bobbie 28/09/2020
Não finjo ter apreendido tudo depois de uma mísera leitura.
Seria de um imenso pedantismo acadêmico clamar ter entendido O mito de Sísifo após uma mísera leitura, que foi o que eu fiz. O que me chamou a atenção para este livreto, cujo diminutivo referente ao seu tamanho e espessura definitivamente não se aplica à profundidade de suas ideias, foi a noção de que ele parte do postulado de que a vida não possui nenhum sentido maior, nenhuma promessa de pós-vida ou recompensa divina e que, quanto maior é a compreensão disto, mais bem vivida será. Camus discorre acerca do absurdo que advém de viver-se uma vida uma vez que se reconhece que o sentido profundo da mesma é... nenhum. Sua analogia ao mito de Sísifo, que foi condenado pelos deuses a arrastar uma pedra morro acima no inferno apenas para vê-la rolar morro abaixo e, então, recomeçar o trabalho sem sentido, nos mostra que, uma vez que entendemos - e aceitamos - que conduzimos vidas tão cheias de propósito quanto à tarefa de Sísifo, tornamo-nos livres para preencher esse espaço-tempo-absurdo com a maior quantidade possível de tarefas que representarão nossa verdadeira liberdade e independência e, consequentemente, estaremos mais aptos a extrair o máximo de frutos do absurdo que é viver um "trabalho" sem sentido. O mito de Sísifo também discorre sobre temas importantes, como arte, diversidade e Verdade. É uma leitura densa, como se espera que qualquer leitura filosófica seja, e de antemão me desculpo desta resenha tão rasa quanto eu poderia me atrever a fazer depois de uma primeira leitura.