spoiler visualizaradaobraga 15/06/2011
Preconceito Linguistico: preconceitos inventados?
O autor do Livro Preconceito Lingüístico, o Marcos Bagno, afirma nas “Primeiras Palavras” o seguinte: “O preconceito lingüístico esta ligado, em boa medida, a confusão que foi criada, no curso da historia, entre língua e gramática normativa. NOSSA TAREFA MAIS URGENTE e desfazer essa confusão. (Grifo nosso - p. 9).
Em nossa leitura, além de conhecer o assunto, tivemos este trabalho à parte, que foi de encontrar elementos suficientes para concluir se este objetivo foi ou não atingido pelo autor, ou pelo menos, se ele indica ou se ele proporia um caminho para que esta confusão começasse a ser desfeita. Mas, não encontramos. Ainda que tenhamos conversado sobre a expressão e o que de fato significa a frase: “Nossa tarefa mais urgente”. A quem ele faz referência? De quem é a tarefa? Dos lingüistas, dos gramáticos, de ambos, ou é tarefa do autor e dos leitores? Seja de quem for à tarefa, o autor, diz a tarefa é nossa, ou seja, ele incluso.
Abaixo listo alguns dos mitos e minhas observações.
Mito n° 1: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”
“Ele esta tão arraigado em nossa cultura que até mesmo intelectuais de renome, pessoas de visão critica e geralmente boas observadoras dos fenômenos sociais brasileiros, se deixam enganar por ele.” –
Certamente o autor está acima das pessoas listada nos adjetivos: intelectuais de renome, pessoas de visão critica, boas observadoras... E ao longo do livro, esta é a postura e atitude do autor. O que falta nalguns sobra nele, e o que sobra em outros é defeito. Falta-lhe talvez humildade, ao menos, não o homem, mas talvez, o autor.
E por haver regionalismos e sotaques diferentes entre as várias regiões do país, não anula e não é impeditivo de se admitir, diante da extensão territorial, a formação heterogênea da população, a unidade lingüística. Seja ela falada no norte, centro-oeste e do sul. Há, de forma surpreendente no país, uma grande unidade lingüística. E, faltou ele explicar a base da comparação do mito. Por exemplo: Brasil e Índia, China, e outros países de grandes extensões e não há o percentual de unidade existente no Brasil.
Mito n° 2 – “Brasileiro não sabe português” / “Só em Portugal se fala bem português”
O Marcos Bagno faz esta citação: “Sempre me perguntam onde se fala o melhor português. Só pode ser em Portugal!” – Me pareceu forçado à interpretação dada as palavras. A frase, até no contexto citado, tem a conotação de que, se está perguntando: onde se fala bem português, evidente que é em Portugal. E onde é que se fala bem o grego? Na Grécia... nada além deste significado.
E as comparações Brasil/França me levou a constatação obvia que um povo com melhor IDH, fala, lê e escreve melhor o seu idioma sem preconceito.
“Nosso pais é 92 vezes e meia maior que Portugal, e nossa população é quase 15 vezes superior! Quando se trata de língua, temos de levar em conta a quantidade: só na cidade de São Paulo vivem mais falantes de português do que em toda a Europa! Alem disso, o papel do Brasil no cenário político-econômico mundial é, de longe, muito mais importante que o de Portugal.”
Este argumento é apelativo para dois argumentos falsos ou no mínimo dominador e impositivo. Ou seja, quem for maioria sobre qualquer assunto, tem mais direito e poder de quem for minoria? E a segunda parte é no mínimo reflexo de uma visão torta em relação aos países no cenário mundial. Não é isto que determinará isto ou aquilo em relação à língua, gramática e normas cultas. Não mesmo.
Mito n° 3 - “Português é muito difícil”
Quem assim se expressa, não é criticando a língua, mas, as regras gramaticais, que de fato, de tantas regras, exceções, etimologias diferentes, regras de construção de frase, acentuações, pontuações... que de fato aprender a escrever e a falar Português, de acordo com as normas cultas é difícil.
Mito n° 4 – “As pessoas sem instrução falam tudo errado”
Neste mito o autor apela para uma sutileza estranha que é o seguinte: para o autor, as pessoas que falam errados, falam errado por que o errado é que tá certo, ou, que na etimologia, que o falante (sem instrução) não conhece, tá certo e quem seguem outro tipo de padrão culto é que fala errado. Para esta dedução ele usa o conhecimento da etimológica para justificar suas idéias e admite que o “Nosso português” tem palavras do latim, do grego, da áfrica, da Europa,... etc.
— as' pessoas que dizem Craudia, praca, pranta pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso a educação formal e aos bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito que pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua e considerada “feia”, ”pobre”, ”carente”, quando na verdade e apenas diferente da língua ensinada na escola.
Tal afirmação não é verdade. É tanto que o colega Deusdedith separou o texto da jornalista Sheila Raposo que admite exatamente o contrário disso. Ainda que ela tenha educação superior, saiba escrever na forma culta, ela quando se comunica verbalmente, tal qual outros nordestinos engole sílaba, usa de expressões típicas do cotidiano.
[...]
O livro tem o seu valor. O trabalho do autor como lingüista é de inestimável valor cultural, social e quiçá inédito quanto ao gênero. No entanto, até mesmo a confecção do livro, o autor se mostra e se revela dominado tal qual nós todos, cercados pelas regras da gramática e das normas cultas. Digo até que o autor abusa de certas palavras que pessoas a quem se destina o livro, sem o auxilio de dicionários e condições técnicas de leitura, não é acessível. De forma que, o que o autor abomina, também é usado.
Ele argumenta várias vezes que os lingüista tem base, tem método, tem critérios, e, no entanto, não citou fontes, não relacionou pesquisas, nem tão pouco fez uma demonstração eficaz e eficiente do contrário, ainda que tenha insistido e repetido ao longo do livro, que aos adversários falta “argumentos científicos rigorosos”. Ele nada apresenta de fato ao contrário, a não ser sua palavra em testemunho.
A analise de cada um dos mitos, sendo declarado por ele, fonte de preconceito, em minha opinião, não são preconceitos. É o autor e talvez os lingüistas que dizem ser.
É possível ir contra as idéias do autor desde o inicio. Desde a comparação que ele faz Igapó/Rio, Língua/Gramática. Afinal, ainda que muitos mais milhares de peixes vivam no caudaloso rio, nos igapós, existem milhares de espécies, e grandes espécies que ali vivem, se alimentam, e de forma até mais exuberante do que se vivessem no caudaloso rio. Nos igapós existe riqueza, fartura e nutrientes não encontrado no rio. E lá, se sabe que a existência de um, não anula e exclui o outro, pelo contrário, a existência de um depende da existência do outro.