Yasvie 14/10/2022
É isso que eu sei.
Durante dias após terminar esse livro simplesmente ainda não consigo tirá-lo da cabeça, mas eu preciso pôr para fora tudo o que pensei e penso após todo esse tempo. E honestamente mesmo depois de ler resenhas, pensar muito sobre e falar comigo mesma a respeito eu ainda não me dei por satisfeita. E a razão, como vi em uma das muitas resenhas que li, não é o plot, mas a premissa.
O que sabemos é o mesmo que as 6 pessoas presas naquele bunker sabem. Um lugar com 6 quartos, 6 cadeiras, 6 talheres, 6 diários, um bloco com papel, caneta e um elevador, esse que trás o que eles pedem, mas, porém, dependendo da vontade Dele, do Homem lá de cima.
Para começar é importante saber que existem diversas formas de ver todos os acontecimentos da história, e algumas delas são bastante óbvias enquanto outras são mais desejos e fantasias do leitor.
Mas a realidade é a seguinte: Catolicismo.
Para quem cresceu em um igreja - como eu - no momento em que uma Bíblia aparece já fica óbvio a sua importância. E qual seria? Na minha opinião, simplesmente lê-la. Não acho que só isso resolveria e os tiraria de lá, porém ela está ali por uma razão, e que utilidade teria uma Bíblia se não lê-la? Claro que poderia ter mensagens ali dentro, sim, mas a presença da Bíblia em si já era a mensagem.
Mas eles não leem, nenhum deles, em nenhum momento, e temos confirmação que eles nem sequer tocam nelas, somente um deles considera mas logo desiste. Porém mesmo assim, de alguma forma e sem perceber, eles acabam sendo levados a uma crença no Ele, no Senhor que controla tudo. E interessantemente, só depois de ler isso em uma resenha, foi que percebi que as coisas só pioram de verdade após a Bíblia ser destruída, ou consumida? Blasfêmia.
E todos eles, de uma forma ou de outra, antes de irem parar ali ou até lá dentro, cometem algum crime punível na Bíblia. Não honrar pai e mãe, matar, roubar, a avareza, luxúria, homosexualidade e uma das coisas mais puníveis na santa inquisição, a ciência. Todos eles cometem alguém erro na vida, menos a Jenny, pois ela é uma criança, então qual o papel dela ali?
Na minha opinião, um teste e uma esperança, é para saber o que os outros fariam com ela, mas também a Jenny é a única que se mantém inteira, sã, até o fim. Ela é a inocência, a pureza e a única que sequer considera a possibilidade de falar com o Homem lá de cima.
Homem esse que tem diferentes aparências, apareceu em diferentes lugares e ocasiões, e que cada um dos 6 o vê de uma forma diferente, e isso sabemos ao ler o livro no ponto de vista de um diário de um dos 6 presos, e é lá que vemos o Homem se tornar quase como uma divindade, sendo descrito como Ele no aumentativo e com muita fé e não-fé sendo posta nesse ser.
Claro que pode parecer que é tudo muito explícito, e que é tudo muito religioso, mas a verdade é que não. É muito sútil, e os acontecimentos são o que ocorreria com pessoas sequestradas e trancafiadas juntas sem se conhecerem. Eles tentam fugir, conversam, discutem, nada acontece muita vezes, às vezes muito caos e definitivamente nada a te forçar a ver religião ou nada do tipo, é sobrevivência e desespero, pura e cru. Muito cru.
E eu entendo que o fim pode ser agridoce para muitos, pois aquele número de páginas sumindo e as palavras ficando mais curtas e simples pode não agradar, mas é um diário e diários acabam, e histórias acabam inesperadamente e inexplicavelmente muitas vezes, ou não.
Ou no fim você pode ser esperançoso, e tudo bem, mas a verdade é que nem todo mundo tem um final feliz, algumas pessoas morrem sem nunca saber o que ou quem as matou, nem toda vítima se torna herói da própria história, e nem toda história tem resolução. Pode parecer triste e absurdo mas é assim que é, é assim que funciona. E todo mundo, em algum momento, também será abandonado, por um deus, um homem, outro alguém ou nós mesmos.
E o começo é igual ao fim. Estamos sozinhos. O que isso significa?