spoiler visualizarJulia Ferreira 02/07/2018
Um tudo com nada, um bom com ruim...
Foram tantas as oscilações de sensações com este livro que eu nem sei por onde começar. Partindo do raciocínio que eu deva escrever uma resenha que seja útil, acho que uma introdução rápida a história seria mais apropriado para começarmos, visto que eu senti falta disso quando iniciei minha leitura.
Bom, logo de cara Eva já aparece e tem um diálogo rápido e misterioso com John, que não cabe o posto de protagonista mas é um personagem de suma importância por "descobrir" Lily dentro de um contêiner lotado de cadáveres que veio pelo mar. Não é possível saber, inicialmente, se a história se passa no planeta Terra, no Paraíso, no Além, enfim. A única informação fornecida é que tem um mar, logo uma praia, e nada mais. É obvio que nos deixar perdidos, a mercê da história e do ponto de vista dos personagens juntamente com os diálogos, foi a intenção do autor. E não digo isso porque seria trágico se essa impressão fosse causada sem querer, mas porque William desenrola muito bem os fatos seguintes. Pulando de um ambiente para o outro com facilidade.
E, falando em como o autor dita a história, chegamos no ponto em que preciso alertar que leva um tempo para se acostumar com a ordem "não-cronológica" dos fatos (se é que eu posso chamar assim), mas depois que se acostuma tudo flui naturalmente.
A respeito do conteúdo, eu disse em meu histórico de leitura, fui surpreendida de uma forma nem boa nem ruim, só obtive o que eu não esperava. Minha primeira e única experiência com Young tinha sido em A Cabana e, por ser uma obra muitíssimo singular, eu esperava a mesma postura autoral para com Eva, mas são produções completamente diferentes. Primeiro que Eva é muito menos "real" (se eu posso dizer assim), porque a quebra do tempo e a mudança de cenários nos tira da lógica no nosso mundo, e faz tudo parecer muito fantasioso. Young correu um risco tremendo escolhendo discorrer a história assim, mas se saiu muito bem. Apesar de me sentir um pouco desconfortável no início, foi fácil de entender o objetivo dele e seguir a onda.
No entanto eu aproveitei mais as entrelinhas da história, as frases filosóficas sortidas em um diálogo, um pensamento aleatório, uma descrição fascinante, do que toda a história em si. Senti que todo o trabalho de Young foi sim necessário para que pudesse passar tudo o que ele queria passar com Eva, mas ao terminar o livro parece que tudo aquilo poderia ser dito de uma forma mais simples ou mais organizada, ainda que a forma usada seja genial.
A minha conclusão, resumindo tudo, é muito ambígua. A lógica e escrita da história vivem em um paradoxo. Eu leria de novo, mas não por ser um livro gostoso por exemplo, mas única e exclusivamente pela experiência literária riquíssima que ele me ofereceu.