spoiler visualizarFeliz451 21/01/2023
We Will, We Will Rock You!
Ok, esse aqui vai ser difícil. Sendo o segundo Volume da série, Corações de Neve é um livro que até certo ponto cumpre muito bem o seu papel. Porém, por mais que ele tenha mantido e até mesmo ampliado diversos dos bons pontos do anterior e tendo auges muito mais grandiosos, épicos e memoráveis que o mesmo creio que esse livro acaba tendo alguns pequenos tropeços que o fazem perder certo brilho. Mas novamente, é um excelente livro, uma excelente sequência mas que falha um pouco com sua trama.
Vou tentar ser mais breve nessa resenha do que na anterior e ao mesmo tempo ser mais direto, por conta disso, terei que dar uns spoilers mais pesados dessa obra, coisa que evitei anteriormente. Um núcleo que na minha opinião não funciona nada bem e que mais atrapalha do que qualquer outra coisa é o de um novo personagem chamado Robert de Locksley, vulgo Robin Hood. São poucos os capítulos que passamos sob seu ponto de vista, mas já desses poucos apenas uns dois conseguem ser mais do que medíocres e só um deles se une a trama geral do livro, e mesmo assim, funcionando mais como um prenúncio do que estaria por vir na saga do que algo realmente relevante para esta narrativa. O que eu acho uma pena, já que dois excelentes personagens do livro anterior acabam ficando uma boa parte do livro presos nesse núcleo deslocado. E agora irei falar deles.
Snail Galford nos entrega um excelente arco assim que reaparece na história, e o jeito que o autor retrata sua relação com sua parceira, Liriel Gabbiani é muito bem escrito. A garota que era sua rival no primeiro livro e que ele salva por conta de um crise de consciência pesada aqui está muito mais desenvolvida, tanto como personagem como também em suas habilidades sobrenaturais únicas. E certo, aquelas cenas no armazém (quem leu sabe do que tô falando) não foram lá um jeito muito saudável da parte do Ladino em fortalecer os poderes dela e o laço entre eles. Mas, por mais que a história deles perca um pouco da graça quando eles se juntam ao Locksley, o clímax dela se torna incrível por tudo o que Snail, Liriel e sua nova turma de garotos perdidos de Andrianne tiveram de passar por todo o livro.
Seguindo, duas coisas que preciso elogiar e que com maestria foram acrescentadas ao mundo de Dragões de Éter são as seguintes: o conflito político e a expansão de Nova Ehter. No primeiro livro, a maior parte da história se passa na capital de Arzallum e os poucos momentos da trama do Axel que se passam em outros cenários ainda permanecem dentro do mesmo reino, e nunca vemos ou descobrimos mais coisas sobre o resto desse mundo. Aqui, os primeiros capítulos já começam com dois pés na porta, não só expandindo esse mundo e mostrando o quão rico ele pode ser mas enriquecendo a narrativa no processo. A reunião entre os Monarcas para a Coroação do Anísio é algo simplesmente divino. Não só descobrimos mais sobre cada um dos diferentes Reinos (inspirados nos mais diversos Contos de Fadas) que cercam nossos protagonistas, mas também das relações entre eles e isso expandiu e muito a mitologia da saga, sendo algo feito em poucas páginas e quase que inteiramente com base nos diálogos entre os personagens, e por mais que o arco do "Robin Hood" não me agrade, essa introdução serve como um bom argumento que a une com o resto do enredo. Além disso, outros elementos que valem destaque e são apresentados aqui são: a nação de Minotaurus, que tem grande rivalidade com Arzallum e é a única governada por um alto proclamado Imperador, a vinda de Gnomos do Oriente com tecnologias supostamente milagrosas e a realização de um Grande Torneio de Pugilismo na capital do Reino, onde toda a tensão política causada nessa reunião iria explodir.
Dando uma última passada nos personagens antes de me aprofundar um pouco sobre a trama principal de Corações de Neve, é nesse livro que começa uma das coisas que mais me fez amar essa saga: o desenvolvimento dos personagens. Enquanto no primeiro livro, Maria Hanson por exemplo, é só uma plebeia inocente que acaba chamando a atenção do príncipe, aqui ela é uma moça mais madura e decidida que decide fazer o possível para tornar os jovens de sua cidade com um pensamento rápido e crítico, se tornando assim professora e tendo que enfrentar todos os desafios que a nova posição traz. Axel que antes era um príncipe sem muitas preocupações que na maioria do tempo só se divertia por aí, agora tem que assumir as responsabilidades de um Primeiro Príncipe e Campeão do Reino e dar tudo de si para vencer o Torneio citado anteriormente. Agora, nenhum, mas nenhum personagem tem uma evolução maior que a de João Hanson, e é dele que falaremos à seguir.
