Tiago sem H - @brigadaparalela 08/08/2017Falar sobre nossas impressões de leitura é um "troço" muito complicado. E esse "troço" se torna ainda mais complicado quando o livro em questão é um livro nacional. Pior, um livro nacional e contemporâneo, tendo em vista que ainda há uma enorme lacuna na leitura de nacionais (quando eles não são obrigados pelos vestibulares), seja por preconceito, ou até mesmo pela pouca divulgação.
As Águas-Vivas Não Sabem de Si é o livro mais recente da autora mineira Aline Valek e seu primeiro romance. De cara, dois fatores fizeram com que eu me interessasse em ler a obra: a capa e o título. Então, fiz aquilo que mais adoro fazer, começar a ler um livro sem ter noção do que ele se tratava.
A obra irá narrar a história de cinco pesquisadores que estão nas profundezas do oceano realizando testes de uma nova roupa de mergulho. A personagem principal, Corina é uma mergulhadora profissional e junto com Arraia, são em grande parte o centro da narrativa. O que ambos e o resto da tripulação não sabem, é que indiretamente eles estão ali à procura de vida inteligente nas fossas abissais.
Os capítulos vão alternando entre os acontecimentos dentro da estação ao qual nossos personagens estão e capítulos narrados pelos seres aquáticos contando sua origem de vida e desenvolvimento. Mesmo que a ideia de criar seres mais inteligentes do que os seres humanos e isso ser bem palpável com nossa realidade (vai saber se realmente existem tais seres nas profundezas onde ninguém consegue chegar) tenha sido fantástica, foi exatamente por ela que a leitura começou a me perder aos poucos.
Por mais que eu entenda a razão da autora ter seguido esse caminho, é uma quebra da narrativa que me incomodou demais. A começar de que o livro é muito curto e os personagens não são bem aproveitados. Não consegui me apegar a nenhum deles, a nenhum dos seus dramas. Somado a isso, ainda vinham esses capítulos que poderiam dar lugar a um desenvolvimento melhor dos tripulantes. Esses capítulos narrados pelos animais marinhos, são muito líricos e mesmo que alguns relatem a história desses animais, outros o leitor precisa fazer um paralelo com o que está acontecendo dentro da estação para perceber a correlação que a autora quis passar.
O livro assume um ar de suspense e mistério que vai aumentando à medida que a história avança e esse tom se mistura com o desenvolvimento (mesmo que pouco) dos personagens.
Mesmo que a história se perca perante essas partes mais poéticas, a escrita da autora é muito fluída e os capítulos curtos também auxiliam a uma leitura muito rápida. Tiro o chapéu também para a pesquisa de campo que Valek se propôs a fazer para escrever sua história. Essa pesquisa de campo, somada a sua escrita, fazem com que seja uma leitura muito visual. O leitor consegue visualizar exatamente como funciona uma estação submarina, os trajes, etc.
Se a narrativa já estava me perdendo nesses capítulos narrados pelos animais, ele me perdeu mais ainda pela tomada de atitude de Corina. Como pesquisador, me senti super incomodado. Sei como financiamento para pesquisas é muito complicado no Brasil, ai vem ela, que é financiada e quase coloca em risco todo o investimento do projeto, que tem prazos para ser executado etc, e pior e mais importante, coloca a segurança dela e dos outros tripulantes em cheque por conta de um sonho. Sei que pode ter sido uma característica da personagem para dar rumo à história, mas foi o estopim para meu desapontamento.
Por fim, As Águas-Vivas Não Sabem de Si, não foi um livro que me identifiquei como gostaria, mas pode ter sido por conta da minha fase de leitura, da minha bagagem histórica, etc., mas admiro e muito todo o trabalho que a autora teve para a ambientação da história e sobretudo a originalidade da obra.
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