Rayhan Chamoun 14/02/2022
Minha experiência literária mais cinematográfica até o momento...
O que falar daqueles livros que pegamos na estante com o seguinte pensamento: "Vou ler esse treco aqui pegando poeira há meses, vai que é bom?" É sempre bom surpreender-se positivamente com uma experiência na vida, ainda mais quando trata-se de literatura, visto que é uma atividade que exige bastante tempo e é conhecida por dar em muita gente as famosas "crises de ansiedade", justamente por querermos ler muito em curtos períodos, e confesso que pegar este primeiro volume das crônicas de Artur fora como beber um elixir do tempo.
Explico melhor: o tempo tornara-se irrelevante, eu simplesmente mergulhei num paradoxo onde quanto mais rápido eu lia, mais o tempo solidificava-se; é estranho elucidar essa sensação, ainda mais quando experimentamos algo parecido pela primeira vez, mas juro que foi o que aconteceu, e creio que isso deva-se a uma das prosas "mais" transparentes que eu já vi na literatura.
O livro é narrado por Derfel, que em sua essência já é cativante como crente em um mosteiro isolado, e à medida que mergulhamos no passado de sua vida, através de vários episódios nos quais vivenciamos a trajetória dele e de seu ídolo, Artur, na luta contra os saxões e em busca da união da Britânia, eu somente pude ficar pasmo em como as coisas avançavam tanto de uma forma tão suave. Em uma frase Cornwell faz semanas passarem como se realmente as tivéssemos vivido, em um parágrafo a potência eleva-se aos meses, e em um capítulo, aos anos.
Ao mesmo tempo, aqui fora, onde o elixir não faz efeito, o tempo voa, a transformação do texto e as transições, os diálogos, as cenas de batalha (MEU DEUS, AS CENAS DE BATALHA!), o romance, a amizade, a dor, o sofrimento, você, enquanto leitor, experimenta tudo isso de modo tão frenético, que a sensação é de tristeza ao terminar a obra, pois tudo que, pelo menos eu, queria fazer, era voltar para aquelas pessoas.
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