Lane @juntodoslivros 01/08/2015Corra, Fuja, Sobreviva“Existem três regras para sobreviver na Cidade Murada:
1. Correr muito.
2. Não confiar em ninguém.
3. Andar sempre com uma faca.” Página 11
Já nas primeiras palavras do livro temos as regras de sobrevivência. Não parece fácil viver na Cidade Murada. A cidade tem uma área pequena, mas compensa em altura e o tamanho das ruas: prédios altos, ruas estreitas e sujas. Um lugar onde se situam as piores espécies de criminosos. Uma cidade com a lei do mais forte sobrevive. Um lugar onde fazer parte de uma gangue ou grupo é a melhor saída para sobreviver. Se ficar sozinho, sua vida pode ser bem mais curta. Três personagens não querem essa vida. Querem fugir da cidade, mas não será nada fácil.
Jin Ling é uma garota de 14 anos. Sempre teve a aparência de menino, o que vai ajudá-la a ficar disfarçada e passar despercebida. Ela está atrás de sua irmã Mei Yee, que foi vendida por seu pai bêbado e espancador. As duas vieram de uma província distante. Filhas de um agricultor, ambas nunca tiveram uma vida digna e não aprenderam a ler e escrever. Estavam sempre no arrozal ou em outra tarefa e ainda viviam em estado de miséria, pois o pai só pensava em beber.
As duas irmãs sempre foram muito próximas. Jin, apesar de ser três anos mais nova que Mei, sempre foi a mais forte das duas. Sempre fazia com que seu pai lhe batesse primeiro e o instigava ainda mais, assim ele poderia cansar e não iria atrás de sua mãe e irmã.
Quando Mei foi vendida para os Ceifadores, Jin não pensa duas vezes e segue a van que trouxe a irmã para Cidade Murada, Hak Nam. Por dois anos, ela tentou encontrá-la sem sucesso.
“Às vezes me sinto com uma formiga operária, correndo pelos túneis escuros e sinuosos num circuito sem fim. Sempre procurando. Nunca encontrando.” Página 30
A Irmandade é a mais perigosa organização de Hak Nam. Donos de um dos bordéis mais famosos da cidade, eles se acham o dono dela. É com eles que Mei Yee está. Ela vive uma vida de rainha na Irmandade. Tem comida, um quarto confortável, roupas chiques entre outras coisas. Tudo por um 'pequeno' preço: seu corpo.
“- Não tem como fugir. Esquece sua casa. Esquece sua família. – A voz do mestre era fria, impassível. Tão sem vida quanto seus olhos pesados de ópio. – Você é minha agora.” Página 22
A fuga não é uma opção. Se você for pego fugindo, seu destino é pior que a morte. Sem ter como escapar desse destino, Mei passa seus dias em seu quarto aguardando seu único cliente aparecer e se satisfazer. Isso até um garoto oferecer um destino melhor e mudar tudo.
Dai Shing chegou a cidade de maneira misteriosa. Algo terrível aconteceu a ele há alguns anos. Ele veio da Cidade de Fora, Seng Ngoi. Em busca de redenção, Dai acaba se envolvendo com a principal organização de Hak Nam, a Irmandade. Com um passado doloroso, ele precisa de algo que o Longwai, chefe da Irmandade, tem para poder escapar e para isso precisa ganhar sua confiança. Além de precisar encontrar um corredor rápido e sorrateiro para fazer entregas de drogas.
Contada em três pontos de vistas, as histórias desses personagens vão se entrelaçar e desencadear uma teia de acontecimentos que podem salvá-los de uma vida miserável ou causar mais catástrofes.
O livro trás uma realidade já vivida antes. Realmente existiram cidades muradas e foi de uma delas que Ryan se inspirou para escrever sua história: a Cidade Murada de Kowloon, em Hong Kong. Uma cidade que foi por muitas décadas separada de todo o resto de Hong Kong. Lá tinha suas próprias leis, até 1987 onde o governo anunciou a demolição da cidade.
Esse livro não serve para uma simples leitura sem compromisso. A narrativa nos agarra, mas nem por isso você consegue ler o livro de uma vez só e não sentir o impacto que ela nos trás. Elementos fortes são inseridos na história: tráfico de mulheres, violência contra a mulher, drogas, assassinatos, condições miseráveis, etc. Condições essas que vemos todos os dias na televisão, em jornais ou na casa de um vizinho. As cenas do livro são um tanto chocantes. Três jovens lutando pela vida e tendo que enfrentar situações de ricos. Sentimos o sofrimento de Jin, Mei e Dai a cada dia transmitido na história. Um livro que traz reflexão e aprendizado.
No começo achei a história um pouco parecida com outro livro, mas conforme fui lendo e me envolvendo com os conflitos que nossos protagonistas foram enfrentando, não pude deixar de notar que essa é uma história única. Mesmo sendo um infanto-juvenil, o livro ultrapassa o gênero em que está inserido. Cheio de adrenalina e emoção, Ryan soube aplicar e utilizar o lirismo nessa história.
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http://www.asmeninasqueleemlivros.com/2015/07/edicao-1-editora-seguinte-ano-2015.html