Coisas de Mineira 17/03/2024
O PROBLEMA DOS TRÊS CORPOS COLOCA A HUMANIDADE EM ROTA DIRETA COM ALIENÍGENAS
O problema dos Três Corpos é o primeiro livro de uma trilogia, vencedor do Hugo Awards de 2015, e que ganha uma nova adaptação pela Netflix, que vai abordar um medo antigo: uma invasão alienígena.
Cixin Liu é um autor de ficção científica chinês que conseguiu uma façanha: seu primeiro romance foi o primeiro livro asiático a ser indicado para o Prêmio Nébula em 2014 e a ganhar o Prêmio Hugo em 2015. Se tornou o livro de ficção científica mais vendido na China, e acaba de ganhar uma adaptação pela Netflix, com lançamento no dia 21 de março.
Com linhas temporais diferentes, o livro se divide entre dois protagonistas. A primeira delas é a jovem física Ye Wenjie. Estamos em 1967, no auge da Revolução Cultural. Entre outras coisas, foi a caça de intelectuais que utilizavam de conceitos científicos desenvolvidos em países do ocidente. Entre eles, estava o pai de Ye Wenjie, espancado até a morte por jovens fanáticos integrantes da Guarda Vermelha.
Ela vai ser perseguida, e acaba em um campo de reeducação e, ao ser traída por um colega, vai receber uma proposta: ou vai a julgamento, ou vai se integrar à uma missão em uma instalação militar ultrassecreta chamada Base da Costa Vermelha. Claro que, na sua posição, ela vai demorar muito a saber os reais interesses dessa base.
Lá, estará em contato com duas pessoas: o comissário político Lei Zhicheng e o engenheiro chefe da base, Yang Weining que se tornará seu marido e pai de sua filha. Aos poucos vai descobrindo os reais interesses da base, bem como os motivos pelo qual ela foi escolhida. Entretanto, como sabe que sua situação política é péssima, Ye Wenjie acredita que permanecer na base significa proteção, e está resignada a permanecer lá o resto da vida.
"Para conter mesmo o desenvolvimento da civilização e desarmá-la por muito tempo, só há um jeito: matar a ciência na Terra."
RESENHA DO LIVRO O PROBLEMA DOS TRÊS CORPOS DE CIXIN LIU
40 anos se passam, e vamos conhecer Wang Miao, um pesquisador de nanomateriais. Ele tem por hobby a fotografia e, quando vai revelar um rolo de filme, nota uma estranha contagem regressiva no canto das fotos. De todas as fotos… curioso, pede para a esposa e o filho tirarem fotos, mas aí não aparece a contagem. Na sequência, ele percebe que a contagem regressiva aparece em seus olhos, no meio do campo de visão. O mais estranho é que a contagem apareceu depois que ele participou de uma reunião bem estranha, onde o suicídio de cientistas estava em pauta.
É quando conhece o policial Shi Qiang, que integra uma comissão militar internacional. Eles estão tentando entender as mortes inexplicáveis, incluindo o suicídio de Yang Dong, a física filha de Ye Wenjie. Esses cientistas estavam em um projeto chamado Fronteiras da Ciência. Quando Wang Miao vai em busca de respostas, se depara com um jogo chamado O problema dos Três Corpos.
Parece um jogo de realidade virtual altamente sofisticado, ambientado em um planeta orbitado por três sóis, o que leva a uma alternância entre tempos estáveis e tempos caóticos. E é quando conhece Ye Wenjie, agora uma professora aposentada, que vai contar o que aconteceu há mais de 40 anos.
"Ao abrir os olhos, viu o teto pouco nítido. Do lado de fora, as luzes da idade lançam um brilho fraco nas cortinas. Porém, teve companhia ao voltar à realidade: a contagem regressiva. Ela ainda pairava diante dos seus olhos. Os números eram finos, mas brilhavam muito, com uma luminosidade intensa. 1180:05:00, 1180:04:59, 1180:04:58, 1180:04:57."
UMA HISTÓRIA QUE ABORDA CIÊNCIA, POLÍTICA, FILOSOFIA
O Problema dos Três Corpos é considerado um livro complexo, de leitura difícil, mas estava com altas expectativas: seja porque gosto do gênero, mas também por conta da adaptação que está prestes a estrear na Netflix. Bom, é preciso dizer que a carga de explicações científicas é grande, e por isso em alguns momentos a leitura se arrasta. Nada que impeça de entender o quadro geral, então não é preciso se preocupar com esse ponto. Mesmo porque, a edição conta com muitas notas de rodapé para explicar algumas teorias da física, ou mesmo momentos históricos – lembre-se que a história começa com a Revolução Cultural Chinesa.
Com a alternância entre as duas linhas do tempo, traz um ritmo frenético, com uma quantidade de reviravolta surpreendente. O autor deixa migalhas ao longo da narrativa, até que conhecemos tudo que de fato aconteceu no passado. É uma história que mescla ciência, política, história, filosofia… e os momentos finais são chocantes.
As reviravoltas são tão surpreendentes no final, que fiquei até um pouco desconfiada. O maior problema, para mim, foi uma resolução rápida demais, e de certa forma, meio inacreditável. Considerando se tratar de um livro de ficção científica escrito com certo embasamento teórico, ainda não consigo acreditar nas cenas finais…
"O universo não era desolador. Não era vazio. Era cheio de vida! A humanidade havia dirigido seu olhar para os confins do universo, mas não fazia ideia de que a vida inteligente já existia nas estrelas mais próximas da Terra."
UMA HISTÓRIA GUIADA PELA TRAMA, NÃO PELOS PERSONAGENS
É interessante como sabemos tão pouco da história da China! Acredito que a Revolução Cultural Chinesa tenha sido surreal em muitos aspectos, e ver a perseguição que muitos cientistas sofreram, inclusive perdendo a vida e, pior ainda, como amigos, parentes, se voltaram contra pessoas próximas, com denúncias muitas vezes infundadas, foi surreal. Pareceu uma verdadeira caça às bruxas. Imagino as cicatrizes que isso deixa…
Senti falta de uma ‘humanização’ dos personagens, que são estereotipados, sem espontaneidade ou camadas. Mesmo Ye Wenjie, que poderia despertar mais solidariedade com tudo o que aconteceu logo no início, é fria demais. O policial é o alívio cômico, e um contraponto interessante, já que é o único ‘não cientista’ do grupo. Ainda assim, caricato demais.
Ah, e o jogo? Bem, não faça como eu, que em um primeiro momento não dei muito valor. Mas quando fui adentrado a história, fica fácil entender os motivos do autor – além do óbvio – porque demonstra avanços científicos ao longo da história, até chegar ao desenvolvimento da programação – é surreal! Enfim, uma história recheada de mistérios, conspirações, assassinatos, reviravoltas, e que tem continuação – quero muito ler Floresta Sombria porque a ameaça, no final das contas, foi somente postergada…
"Na condição atual, sua estabilidade mental dependia de dois pilares: aquela senhora idosa, que havia superado muitas tempestades e se tornado serena como a água. e Shi Qiang, o homem que não tinha medo de nada porque não sabia de nada."
Por: Maisa Carvalho
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