Angélica 03/05/2011A História do Ladrão de Corpos “A História do Ladrão de Corpos”, quarto volume das crônicas vampirescas, tem um estilo um tanto diferente dos seus predecessores. Mais lento, com menos personagens e com mais humor do que o normal, pode causar estranheza a quem já está acostumado com o estilo dos outros livros da série. O que não é algo necessariamente ruim.
A história é novamente narrada pelo vampiro Lestat que, após a dissolução de sua banda de rock, não anda lá muito feliz. Cansado de sua vida de vampiro, ele até tenta se matar – só para descobrir que já está tão poderoso que se tornou praticamente incapaz de morrer. Mas tudo muda quando o bebedor de sangue encontra Raglan James, um telepata capaz de roupar os corpos de outros mortais, e que lhe oferece uma proposta inusitada: trocar de corpos, por um certo período de tempo, com o protagonista. Lestat é alertado por todos a quem procura sobre o perigo de tal acordo, o que só faz com que ele queira cada vez mais voltar a experimentar as sensações de um corpo mortal.
Por mais que James apresente todos os sinais de ser um ladrão safado, Lestat não resiste à tentação e aceita o acordo. E o inevitável acontece: Raglan James não devolve o corpo do vampiro no prazo estipulado, deixando nosso protagonista preso em seu novo corpo mortal – do qual ele descobre não gostar tanto quanto esperava...
A partir de então o romance foca-se nas tentativas de Lestat a fim de adaptar-se à sua condição de mortal, ao mesmo tempo em que tenta encontrar uma maneira de recuperar seu corpo vampiresco. Este é provavelmente o livro que mais explora o lado cômico de Anne Rice nas Crônicas: é difícil não rir da falta de jeito de Lestat para lidar com seu novo corpo, e dos comentários mordazes que o mesmo faz sobre sua nova condição. Este tom mais bem humorado, porém, faz com que o livro transmita menos aquela sensação de desesperança tão trabalhada em seus predecessores, segunda a qual o mundo é um “jardim selvagem”, sem Deus nem lógica. Dos outros volumes mantém-se a sensualidade – afinal, Lestat não teria ficado tão tentado a trocar de corpos de o corpo oferecido por James não lhe fosse atraente.
Pode-se dizer que a finalidade desta história é fazer com que Lestat perca de uma vez suas ilusões sobre a vida mortal e aceite, de uma vez por todas, sua condição de vampiro. Se antes ele achava que o desejo de todo o vampiro era voltar a ser mortal, após a troca finalmente percebe que, apesar do horror de ter que matar para sobreviver, ele prefere mil vezes ser vampiro do que viver com todas as limitações mortais.
O estilo narrativo adotado pela autora é simples e eficiente: lembra muito o que ela utilizou em “O Vampiro Lestat”. Talvez algumas pessoas sintam-se decepcionadas com este “retrocesso”, após a narrativa muitíssimo bem executada de “A Rainha dos Condenados”; não acho, porém, que este seja um ponto fraco do livro, já que a narrativa de Rice é fluida e encaixa-se muito bem na história, a ponto de fazer-nos pensar que seria difícil contar aquele caso de outro jeito.
Concluindo, por mais que destoe de seus predecessores no que diz respeito à ação, terror e velocidade narrativa, “A História do Ladrão de Corpos” é uma leitura leve e muito agradável, que certamente merece uma chance. Se você gostou dos outros livros das Crônicas, dificilmente não irá simpatizar com este aqui.