um para o Juliano na cadeia, ele chegou a ler e creio que deve ter vibrado de emoção, era um sonho realizado, ter um livro com a sua estória.
No mesmo ano, Juliano foi encontrado morto em uma lixeira da cadeia Bangu coberto com os livros que tanto gostava de ler. Sua morte nunca foi esclarecida, mas possivelmente pode ter sido executada pelos dirigentes do Comando Vermelho, que ele tanto idolatrava e defendia.
Senti um misto de pesar e tristeza em saber que o assassinato de Juliano ocorreu após o lançamento deste livro. Senti tristeza pelo Caco, que além de amigo do Juliano, foi também um excelente profissional e jornalista em construir esta obra e narrar a vida de um cara que lutava por Paz Justiça e Liberdade.