Sassa 28/08/2016
"As gêmeas do gelo, derretendo uma dentro da outra."
Imagine essa situação, você tem duas filhas, Kirstie e Lydia, elas são gêmeas monozigóticas ou seja, extremamente idênticas uma a outra, aonde uma tem uma marca de nascença a outra tem também e em um trágico e inesquecível acidente uma de suas gêmeas morre, a Lydia. Depois de um pouco mais de um ano desde a morte de sua filha, sua outra filha sobrevivente Kirstie, te diz que ela não é a Kirstie, e sim a Lydia, e que na verdade Kirstie é quem está morta. E aí oque você faz? Será possivel você ter confudido a identidade de suas filhas gêmeas?
É exatamente essa bizarra situação que encontramos em As Gêmeos do Gelo, do autor S.K. Tremayne. É um baita de um suspense psicológico que vai te fazer duvidar da sanidade psicológica de todos os personagens durante toda a leitura, e em alguns momentos, até da sua. Inicialmente somos apresentados a Angus e Sarah, que sãos os pais das gêmeas, Lydia e Kirstie de 7 anos. Acontece que uma de suas filhas gêmeas, a Lydia, morreu após um acidente, e isso meio que fragilizou a relação de família linda e completa que eles pareciam ter. O livro começa cerca de 14 meses depois da morte da Lydia, e eles resolvem se mudar para uma pequena ilha escocesa que Angus herdou da avó, na esperança de reconstruírem suas vidas e na tentativa de deixar todo o sofrimento e o luto em Londres que é onde os 3 vivem atualmente.
As gêmeas tinham o apelido, dado pelo avô delas de As Gêmeas do Gelo, porque além da aparência delas de terem os olhos de um azul-gelo e os cabelos bem loirinhos quase brancos , elas nasceram no dia mais frio do ano, Lydia e Kirstie eram tão idênticas fisicamente que cada uma tinha que se vestir com alguma peça de uma cor específica para não serem confundidas, Lydia de amarelo e Kirstie de azul, apesar disso elas eram totalmente opostas na personalidade. Enquanto Kirstie era mais alegre, agitada, e confiante, Lydia era o oposto, mais sentimental, tímida e tranquila. E desde a morte de sua irmã, Sarah tem reparado que Kirstie, sua filha sobrevivente tem se comportado de uma maneira mais reservada e tímida, como a Lydia e se aproximando mais das crianças que eram mais próximas a Lydia, temos também Beany o cachorro da família, cachorros, por terem olfato muito apurado sabem diferenciar, gêmeos monozigóticos por mais idênticos que eles possam parecer, então porque Beany está tratando Kirstie da forma que ele tratava Lydia? Essas foram algumas das desconfianças que Sarah começou a ter durante esses 14 meses, até um certo dia que Kristie, a gêmea sobrevivente, começa a afirmar que ela, na realidade, é Lydia, e foi Kristie quem morreu.
Só essa premissa é de tirar o fôlego, eu adoro histórias sobre gêmeos, e muito mais ainda depois de ler esse livro, durante a leitura eu estava o tempo tempo tentando entender qual caminho esse autor vai tomar, ficava me perguntando ou ele vai tomar o caminho do psicológico ou seja, a Kirstie, gêmea sobrevivente por causa do trauma, por algum motivo acha que é a irmã e está tomando a personalidade da Lydia, ou ele vai pra um caminho mais sobrenatural, talvez a Kirstie por ter um ligação mais do que normal com a sua gêmea, esteja vendo ela, o fantasma dela e conversando com ela de alguma forma, então ou ele vai pro lado psicológico da coisa ou pro sobrenatural, e adivinhem o caminho que ele tomou? Os Dois.
O autor constrói um suspense que só vai aumentando durante a leitura, mas é um suspense bom, apesar de ser torturador é tenso e viciante. Logo no comecinho da história você já descobre que essa família é de longe uma família perfeita, é bastante conturbada a relação deles, todos são mentalmente instáveis e essa situação das gêmeas só piora tudo. A história gira em torno da identidade da gêmea sobrevivente, e chega em um ponto que uma hora ela está se comportando exatamente como a Lydia, em um estalar de dedos ela é a Kirstie novamente, chega a um momento que a gente fica desesperado para saber quem ela realmente é. Basicamente oque mais te motiva a continuar na leitura e se envolver mais e mais é a busca de respostas, e por mais dolorosa que seja a espera, o autor te da elas, de uma forma totalmente satisfatória e convincente.
Inicialmente e instântaneamente você sente uma compaixão pela gêmea sobrevivente, as gêmeas tinham um conexão extremamente forte, Kirstie era o espelho de Lydia e vice-versa, Kirstie só precisava de Lydia, e Lydia só precisava de Kirstie, então com a morte de sua gêmea, ela tem uma tremenda dificuldade de construir relações de amizade com outras crianças e isso a torna extremamente sozinha, então meio que sem querer, o leitor tem uma compaixão por ela, de sentir pena mesmo.Tem momentos que ela chega a perguntar: "Mamãe, quem eu sou? Lydia ou Kirstie?" mas ao mesmo tempo, em alguns momentos ela nos da medo. As Gêmeas do Gelo é uma história sobre traições e mentiras em casamento completamente desestabilizado, traumas psicológicos, luta e perda de uma pessoa amada, e principalmente o quão forte é o elo entre irmãos gêmeos e que nem depois da morte esse elo acaba.
As Gêmeas do gelo é um suspense intrigante e muito viciante, com ótimos personagens bem construídos e uma trama tão envolvente quanto a escrita do autor e pra melhorar, bem no comecinho do livro, tem uma nota do autor dizendo que pra se inspirar na história, no cenário da história, ele foi pra essa mesma ilha na escócia, e ficou nessa mesma casa onde habita os personagens do livro. Então o livro é cheio de fotos em preto e branco do interior da casa e também dessa ilha, que tem o mesmo farol da capa que é lindíssima, ou seja, não preciso nem dizer que isso só deixou a leitura muito mais envolvente e só acrescentou mais ao livro.
Por fim, eu recomendo As Gêmeas do Gelo pra quem gosta e está a procura de um maravilhoso Thriller Psicológico, de um suspense envolvente que só cresce durando a leitura, e principalmente pra um final bastante perturbador.