spoiler visualizarYnglid 14/03/2020
Indescritível.. Um dos melhores livros da minha vida
Já li cerca de 500 livros (eu tenho preguiça de att o skoob) e nenhum foi tão surpreendente. Nem mesmo Drácula que levei 15 anos para ler com medo de que terminasse. Não estava em meus planos ler o fantasma da ópera, mas após ver o filme de 2004 senti uma falta de Erik tão grande que resolvi ler a procura de um complemento, até então em minha ignorância achava que a adaptação era idêntica. Ledo engano.
Se Erik no filme é um gostosão com uma cicatrizinha, o que me levou a ficar muito brava com Christine e com toda sociedade, no livro podemos ver com profundidade porquê ele foi excluído e com clareza absurda os profundos traumas que lhe ocorreram. Erik aqui é realmente um gênio (o que pouco é visto disso no filme), o autor se esforça para demonstrar seus talentos a todo instante com música, voz, arquitetura, ilusionismo, transe, por meio da admiração/descrição de outros personagens, para que fique enfático que ele não "se vê" como gênio (como vi em comentários de pessoas que viram apenas os filmes e musicais de Andrew), ele realmente é genial a sua maneira.
Em contraste a sua genialidade nata o autor brilhantemente peca, PROPOSITALMENTE, em suas falas para demonstrar seu pouco convívio social. Algumas frases de Erik são estranhas, má formuladas e ele cita a si mesmo sempre na terceira pessoa, eu sinto a tensão dele ao interagir, o receio... senti como se fosse eu mesma. A descrição da aparência de Erik por Gaston fez toda diferença no enredo, uma vez que sua feiura amplificada deu enfase a sua dor, e não deixou brechas para uma mascaragem do problema social. Embora não seja crível alguém nascer com cara de caveira e olhos que não são possíveis de ver, por exemplo, se ele fosse tão lindo quanto no filme surgiriam dúvidas sobre os motivos para ele viver naquelas condições e considerar a si mesmo como monstro, como alguém que não é possível ser amado. No livro é muito clara sua desesperança, desespero e tristeza em várias passagens, (segue um trecho narrado por Christine):
"perguntei por que, já que me amava, não tinha encontrado outro modo de demonstrar isso que não fosse me arrastar consigo e me prender debaixo da terra.
- É bem difícil - Eu disse - se fazer amar num túmulo.
- Cada um oferece - respondeu, num tom singular - os 'encontros' que pode."
neste ponto parei para pensar em alguém cujo pai não quis vê-lo nem mesmo a mãe foi capaz de tocar o rosto, tentando arrastar sua amada para o meio dos mortos pois é o unico lugar onde se considera apropriado para ele estar, para que não fique sozinho, e fiquei completamente devastada com a dimensão de sua dor. Tanta dor que teve de fugir de casa para não conviver com a rejeição e aceitar qualquer coisa que lhe fora oferecida em uma vida precária, inclusive se tornar um assassino nos confins de um palácio. Essa resignação do destino dele me destruiu. E enquanto um gênio lindo que projetasse passagens secretas jamais seria descartado sem ser percebido, um genio feio poderia facilmente ser morto sem levantar alarde quando não mais necessitado. O personagem Erik foi usado, maltado, ferido por todos dos quais se aproximava, tal qual entra em júbilo por Christine adorar algo em si, mesmo que não sua aparência. Em meio essa singela esperança de dar adeus a solidão ele planeja um complexo plano para que ela fique a seu lado. No filme é fácil apontar que ele estava errado, obcecado, e que era um assassino louco, pois não havia tamanha premissa de repúdio, mas no livro, qualquer um, qualquer um faria o mesmo em seu lugar.
Raoul no filme é um personagem irrelevante aqui vejo-o como uma versão bonita e jovem de Erik, uma capaz de ficar com Christine. É educado pois veio de uma linhagem perfeita, criado no berço da sociedade, mas a maneira que ele a trata é quase tão autoritária, ciumenta e possessiva quanto a de Erik em alguns momentos, as vezes mais, fazendo exigências quando percebe que ela está vulnerável, não gostei da personalidade dele em alguns momentos, fora que insiste que ela está delirando até boa parte do livro, mas muito me agradaram as respostas de Christine que não se deixou levar e que respondia a altura, defendendo sua opinião própria a respeito do fantasma (enquanto no filme ela é toda vai com as outras). há um trecho em que ela defende o fantasma que muito me agradou:
"Sinto horror por ele e não o odeio [...] Ele me ama! Atira aos meus pés um imenso e trágico amor!... Por amor, prendeu-me com ele debaixo da terra... mas me respeita, mas se rebaixa, mas geme, mas chora!"
Uma coisa curiosa é que por mais que Erik tenha um lado cruel e perverso, sua falta de convivência social também preservou parte de sua inocência e bondade. O amor que ele sente por Christine é intenso, mas ele nem sabe o que fazer com o sentimento (além de ansiar por sua companhia). Que homem com derradeira maldade, assassino experiente se ateria aos limites do pudor e da honra com uma mulher debaixo da terra? Erik. Fica claro que tê-la desta forma sequer lhe passou pela cabeça, mais um motivo que se faz impossível tê-lo como vilão ou odiá-lo.
"[...] tinha conseguido medir como sua paixão era selvagem. Para não ter me tomado nos braços quando eu não podia oferecer resistência alguma, era preciso que aquele monstro fosse também um anjo e talvez, apesar de tudo, ele possuísse um pouco de anjo da música e, quem sabe tivesse sido o Anjo inteiro, se Deus o tivesse revestido de beleza e não de podridão!" (se Christine não o condena, quem sou eu para condenar?)
Apesar disso eu sei que ele matou diversas pessoas, fez coisas tremendamente erradas e por esta dualidade considero o livro como um dos melhores que já li em toda minha vida. Se eu pudesse dar mil estrelas de classificação eu daria sem pestanejar. Há personagens que de livros memoráveis, outros que li ontem (literalmente) e já esqueci o nome, mas Erik... Erik!!! Vou guardar na memória cada lagrima que derramei com este personagem enquanto eu viver e eu recomendo que todos leiam pois mesmo se eu descrevesse o livro inteiro minhas palavras não puderiam corresponder nem 1% de suas nuances.
Para complementar minhas anotações, a versão de Andrew tenho 99% de certeza se baseou nesse trecho : " - Se Érik fosse belo, você me amaria, Christine?
- Infeliz! Por que tentar o destino? ... Por que me perguntar coisas que escondo no fundo da minha consciência como quem esconde o pecado?" Esse trecho fez minha imaginação correr solta.
Para encerrar a resenha mais entusiasmada que já fiz, deixo minha Quote favorita do livro inteiro:
"- No fundo, não sou mau! Vai ver, se me amar! Só me faltou ser amado para ser bom! Se você me amasse eu seria manso como um cordeiro e você poderia fazer de mim o que quisesse!"