Bruno 21/08/2016
Os Velharias!
APRESENTAÇÃO
Salve, Salve galera. Sejam-bem vindos ao futuro com essa deliciosa obra de Ficção Científica escrita pelo autor estadunidense John Scalzi.
O universo de Guerra do Velho, iniciado em 2005, é extenso, tendo a saga principal seis livros já escritos e publicados (ainda não no Brasil, infelizmente) e três short-stories cuja linha do tempo se passa entre as histórias principais e complementam a leitura.
Esse, sendo seu livro de estreia, foi indicado em 2006 como melhor livro do ano segundo o prêmio Hugo, que reconhece anualmente os melhores trabalhos e realizações de fantasia ou ficção científica do ano anterior. Nessa edição, Scalzi não levou o prêmio, mas voltou a ser indicado em 2009 (pelo livro Zoe’s Tale, o quarto livro da saga) e acabou vencendo em 2013 (pelo livro Redshirts, que não faz parte do universo Guerra do Velho). Dito isso, com certeza podemos colocar o autor como um expoente nessa nova safra de literatura sci-fi.
Em A Guerra do Velho, acompanhamos a saga de John Perry, que aos 75 anos decide se alistar ao exército. Nesse caso, a história se passa em um futuro não declarado, sendo que os seres humanos já alcançaram a habilidade de viajar livremente pelo espaço e colonizar outros planetas habitáveis. Esse alistamento no qual nosso protagonista se submete, não serve ao governo, e sim a uma força autônoma chamada Forças Coloniais de Defesa. As FCD tem como missão expandir os territórios terráqueos e garantir a segurança dos colonos contra invasões de outras raças. Sim, você entendeu bem, os humanos não são os únicos de olho na colonização e na expansão territorial.
Se já leu até aqui, entendo que assinou seu formulário de alistamento e já se despediu de sua família. Aperte bem seu cinto e aprecie a viagem pois você conhecerá cantos isolados do universo. Ah! Quase me esqueci: Existem perigos por aí, portanto, soldado, vista sua roupa especial de combate e seu capacete.
RESENHA
“--- No meu aniversário de 75 anos, fiz duas coisas: visitei o túmulo da minha esposa e entrei para o exército."
Oito anos após perder sua amada esposa, e recém completados 75 anos de vida, o nosso protagonista, John Perry, procura voluntariamente um dos centros de alistamento das FCD (Forças Coloniais de Defesa).
Por mais estranho que isso pareça, as FCD recruta homens e mulheres apenas quando completam 75 anos de idade, sendo impossível se alistar antes ou depois disso. Nesse universo no qual nos encontramos, o homem já alcançou a tão sonhada liberdade espacial e já conquistou inúmeras novas “casas” para a raça humana. As Forças Coloniais operam de forma autônoma e independente, não prestando contas ao governo de qualquer país, portanto, antes de se alistar, os terráqueos possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre o que existe lá fora. É sabido que o exército colonial vive em guerra com outras raças em busca de expansão territorial e em defesa de sua raça já instalada em outros planetas, mas pouco se sabe sobre como e onde ocorrem essas batalhas.
A chama que motiva os idosos a se alistarem varia muito entre os personagens que aparecem pelo livro. Alguns não possuem mais nada a perder, outros querem apenas conhecer outros lugares da galáxia, mas a grande maioria procura por uma possível chance de rejuvenescimento, pois, em suas cabeças, se existe uma força militar que procura combatentes, eles só seriam aceitos se pudessem participar ativamente de uma guerra. Para isso, eles acreditam que a tecnologia das FCD, infinitamente superior à terráquea, conseguiria cumprir essa função.
“--- As pessoas se alistam porque não estão prontas para morrer e não querem envelhecer. Alistam-se porque a vida na Terra não é interessante depois de uma certa idade. Ou se alistam para ver um lugar novo antes de morrer. É por isso que me alistei, sabe? Não estou ingressando para lutar ou ser jovem de novo. Apenas quero ver como é estar em outro lugar.”
Em A Guerra do Velho volume 1, acompanhamos o dia-a-dia de John, que acaba aceitando os rigorosos termos de seu alistamento, no qual incluem: Os recrutas deverão cumprir um tempo de no mínimo 2 anos, sendo expansíveis a 10, caso as FCD julgue necessário. Os recrutas, após o tempo de serviço nunca mais poderão retornar ao planeta Terra (o que explica a parca quantidade de informações por parte dos terráqueos sobre os negócios das forças coloniais), e terão de viver o restante dos seus dias em algum outro planeta colonizado.
