Fernanda | @psiuvemler 29/04/2017Silêncio | Blog Psiu, vem ler!Sabe quando uma história é tão sensacional que você simplesmente não acha um jeito de falar por medo de não conseguir transmitir a grandiosidade do enredo? Foi assim comigo ao finalizar a leitura de Silêncio, da autora Richelle Mead. Fiquei um tempo sem saber como começar essa resenha, mas agora as palavras parecem fluir naturalmente e espero que vocês possam aproveitar a publicação.
Beiguo sempre foi um vilarejo calmo, onde todos se entendiam e viviam em paz, cada um cuidando de suas tarefas, lutando pela sobrevivência. O local estava situado no topo de uma das montanhas mais altas da região e “apenas” uma coisa impedia o povo de se locomover para outros lugares: eles eram surdos. Essa condição impossibilitava que ouvissem as inevitáveis avalanches que aconteciam na descida da montanha e isso fazia com que ficassem presos lá em cima.
Desse jeito, eles levavam a vida isolados de qualquer outra pessoa ou civilização que estivesse presente aos arredores. A sociedade de Beiguo era dividida em duas classes principais: artistas e mineradores. Mas as coisas começaram a ficar tensas quando, misteriosa e inexplicavelmente, os moradores passaram a perder a visão e foram obrigados a formar uma nova classe: os pedintes, abandonados à própria sorte na rua, sem ver ou ouvir qualquer coisa, dependendo apenas da boa ação de alguém que resolvesse dar-lhes algo.
No meio disso tudo, quem nos mostra todo esse mundo é Fei, uma artista que perdeu os pais e está lutando para esconder a crescente cegueira da irmã, também artista, dos anciãos do Paço do Pavão – escola onde estudam e exercem função, criando os registros com notícias para os outros moradores – a fim de evitar o destino de pedinte que a aguardava. As estruturas do vilarejo são atacadas quando, inconformada com a atual situação de seu povo, Fei junta-se a um minerador – em uma época onde qualquer aproximação era estritamente proibida – para tentar buscar um futuro melhor para o povoado.
Toda atitude tomada por Fei foi extremamente necessária para a vida de todos os personagens, uma vez que foi a partir dela que as mudanças começaram. O povoado era dependente de uma cidade localizada ao pé da montanha e sua sobrevivência partia da troca de minérios extraídos da montanha por comida. Todos já estavam bem acomodados a essa vida até o dia em que a cidade resolveu cortar o envio de mantimentos e levar todos ao pânico geral. Ninguém acreditava que as coisas poderiam melhorar. Pelo contrário, estavam cada vez piorando mais, uma vez que menos minério estava sendo extraído na medida que os trabalhadores perdiam a visão e, muitas vezes, a vida.
A aventura começa mesmo quando Fei descobre que sua audição voltou, depois de vários séculos e apenas para ela, motivo suficiente para que ficasse um pouco transtornada. Foi ótimo acompanhar a forma como a protagonista ia conhecendo o mundo através dos diversos sons que ouvia e que lhe provocavam inúmeros sentimentos, indo desde a emoção até o medo que causava dores de cabeça. Após esse acontecimento, Fei passou a pesquisar cada vez mais sobre o passado de seu povoado e sobre a vida de seus ancestrais quando estes ainda tinham os privilégios da audição, tentando descobrir o motivo de apenas ela ter sido atingida por isso e acabou encontrando diversas histórias da cultura local há tanto tempo esquecidas.
Esse livro foi de uma grandeza incomensurável para mim, de forma que mal estou conseguindo descrever o enredo e isso me leva à preocupação de esquecer alguma característica importante. Foi incrível acompanhar o crescimento de cada um dos personagens e a evolução da relação entre eles. O povoado era bastante rígido em suas crenças, de modo que Fei e Li Wei – o minerador que se tornou minha mais recente paixão literária – precisaram sair escondidos para correr atrás de seus objetivos.
Todos os personagens, sejam eles de caráter bom ou duvidoso, merecem destaque. Pessoas que foram encontradas ao longo do caminho e que ajudaram o casal a descobrir uma maneira de salvar o vilarejo, seja através de dicas ou lugares para descanso. Os moradores de Beiguo são bem inconstantes, uma vez que, mesmo revoltados com os acontecimentos, não gostaram nadinha das atitudes tomadas por Fei e Li Wei.
A edição da Galera Record ficou sensacional, o que justifica o fato de que a capa foi a primeira coisa que conquistou minha atenção. O trabalho interno também está ótimo. Encontrei poucos erros de revisão. Não há o que reclamar acerca da diagramação, uma vez que as margens e espaçamentos são de ótimo tamanho e a fonte é confortável para leitura. Uma coisa que eu achei que fosse estranhar no início foi a forma como os diálogos acontecem. Não possuindo a capacidade da fala, as comunicações não são indicadas com travessão, como eu estava acostumada, mas sim através da formatação em itálico. Depois que me acostumei com esse fato, achei até divertido.
Richelle Mead é conhecida mundialmente pelas obras da série Academia de Vampiros, mas essa foi minha primeira experiência com a autora e eu não poderia estar mais satisfeita. O final da história foi simplesmente perfeito, de forma que fiquei um tempo refletindo sobre tudo o que aconteceu, sem conseguir decidir o que faria em seguida.
Enfim, é um livro que recomendo, sem dúvidas, para todos que estiverem em busca de uma história repleta de aventuras, segredos e descrenças, com direito a uma pitada de fantasia e e um romance na medida correta, sem doçuras desnecessárias.
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