Leitora Inquieta 07/01/2017 “Às vezes ‘talvez’ é a melhor coisa que a gente pode ter.”Meio Rei é um dos lançamentos de Junho da Editora Arqueiro, e o começo da trilogia Mar Despedaçado, de Joe Abercrombie. Foi meu primeiro contato com a obra deste autor, e confesso, não poderia ter iniciado de maneira melhor.
O livro conta a história de Yarvi, o segundo filho do rei de Gettland. Em um cenário com um “Q” viking, onde guerras são disputadas e reinos precisam se manter em evidência, ser dotado de força bruta e destreza para manejar a espada no campo de batalha não é apenas esperado, são características necessárias nos homens que vivem ali. E embora seja príncipe, e como tal, devesse se encaixar nesse padrão, Yarvi acaba por sem uma exceção à regra.
Uma mão esquerda deformada, desde o nascimento, transformou o jovem príncipe em um filho rejeitado pelo pai, subjugado pela mãe, desacreditado pelas pessoas. Mas Yarvi mostra que, ainda que lhe falte força bruta, há sabedoria e esperteza de sobra em sua personalidade. Por conta disso decide estudar para tornar-se ministro, uma espécie de conselheiro do rei, um especialista em culturas, idiomas, um conhecedor sobre as propriedades de cada planta, um sábio sobre todas as coisas. Ele estava satisfeito com o curso da sua vida, mas algo terrível acontece e ele se vê diante de possibilidades até então impensadas. Yarvi precisa tornar-se rei. E então, se vingar.
O autor nos apresenta um protagonista infantil, tolhido pelos anos em que foi desrespeitado e menosprezado. O autor coloca, nas mãos de um menino, todo o futuro de um reino, de uma trama. E o que acontece, quando não é só a malha e o escudo que pesam, mas também toda a responsabilidade pelo reino? O que acontece quando o juramento de vingança acabar por se tornar o único caminho a ser seguido? O que acontece quando, diante de tudo o que já estava ruim, o destino se encarrega de deixar ainda pior?
Acontece tudo. Tudo o que nós imaginamos e mais aquilo que nem sequer passa pela cabeça do leitor. A gente vê um protagonista com atuação duvidável crescer diante dos nossos olhos. Criar laços com as pessoas mais improváveis, ser traído por quem a gente (e ele) menos espera. A gente vê um meio rei e meio homem se transformar em um ser humano completo, que á consciente das suas habilidades, das suas potencialidades e defeitos, e usa tudo isso a seu favor. A gente se envolve com personagens secundários misteriosos, fortes, sonhadores, leais e guerreiros.
A gente vê e sente tudo isso. E ainda mais, pois a trama nos transporta para mares revoltos, cenários insípidos e gelados, de guerras internas e externas. O leitor torce, sofre, se orgulha, sente raiva. O leitor não consegue largar as páginas depois que se vê conquistado pela narrativa. E quando termina, a gente quer mais. Impossível não querer.
Com relação à diagramação, achei que está respeitando o padrão da editora, ou seja, tem muita qualidade. Capa bonita, mapa da região para o leitor que gosta de dissecar a geografia da história, papel e tamanho da fonte confortáveis a leitura. Além disso, a editora disponibiliza no final do livro uma provinha do primeiro capítulo do próximo livro da série. No fim das contas, posso dizer o seguinte: que venha o próximo!
Quotes:
“Como abominava as espadas e os escudos, detestava os campos de treinos e desprezava os guerreiros que faziam dali o seu lar! Acima de tudo, como odiava sua própria mão, que não passava de uma piada ruim, uma lembrança de que ele jamais poderia ser um deles.”
“Posso até ser meio homem [...] mas sou capaz de fazer um juramento por inteiro.”
“Era estranha a rapidez com que um rei podia se tornar um animal. Ou como meio rei podia virar meio animal. Talvez até os que nós alçamos aos postos mais altos jamais se elevem muito acima da lama.”
“- Seu irmão podia até ter mais dedos, mas os deuses guardaram toda a inteligência para você.”
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