Durante essa saga, conhecemos as novas amizades de Perry e as suas descobertas que acabam abrindo ao leitor todas as dúvidas que fomos criando inicialmente. Vemos também seus treinamentos como soldado e a excelente explicação por trás do famigerado “rejuvenescimento”, que mesmo não sendo tão original, acaba sendo muitíssimo bem escrito.
Um ponto que torna a história envolvente é o fato de você aprender na mesma velocidade que o protagonista, que de um ser humano comum, cuja vida é completamente ordinária, acaba se tornando um soldado de guerra. Nisso, acompanhamos suas missões com cenas de ação muito bem descritas e batalhas espaciais detalhadas e cheias de explosões, como nos bons filmes do gênero. Por ser uma guerra, vemos e sofremos também com as perdas de pessoas importantes nessa nova vida de Perry, que se questiona muito sobre o quão perto fica de se tornar como os próprios monstros nos quais acaba enfrentando.
O que eu mais gostei em Guerra do Velho e que pode atrair muitos leitores interessados é o fato de ser um sci-fi bem leve, e quando eu digo isso, quero dizer que as partes de ciência são apenas pinceladas de forma simples na qual qualquer leitor consegue acompanhar sem se entediar. O foco da história é muito mais na fluidez do que em explicar como as coisas chegaram aonde estão e como funcionam.
Outro ponto, ainda falando sobre fluidez, é a velocidade da escrita de Scalzi, na qual descreve a história de seus personagens e suas motivações a partir de diálogos (muito bem elaborados) ao invés de longos textos explicativos. Isso, que para mim foi um ponto positivo, foi muito mal visto por algumas pessoas em outros textos que li sobre a obra, onde muitos reclamam não conseguirem simpatizar e criar um vínculo emocional com o protagonista e sua trupe.
Nesta parte de diálogos, o autor, ao meu ver, deu um show a parte, no qual também estendo ao excelente trabalho de tradução da editora Aleph. A edição brasileira traz palavrões e chavões de forma completa e excelentemente bem utilizada. Visto que tudo o que sabemos sobre os personagens está atrelado às suas conversas, esse trabalho foi primordial para abrilhantar a obra.
“--- Eu preferi me desculpar por algo com que realmente não me importava e deixar alguém na Terra me desejando o bem a ser teimoso e ter alguém esperando que algum alienígena chupasse meu cérebro de canudinho
Quando penso em referências, muitas me vêm a cabeça e vou até citar algumas, mas o autor já declarou centenas de vezes que Guerra do Velho tem como mentor Robert A. Heinlein, criador do famoso livro Tropas Estelares (que também possui um filme homônimo, lançado em 1997). O plot do alistamento e suas diferentes funções, os treinamentos de infantaria, as guerras coloniais e até as raças são muito parecidas, embora também tenha um toque de originalidade por parte de Scalzi em suas passagens. Em sua forma de escrita, principalmente nos diálogos, nos pensamentos em primeira pessoa de John Perry, e até nas descrições de algumas raças alienígenas, encontro um quê de Douglas Adams em sua reverenciada obra O Guia do Mochileiro das Galáxias, no qual o autor, usa o famoso humor britânico recheado de ironias e sarcasmos para descrever o seu mundo e suas situações extraordinárias. Antes que me xinguem, não vou deixar de mencionar Star Wars, pois os combates estelares, o alienígena da cafeteria, os saltos espaciais e muitas outras coisas também são encontradas aqui e na famosíssima criação de George Lucas.
Fecho essa resenha recomendando intensamente esse livro de abertura da saga Guerra do Velho. Recomendo aos amantes de Sci-fi pelo excelente uso de referências aliados a um belo toque de originalidade e também recomendo aos não amantes pois vocês encontrarão uma boa história, bons diálogos, boas cenas de ação, um bom drama e até aquele toquezinho especial de suspense. Está na minha prateleira e estou ansioso aguardando a sua continuação nas terras tupiniquins.
Me despeço elogiando mais uma vez a Editora Aleph, pela arte de capa, pela diagramação, pelo corte dos capítulos e pelo excelentíssimo trabalho de tradução. Muito esmero envolvido.
E vocês? O que acharam? A jornada valeu a pena? Está ansioso pelo próximo ou desistiu no primeiro? Vamos conversar um pouco sobre sua percepção.
“--- Seria a última vez que visitaria o cemitério ou o túmulo da minha mulher, mas não quis gastar muita energia pensando nisso. Como disse, aquele era o lugar onde ela nunca esteve antes de morrer. Não vale muita a pena lembrar.