Aione 07/07/2016Richelle Mead é famosa principalmente por sua série de sucesso Academia de Vampiros. Silêncio, volume único, é um de seus lançamentos mais recentes, e o primeiro título da autora a ser publicado pela Galera Record.
Fei é habitante de um povoado que vive isolado no alto de uma montanha, no qual todos, há várias gerações, são surdos. Lá, há uma forte hierarquia social, sendo os artesãos e aprendizes os mais respeitados. Subitamente, alguns habitantes começam a ficar cegos, e Fei se preocupa com a irmã, que pode vir a perder o posto de aprendiz caso descubram que sua visão também foi afetada. Ainda, os mineradores, responsáveis pela extração dos materiais trocados pelos mantimentos existentes no povoado, passaram a ser menos produtivos desde que os problemas de visão começaram, de forma a, consequentemente, ter sido reduzida a quantidade de alimentos disponível. Quando Li Wei, minerador e paixão de infância de Fei, decide que descerá a encosta da montanha para tentar encontrar uma maneira de garantir mais suprimentos ao povoado, Fei decide que irá acompanhá-lo, já que poderá ajudá-lo durante a descida: misteriosamente, ela passou a escutar.
Além da premissa em si de Silêncio ser interessante, a escrita de Richelle Mead permite uma leitura rapidamente envolvente e fluida através da narrativa em primeira pessoa pela perspectiva de Fei. Foi interessante conhecer seu povoado, bem como compreender sua própria história de vida, uma vez que a personagem é proveniente de uma família de classe social inferior e ascendeu ao posto de aprendiz devido aos seus talentos como artista. Dessa maneira, temos aqui tanto um traço de sua personalidade como a origem do conflito romântico da trama: Fei aceitou tal oportunidade para oferecer uma melhor qualidade de vida a sua irmã, considerando-se que elas são órfãs. Por outro lado, ao fazer essa escolha, deixou para trás a possibilidade de um futuro com Li Wei, já que a nova diferença social impede qualquer relacionamento entre eles, principalmente o amoroso.
Silêncio conta com ação, aventura e romance. Assim, ao mesmo tempo em que nos vemos curiosos pelo destino do povoado e pela jornada dos protagonistas, também torcemos pelo casal e somos envolvidos pela atração entre eles. Ainda, adorei a maneira de como Richelle Mead abordou a temática da audição: assim como demonstrou a importância desse sentido em diversos aspectos – e que, às vezes, não nos damos conta por já estarmos habituados a ele -, a autora também descreveu excelentemente o impacto de sua privação e de seu retorno à Fei. Adorei perceber, por exemplo, o quanto do nosso vocabulário é composto por palavras originadas da ação de se escutar (e, consequentemente, não fariam sentido em um lugar onde todos são surdos) e, principalmente, como foi escrito o momento quando Fei retorna a ouvir, pois pude pensar no som de uma maneira, que, talvez, eu jamais tivesse feito.
Outro ponto que me conquistou foi a temática das desigualdades sociais existentes no povoado, além de outras questões interligadas, surgidas quando Fei e Li Wei expandem os limites de seus conhecimentos de mundo. Muitos dos questionamentos presentes ao longo da obra são bastante pertinentes principalmente por não serem próprios de Silêncio, mas também adequados a nossa própria sociedade. O único ponto negativo dessa abordagem, em minha opinião, refere-se ao final da história, o qual soou demasiadamente idealizado se levarmos em conta a forte estrutura de divisão de classes existente desde o início do livro.
Por fim, assim como Richelle Mead se baseou em lendas Bálcãs e romenas para criar Academia de Vampiros, Silêncio foi desenvolvido a partir da mitologia chinesa. Durante o desenrolar da história, ainda que vejamos algumas referências a essa mitologia, é ao final que ela, de fato, se torna mais forte, de forma a podermos compreender os tantos acontecimentos ligados, inclusive, à história do povoado. Particularmente, gostei bastante de como essa temática foi inserida pela autora, permitindo que a história tanto tenha se tornado mais interessante quanto, também, tenha ganhado um toque particular.
De modo geral, gostei de Silêncio principalmente por suas peculiaridades sobre a mitologia chinesa (ainda que ela não seja tão evidente na maior parte do enredo) e pela abordagem da audição na trama. Não foi uma história pela qual me vi ávida sobre seu desenrolar; mesmo assim, a leitura foi proveitosa e agradável, e a recomendo tanto aos que desejam conhecer a escrita da autora quanto aos que já são fãs de Mead.
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