Marcos 23/10/2020
Agência de genialidades Holísticas Douglas Adams
Se fosse possível definir Douglas Adams em duas palavras, elas seriam Genial e Hilário.
A ficção de Douglas é de uma perspicácia assustadora. O seu legítimo humor britânico tem como alicerce os absurdos cotidianos e os cotidianos que, sob a ótica de seus escritos, se tornam absurdos. Foi assim em sua ficção mais famosa e celebrada, o Guia do Mochileiro das Galáxias, e é assim em sua menos conhecida mas não menos célebre ficção-detetivesta-nonsense-musical-filosófica, Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently.
A forma como Douglas manipula conceitos e os deforma comicamente (A própria noção de um investigador que não liga para as provas de uma cena de crime é absurdamente hilária) constrói uma narrativa que, ainda que salte um pouco entre pontos-de-vista e acabe cortando o ritmo de algumas sequências, diverte a cada linha e a cada piada de timing perfeito. Os personagens são vívidos: O próprio Dirk, com sua perspicácia pouquíssimo ortodoxa e o Richard MacDuff, com seu ceticismo fortemente opositor, são os pontos mais altos, mas sem deixar-se levar pelos hilariantes capítulos envolvendo Gordon Way e o professor Chronotis.
Apesar de tudo, porém, "Dirk Gently..." talvez sofra de um espécie de diluição de enredo. Apesar de ser incrivelmente divertido, o livro não prende o leitor brincando com a vontade deste de descobrir para onde a história vai -- As linhas só se chocam depois do terceiro ato, e o personagem título só aparece depois de quase 1/4 das páginas --, e sim fazendo com que este queira saber qual o próximo acontecimento absurdo descrito com destreza por Douglas. Isso faz com que a obra pareça um conto esticado em questão de enredo.
De qualquer maneira, "Dirk Gently..." é diversão pura. É difícil deixar de lê-lo quando se começa, e a vontade que se tem é recomeçar assim que se termina, para avaliar como as linhas se desenvolvem até chegarem no estágio final do enredo. Impossível não recomendar -- Não só esse, mas também toda ficção do Douglas Adams.
Leiam. Não irão se arrepender.
Até mais, e obrigado pelos peixes!