CrisVieira~ 23/04/2018Como ser levemente confuso falando sobre criatividade...Eu preferi organizar minhas impressões sobre livro Grande Magia em notas:
“Precisamos assumir o risco do júbilo”, escreveu. “Precisamos ter a obstinação de aceitar nossa felicidade em meio às cruéis provações deste mundo." Ressalto que esta frase não é da Gilbert mas foi interessante vê-la ali.
1) Alguns capítulos são muito bons. Mas outros parecem uma viagem a base de ácido.
2) Há trechos realmente interessantes, mas infelizmente muitos outros são completamente desnecessários pois a criatividade não necessita exatamente de "truques" para se apresentar. Se um banho (tome banho todos os dias! Estou falando sério, faz bem à saúde.) ou um perfume trouxesse a criatividade, então, nada seria produzido na Europa medieval ou logo após isto. Porque até um rei francês se orgulhava - e era admirado por isto - de nunca ter tomado um banho na vida.
Cito o banho como exemplo, porque se pegarmos o tempo que houver para criar- quinze minutos?...-, vamos dar aquela paradinha para caçar o barbeador, ou o perfume, ou o batom?
Pois ainda que a sensação de bem-estar ocorra (e ele acontece depois que se der uma ajeitada no visual), não existe uma consequência "criativa" nisto. Por acontecer? Sim, pode. Ou não.
Quando lemos sobre o processo de criação de autores renomados, mulheres e homens, eles citam a necessidade de um certo isolamento, como Gilbert fala no livro, bem como da renda fixa, mas dificilmente vão dizer que fazer a barba ou vestir sua peruca vai te fazer se sentir mais criativa/o.
Conheço homens que cuidam da barba como de um filho. E, no passado, ter barba era sinal de superioridade: por isso Homero mantinha a dele), ou passar perfume (já pensaram em quem tem rinite alérgica imaginando que não terá futuro porque não pode passar um perfume? Coco Channel queria vender suas criações, fazia marketing e propaganda deles com frases de impacto, como toda(o) boa(m) publicitária(o) que se preze cria, e não tinha lá muita lógica, para além disso, como falar sobre perfumes em relação a criatividade. rs
Não vai.
A criatividade vem quando se está "preparada(o)" para se criar algo. E a "preparação" é fenômeno interno. Os externos podem auxiliar, mas não significam que gerarão uma espécie de boom criativo em você.
3) gostei do Medo de Salto Alto.
4) um ponto a se considerar: erros em estruturas podem arruinar uma casa levando-a até mesmo a ruir. Uma personagem mal desenvolvida e que não consertamos - porque não queremos ter o trabalho de "voltar e consertar" porque "aquela única personagem não traria um retorno à altura" -, é preguiça demais. Se não dá para consertar, permanece nos incomodando a ideia da personagem "torta" e qualquer leitor pode achar estranho exatamente o 'não desenvolvimento' dela, corte-a. Sem piedade.
5) O evento da editora e o alce pareceu romanceado, porque Editoras recusam, sim, obras de pessoas que não tem grande chamariz, são desconhecidas, ou não tem "padrinhos" que as ajude. E, sim, elas amam publicar os livros de autores conhecidos, mesmo se o livro for um lixo.
É injusto? Sim, é. Mas romantizar este fato não ajuda. Deve-se, sim, persistir no que se acredita, pois esta "magia" nos acompanhará. Porém, jamais retirar os pés do chão esperando por "reviravoltas milagrosas do destino". Isto é pueril e não a atitude de quem leva a sério a própria capacidade.
6) Dói ler esta fala de que a escrita é cruel. A relação humana com a criatividade é cruel, não a criatividade em si. É imaturidade pensar que não somos nós e sim os outros o "inferno" que criamos. E no caso, se produzimos arte e por querermos. Se não, vamos pescar, relaxar de outras maneiras. A questão é que reclamar parece colocar o artista em posição superior, quase se mártir.
Quando, na verdade, estamos sendo abençoados com a oportunidade de gerar algo único nesta vida tão complicada. Por isto, escrever é liberdade, é alegria, é diversão. E embarcar em mundos para além deste e voltar se sentindo empanturrada(o), é felicidade. Criatividade para mim, é dádiva, jamais fardo.
7) Não concordo com a ideia de fracasso como algo absoluto, porque o que é fracasso para uns , é a metade do caminho ainda a percorrer para outros. E se somos nós que estabelecemos o que é sucesso, também devemos compreender que fracasso é degrau de aprendizagem, jamais de parada. Então, "Não pare, siga em frente."
8) Talvez seja isto que precisemos fazer se quisemos ser criativas (os) sem medo do que pensarão: seguir de cabeça erguida e confiantes no que fazemos.
9) O livro é levemente interessante. Não houve um aprofundamento maior sobre o 'criar' para além da experiência literária da autora. Os exemplos podem ajudar mas se voltam mais para um nicho específico de atuação. Eu o recomendo mais às pessoas que ligam ou pretendem ligar seu trabalho à arte literária do que as outras artes, porque ele foca mais nisto. Mas, como distração, talvez seja válido.