Pandora 08/03/2020É preciso amarLi este livro para um Grupo de Leitura presencial. Deixei pra última semana por causa de uma série de atribulações, mas bastaram três dias. É uma narrativa fluida e cativante, contada sob à ótica de um menino.
Paris, final dos anos 60. Momo é um garoto muçulmano de idade indefinida (ele acredita ter dez anos) que vive sob os cuidados de Madame Rosa, uma judia sobrevivente de Auschwitz que trabalhou como prostituta em Paris e agora acolhe filhos de meretrizes. Elas não podem criar os próprios filhos por terem “conduta indecorosa”; assim, pagam a alguém para fazê-lo. Apesar do choque inicial de Momo ao saber que Rosa recebe dinheiro para cuidar dele, o menino estabelece com sua protetora uma relação de enorme carinho e dependência.
No prédio em que moram em Belleville - no sexto andar, sem elevador - vivem imigrantes de várias partes, religiões diversas e há até um francês legítimo. Apesar das diferenças culturais e das dificuldades diárias que todos enfrentam, sobra solidariedade. Isto fica ainda mais evidente quando Madame Rosa adoece.
Aliás, apesar de questionar suas origens o tempo todo e de querer saber quem é sua mãe, o maior medo de Momo é perder Madame Rosa. O dela é de ter câncer e também de que Momo tenha herdado algum gene de violência, embora ela não explique o porquê.
Momo também gosta muito de seu Hamil, “que me ensinou tudo o que eu sei”, que cita para o menino o Alcorão e Victor Hugo. Mas é quando conhece a dubladora Nadine, que Momo começa a pensar em como seria interessante fazer o mundo recuar como na sala de dublagem. Evita que a vida continue, Madame Rosa envelheça e o mundo se deteriore.
“A vida pela frente” é uma pequena preciosidade. São tantos os ensinamentos, as citações e as experiências que se tira desta leitura, que é impossível enumerá-las. Há tantos personagens marcantes: o dr. Katz, os irmãos Zaoum, o sr. Waloumba, o sr. N’Da Amédée, Madame Lola... mas o que resume este livro para mim é: uma grande história de amor. Porque na vida real ou no mundo da dublagem, nos sonhos de Momo ou nos pesadelos de Madame Rosa, este é o sentimento que nunca morre.
O grande parágrafo final desta narrativa é uma das leituras mais intensas, significativas e tristes que já fiz. Chorei de soluçar, meus caros... e se volto lá choro de novo.
“(...) eu desprezo todos vocês, menos Madame Rosa, que é a única coisa que amei aqui e não vou deixá-la ser campeã do mundo dos vegetais para agradar à medicina...”
“Não é necessário ter razões para ter medo.”
“É preciso amar.”