Helder 30/08/2018Sessão de porradas no estomagoEm uma das orelhas deste livro existe uma foto da autora. Uma loirinha fofa, angelical e com cara de indefesa.
Mas cuidado, é tudo enganação. Uma mente que imagina o conteúdo deste livro não pode ter nada de angelical. A ultima vez que me lembro de ter visto algo e pensado que aquilo fora criado por um psicopata foi quando assisti a Jogos Mortais 1. Lembro-me de ter pensado que um cérebro saudável não seria capaz de criar aquele filme. Aqui recupero a mesma máxima. Nenhuma resenha foi capaz de me preparar para o que encontrei neste livro. Como disseram em outra resenha aqui no skoob, “as definições de maldade foram atualizadas com sucesso” com este livro. É tanta maldade reunida que em muitos momentos precisei parar e tomar um ar. Era nojo, era raiva, era pena. Diversos sentimentos. Foram muitos socos no estômago.
Karin Slaughter não tem pena do leitor e ela tem ódio de seus personagens. Seus dedos devem ter sangrado enquanto ela escrevia este livro. A experiência desta leitura foi como ter sido atropelado por um trator. O vilão deste livro é o ser mais desprezível que já foi criado. Não me recordo quando foi a ultima vez que um livro me incitou tanto ódio de personagens como este aqui. Eu faria justiça com minhas próprias mãos com certeza. E assim, só posso dar 5 estrelas a este livro, pois o objetivo de mesmo foi alcançado. Fui dormir as 2:30 da manhã lendo as “ultimas” 150 paginas deste livro, pois precisava me vingar. Era isso que eu sentia. Eu tinha que ver aquele vilão sofrer. Mas nem sempre a vingança resolve sua vida, pois depois a adrenalina ficou tão alta que ainda demorei a pegar no sono.
Eu entrei nesta leitura sem ter lido nenhuma sinopse, então para mim tudo era uma surpresa. E isso deve ter feito a diferença.
O livro já começa acelerado e sendo dividido entre dois pontos de vista. No primeiro, Claire está aguardando seu marido Paul em um restaurante. Eles são ricos. Claire meio dondoca. Paul um arquiteto bem sucedido. Estão comemorando o fato de ela ter sido liberada de usar sua tornozeleira eletrônica (?). Que tipo de mulher é essa? Ao sair do restaurante, Paul a leva a um beco onde de repente decide fazer sexo. Ela se excita, mas também se assusta, pois Paul nunca fizera algo assim. Entre excitação e medo, ambos são assaltados por um bandido e ao tentar defendê-los, Paul acaba sendo assassinado na frente de Claire.
No outro capitulo conhecemos Lydia, uma mulher amarga, que possui uma linda filha adolescente e que comemora ao saber que Paul foi assassinado. Qual a conexão destas personagens? Aos poucos descobrimos que isto está associado ao desaparecimento de uma garota há mais de 20 anos, um fato até hoje sem explicação e que destruiu uma família.
Após a morte de Paul, a vida de Claire começa a entrar em colapso. E bota colapso nisso. É como uma avalanche descendo um penhasco de neve e que só vai crescendo. Ao voltar do velório ela descobre que a mansão mega tecnológica em que morava com Paul foi arrombada e, procurando saber se algo foi roubado, ela acaba acessando o computador de seu marido onde encontra vídeos horríveis de pornografia e algo mais. Ela fica chocada com aquilo, pois não combina com a maneira de ser de seu marido e tenta buscar ajuda, mas aos poucos ela percebe que não pode confiar em ninguém, pois aparentemente os segredos de Paul envolviam outras pessoas e aparentemente farão qualquer esforço para que estes segredos não sejam revelados.
O que aquilo tem a ver com Paul? Será que o bom marido a enganou durante todos estes anos?
O livro vai morno até mais ou menos a pagina 80. Até ali eu não estava entendendo nada, mas depois o ritmo se torna frenético e é uma bordoada atrás da outra. Que vontade de encher esta resenha de spoilers. Sabe aquele livro que você acabou de ver e precisa urgentemente falar com alguém? Este é um. A parte em que Claire encontra os arquivos mais para o final, me fincou diversos punhais no peito.
O livro tem seus furos e exageros, como Claire não percebeu nada durante tantos anos? Mas te pega de um jeito que seu ódio fica tão grande que você precisa terminar. E quanto mais você se embrenha na estória, mas pesada ela fica. É muito dor para aqueles personagens.
Existe ainda um terceiro ponto de vista que também nos emociona muito, pois vemos as cartas que o pai da menina desaparecida escreveu conversando com ela e são extremamente emotivas. Vontade de abraçar aquela familia e tentar lhes trazer algum consolo.
Em minha opinião a arte é boa quando mexe de alguma maneira com aquele que a consome. No meu caso, devorei este livro e sendo assim, tem gente que diz que este livro é exagerado. Eu digo que é arte, mesmo que tenha partido de uma mente insana.
Se procura emoções fortes, pare tudo e vá agora ler este livro. Com certeza não irá se arrepender.