Dentro do Universo, não houve um diferença de tempo tão gritante assim, e isso nos é mostrado magistralmente com à partir do Personagem João Hanson. Quando nos encontramos com ele novamente, ele se parece e muito com aquele menininho que entrou escondido em uma carroça pra espionar quem era o "vagabundo" que estava saindo com sua irmã. Mas acontecimentos que envolvem tanto o seu interesse amoroso Ariane (que no primeiro livro era uma das figuras centrais e aqui se reduziu basicamente a interesse amoroso, apesar de seu núcleo místico ainda evoluir) quanto os membros de sua família fazem com que em um curto espaço de tempo aquele menino metido e irritado se torne um homem forte, responsável e protetor para aqueles a quem ama e o fim desse arco se unindo de vez ao arco dramático e místico de Ariane é algo muito, mas muito lindo.
Antes de dar as considerações finais, eu tenho que perder um tempinho falando sobre o Torneio de Pugilismo Punho de Ferro, até mesmo para explicar o título dessa resenha. Essa é a plot principal desse livro, já que os principais acontecimentos se passam durante o a competição e é ela que deixa a maior parte dos ganchos para o terceiro livro. Além termos a volta dos Caçadores de Bruxas no início do Torneio, e de diversos personagens novos interessantes serem competidores dele (como Will e Ruggiero), as histórias de Branca Coração-de-Neve, João, Ariane e até mesmo trechos da de Maria acontecem em paralelo com os eventos do Torneio, mas quem realmente brilha aqui é Axel. Isso é um achismo meu, mas creio que o nome do personagem vem de um dos protagonistas do jogos "Streets of Rage" e fazer do príncipe da plebe um lutador que precisa defender a honra de seu reino na base da porrada é simplesmente genial. As cenas de luta são muito bem escritas, emocionantes e por vezes o autor utiliza de um "mantra que nos guia pelo ritmo da luta e a intensidade da mesma. Nunca pensei que ler "esquerda, direita, embaixo, uma finta, esquerda direita, em cima, cruzado, jab" fosse me empolgar e me fazer visualizar tanto a luta. Falando em luta, durante ela a multidão por muitas vezes entoa um ritmo "tribal" entoado pelo semideuses, seguidos de duas batidas fortes e uma fraca: "Tum, tum, tá!". Sim, personagens de um mundo medieval torcendo num torneio ao sim de uma música do Queen, não é incrível?! Por fim, a final do torneio traz uma das melhores referências de toda a saga com os gnomos do oriente apresentando a tecnologia "Sandman" e transmitindo a luta para pessoas até mesmo fora da Arena de Vidro, que durante todo o combate, vibrava e podia jurar que quebraria.
Falando rapidinho sobre Branca, sua evolução de secundária sem graça para Rainha é algo digno de nota. O livro tem todo um draminha envolvendo o pai dela e o Reino natal dos Corações-de-Neve (entendeu o título do livro?), Stallia é bem competente e te faz simpatizar com ela. Agora, não apenas a família se faz referência o título do livro. Os acontecimentos finais da narrativa são algumas coisas que mesmo que estivessem sendo prenunciadas desde o início doem muito quando chegam, fazendo com que muitos personagens antes alegres e espirituosos acabem se fechando em seus próprios corações de neve. Eu fiquei em dúvida sobre a nota desse, mas posso afirmar que ele é tão bom quanto o primeiro, apesar de uns escorregões e de preferir dar prioridade para o livro seguinte do que para si mesmo, inclusive te jogando um baita de um spoiler sobre acontecimentos do Terceiro Volume ao fim do Arco do Axel, quase te obrigando a pular imediatamente para a sequência.
Corações de Neve é um livro excelente e uma sólida continuação para esse universo, que apesar de não ser tão redondo e acabar se perdendo em suas tramas, não as unindo com tanta perfeição é divertido, emocionante e épico de ser lido. Recomendo muito que todos deem uma chance, mas fiquem avisados, daqui para frente as coisas podem desandar um pouquinho na saga, e esse livro é o começou de tudo. Não é perfeito, longe disso, mas acho que ainda sim merece cinco estrelas.