João Vitor Gallo 23/09/2018
A Roda do Tempo tem sido uma das minhas séries de fantasia preferidas, o vasto e variado universo criado por Robert Jordan é muito convidativo e o autor não economiza na hora de criar culturas, costumes, personagens, locais e artefatos mágicos. É uma série que tende sempre para o épico, mas nem sempre a grandiosidade anda de mãos dadas com a intensidade e nesse volume as coisas começaram a ficar um pouco arrastadas.
Após tomar posse de Callandor Rand al’Thor finalmente aceita seu destino como o Dragão Renascido, mas ainda é atormentado pela dúvida de se será capaz de cumprir as profecias e salvar o mundo ou então está mesmo fadado a enlouquecer devido mácula de saidin. Decidido a fazer o que deve ser feito, ele, junto de Mat, Egwene e Moirane, se dirige para Rhuidean, no deserto Aiel, em busca de respostas e para se tornar aquilo que deve ser.
Enquanto isso a história se divide em outras subtramas com Nynaeve e Elayne seguindo uma pista sobre o paradeiro da Ajah Negra que as levam diretamente para Tanchico, uma cidade à beira do caos e de uma iminente guerra civil. Em Tar Valon, Min tem visões sobre uma catástrofe que se abaterá sobre a Torre Branca. Perrin, por sua vez, se dirige a Dois Rios quando toma conhecimento que os Filhos da Luz estão atrás dele e de Rand em sua cidade natal e deve finalmente aceitar o seu papel no Padrão como ta'veren.
A Ascensão da Sombra marca um ponto de virada na série, os personagens, ainda que um pouco hesitantes, passam por um processo de amadurecimento ao terem de lidar com o peso do dever. É o ponto de passagem onde descobrem quem são, aceitam seu lugar e tomam conhecimento do que podem e o que devem fazer.
Esse ponto ganha mais peso nas figuras de Rand e de Perrin, este último cresce bastante durante a história e rouba a cena em vários momentos, sem dúvidas é o destaque do livro em relação aos personagens. Ambos seguem bem a linha dos “heróis relutantes”, que não se veem como heróis de fato, ainda resistindo à ideia de que são algo a mais do apenas um pastor ou um ferreiro, mas as circunstâncias os obrigam a encarar o fato de que querendo ou não eles estão destinados a assumirem lugares de liderança e a fazer a diferença, adquirindo uma maior confiança no processo.
As partes que mais chamaram a atenção foram as em que Jordan expande ainda mais o seu já rico e extenso universo. É um mundo vivo, complexo e com grande pluralidade cultural, que abarca povos bem distintos com seus próprios costumes e pontos de vista. Os artefatos mágicos, os locais fantásticos de arquitetura única e as profecias também enriquecem ainda mais esse mundo, mas o que me chama mais a atenção é a própria mitologia do mundo e como ela aos poucos vai sendo desvelada, tanto em relação à Era das Lendas quanto o que aconteceu nos anos seguintes à Ruptura do Mundo. De longe a revelação sobre a origem dos Aiel foi ponto alto do livro, é uma daquelas partes que já fazem valer o livro todo.
Ainda que tenha gostado bastante do livro esse acabou sendo o volume que mais tenha críticas a tecer a respeito. Veja bem, é uma história que beira as mil páginas, mas uma boa parte poderia ter sido cortada que não faria diferença alguma. É muita enrolação desnecessária, e a história avança lentamente devido a desvios, repetições dispensáveis ou até mesmo trechos que não levam a lugar algum. Alguns cortes teriam deixado o livro mais dinâmico e a história mais objetiva e agradável.
Também não gosto de como o autor repete a fórmula de usar um dos Abandonados para criar o clímax no final. Até aí não teria nada de errado se eles fossem melhores desenvolvidos ao longo da trama e não aparecerem apenas nos últimos capítulos para oferecerem uma oposição derradeira aos heróis e dar o desfecho da história com uma batalha. Tirando Lanfear, eles só aparecem durante uns poucos capítulos e saem logo de cena, são bem pouco aproveitados para um grupo tão interessante de antagonistas.
Apesar das críticas esse foi um livro que gostei muito, esperava mais, não minto, mas mesmo assim foi uma leitura bem divertida, ainda que um pouco cansativa pelo ritmo mais lento, contudo os bons momentos fazem valer o livro. A Ascensão da Sombra é um livro que indico sem medo dentro de uma série que recomendo fortemente. E ainda estamos apenas no começo dessa história, há muito pela frente.