Ladyce 29/10/2017
Devo confessar que não me encontro entre os leitores aficionados de Isabel Allende. Sua grande obra, A casa dos espíritos, muito influenciada por Gabriel Garcia Marques, está entre seus primeiros trabalhos. Mais tarde veio Eva Luna que não chegou ao mesmo nível e daí para frente a escritora chilena tem revelado livros mais ou menos insossos, repletos de lugares comuns, sem grande cuidado na linguagem literária. Continuo a encontrar esses mesmos problemas em O amante japonês.
Tudo se desenrola em torno de uma paixão mantida viva por 74 anos. Alma Mandel, que hoje mora numa casa para idosos, na Califórnia, havia nascido e vivido na Polônia, até ser embarcada para os Estados Unidos. Judia, seus pais decidem protegê-la, quando da invasão russa da Polônia, em 1939. Alma encontra abrigo com os tios Isaac e Lillian Belasco, em SeaCliff, Califórnia. Logo conhece Ichimei, um menino de origem japonesa cujo pai, jardineiro, trabalhava na propriedade. Um ingênuo romance toma os corações dos jovens, que se veem separados, quando o Japão ataca Pearl Harbor e os Estados Unidos entram na Segunda Guerra Mundial. O amor entre Alma e Ichimei, encontra diversos obstáculos através dos anos e é mantido às escondidas por Alma, por uma vida inteira. Cartas descobertas por Irina Bazili, cuidadora, na casa de idosos, finalmente o revelam. Em paralelo, Seth, neto de Alma, procura dados para escrever a história da família. Em tempo, junto a Irina, conhece o romance proibido de sua avó, não sem antes cair de amores por Irina. A partir daí, seguimos duas histórias de amor, cada qual com seus problemas fazendo eco uma à outra. Ambas mostram ter obstáculos que parecem intransponíveis. Nada mais corriqueiro.
Allende usa a duradoura paixão de Alma por Ichimei para desfiar, como contas de um colar, acontecimentos relevantes do século XX. Vamos da Polônia, a São Francisco, passando pelo Texas. Familiarizamo-nos com a perseguição aos judeus e sua diáspora, o Holocausto, o aprisionamento de pessoas de origem japonesa nos Estados Unidos, e aos preconceitos raciais no país. Por outro lado, seguindo o romance paralelo entre Seth e Irina, aprendemos sobre os problemas do mundo atual, a vivência inter-racial nos EUA, pornografia infantil, filosofias da eutanásia para idosos com doenças terminais, situação da população gay no país e em São Francisco em particular. Somos espectadores de uma panóplia de aflições contemporâneas.
Tudo é resolvido quando descobrimos que uma vida bem vivida dá conta de perdoar pecados do passado. E que há de haver resignação às reviravoltas do destino. Além de trama conhecida de amores proibidos, além das circunstâncias melhor descritas em outros obras sobre os fugitivos de guerra, este romance de Allende é recheado de rasas platitudes, frases prontas como as que encontramos nas postagens de redes sociais. Mais que isso, há um tom proselitista e, por vezes, a linguagem nas descrições do romance entre Alma e Ichimei parece bastante anacrônica, e por vezes melodramática. No todo, os diálogos são tediosos e Allende prefere contar mais do que mostrar.
No entanto tenho que admitir, que dos vinte e dois membros do meu grupo de leitura só três tiveram impressões semelhantes à minha. Confesso que eu não teria lido este romance, não tivesse sido escolhido para leitura pelo grupo. Li e confirmei as restrições ao estilo da escritora que já desenvolvera através dos anos e de outras leituras. Se você é fã de Allende, vá em frente e leia. Pelo que percebi não é obra tão singular quanto outros de seus livros, mas para os aficionados, tudo indica que passou a prova.
Por outro lado se você espera passar as horas lendo uma obra que produza além de uma boa história, conhecimento, cuidado com a arte da escrita, criatividade na trama e personagens críveis; se você se interessa por conteúdo e pela arte da escrita, recomendo que procure outro autor e outro título. É banal em todos os aspectos.