Fernanda | @psiuvemler 04/08/2016Psiu, vem ler! | Meio Rei, Joe AbercrombieYarvi era um príncipe que, por ter nascido com deficiência em uma das mãos, nunca foi levado a sério como rei ou, sequer, como um bom guerreiro. As limitações sofridas por ele por conta de sua mão lhe renderam diversas piadas de mau gosto, inclusive do próprio irmão. Em uma época onde a força e a coragem eram alguns dos principais indícios de poder, Yarvi deixou a liderança para quem tinha capacidade e começou a estudar para tornar-se ministro, sempre determinado a rejeitar a herança que sua posição designava.
Seus planos corriam perfeitamente como o combinado e todos estavam satisfeitos com a decisão. Yarvi já dominava todos os ensinamentos e mãe Gundring, atual ministra do rei, e estava apenas se preparando para realizar o Teste Ministerial e deixar de vez o título de príncipe para tornar-se o pai Yarvi. Entretanto, a mesma época que via a força como principal característica, também seguia a lei da hereditariedade. Todos os planejamentos futuros foram destruídos quando Yarvi recebeu a notícia de que o pai havia sido vítima de uma armadilha e assassinado pelas mãos dos inimigos. Pela lei, seu irmão herdaria o Trono Negro e governaria Gettland e isso aconteceria se seu irmão não estivesse junto com o pai na emboscada. E assim, de repente, Yarvi se viu obrigado a assumir o trono como rei legítimo. E isso tudo aconteceu no primeiro capítulo...
Meio Rei, primeiro volume da trilogia Mar Despedaçado, é uma história repleta de intrigas misteriosas e reviravoltas impressionantes. Yarvi foi vítima de um golpe praticado pela única pessoa que já lhe demonstrou alguma afeição: seu tio. Todos acreditaram em sua morte e o reino passou por mudanças radicais sob a liderança de Odem. O rapaz foi de rei a escravo de um navio em um piscar de olhos e, diante das circunstâncias e dos descobrimentos que sucederam, ele lutou com garra para cumprir seu juramento de vingar a morte do pai.
Apesar de ter sido uma experiência sensacional, a leitura de Meio Rei só engatou perto da metade do livro. O início foi bem cansativo por conta de excessivas descrições de cenários que, em minha opinião, não eram tão necessários ao enredo. Isso, infelizmente, fez com que a leitura se arrastasse por quase um mês e meio. Mas, em compensação a isso, a partir do momento em que Yarvi se viu forçado a lutar por sua sobrevivência, enganando até mesmo os companheiros do navio acerca de sua verdadeira origem, não consegui mais largar o livro antes de descobrir o que aconteceria ao jovem em sua aventura.
Em parte, foi doloroso acompanhar o modo como Yarvi conheceu como funcionava o mundo além das enormes paredes do castelo. O jovem já estava ciente de algumas coisas, mas passar pela experiência de vivenciar tudo na pele foi algo transformador. E foi isso que fez com que a leitura se tornasse majestosa. Ok, o início foi chato sim e, ok, eu quase desisti (#shameonme), mas Yarvi evoluiu demais durante tudo isso e eu me apaixonei por cada um dos personagens que apareceram nessa jornada.
Queria poder citar e descrever todos os personagens que me encantaram, seja por sua coragem ou pelo seu jeito desprezível, mas acho que ninguém aguentaria, hahah. Nada (esse é o nome do cidadão...) foi alguém que representava muito bem o nome recebido enquanto limpava, incessantemente, o chão do navio no qual Yarvi foi escravo – e que também me provocou diversas gargalhadas. Foi essencial para a história do rapaz e teve um desfecho de vida que me deixou simplesmente embasbacada. Outras pessoas como Jaud e Rulf, companheiros de remo de Yarvi, que se tornaram seus melhores amigos, Shadikshirram, capitã do navio, e Sumael, Trigg e Ankran, almoxarifados e supervisores – escravos com uma condição um pouco melhor – também foram vitais para todo o desenrolar.
O trabalho da Editora Arqueiro ficou incrível. O livro é dividido em três partes, sendo elas O Trono Negro, O Vento Sul e A Longa Estrada, que definem muito bem a viagem do rapaz. Contamos, ainda, com um incrível mapa no início do exemplar, que facilita a definição dos diversos lugares que fazem parte da trama. Confesso que, inicialmente, o que mais me atraiu foi a capa (principalmente as sombras atrás de Yarvi), e depois a sinopse. As ilustrações possuem um acabamento fosco, com exceção do título, que recebeu um destaque. A diagramação segue o padrão da editora sem nenhum ornamento ou detalhe a mais nos inícios de capítulos. Não encontrei graves erros de revisão.
Essa é uma história que eu queria poder contar mais, mas nada do que eu escrever será suficiente para expressar a grandeza que o enredo traz, principalmente nas duas partes finais. É um livro que recomendo para quem curte uma boa aventura, sem muito espaço para romance, com bastante segredos e mortes e uma cultura própria e original muito bem trabalhada. E também para quem gosta de cenários bem detalhados ou que, ao menos, não se incomode tanto com eles.
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