Lilian 09/02/2017
Um livro tocante
Essa Luz Tão Brilhante é um livro tocante, que nos faz pensar, nos faz querer ajudar a protagonista a 'segurar a barra' e, principalmente, nos ensina sobre o poder da amizade e da solidariedade.
Nossa protagonista se chama Lucille, uma adolescente de 17 anos que, infelizmente, não pode-se dizer uma garota normal. Ela possui uma irmã mais nova de 9 anos, chamada Wren e seus pais lhe abandonaram: seu pai teve um surto e foi internado em uma clínica psiquiátrica e sua mãe, por não conseguir lidar com isso, simplesmente foi embora deixando suas duas filhas sozinhas e desamparadas.
Sem dinheiro, sem emprego e sem idade suficiente para lidar com uma irmã e uma casa sozinha, Lucille se vê desamparada e desesperada. O que fazer para reverter isso? Ela não pode contar a ninguém, pois a assistência social tiraria sua irmã dela e, com isso, elas seriam separadas. Definitivamente, não poderia acontecer.
"Ela parecia tão desesperada para que aquilo fosse verdade que eu tive que me virar para o outro lado. Eu sabia que ela não estava sorrindo porque tudo ficaria bem. Ela estava sorrindo porque não ficaria, e porque não havia mais nada que ela pudesse fazer."
Ah, sem esquecer, Lucille possui uma melhor amiga chamada Eden, cujo irmão mais velho se chama Digby. É com a ajuda dela que Lucille começa a 'segurar as pontas' inicialmente, ela consegue um emprego como garçonete e Eden cuida de sua irmãzinha nessas noites, enquanto Digby faz sua parte buscando Lucille no trabalho. É difícil, mas não existem opções.
As coisas logo se complicam quando Eden diz que não pode mais cuidar de Wren, pois está sendo prejudicada no balé e, com isso, no desespero, elas brigam e Lucille se vê novamente sozinha. Mas, para sua surpresa, Digby não a abandona, ele na realidade, a ajuda muito.
Todavia, esse envolvimento acaba se tornando muito perigoso, pois a atração entre eles é inegável, pois Digby é comprometido. Aliás, muito bem comprometido. Logicamente que isso não ia impedi-los de continuar nessa trama perigosa.
"Como é que num dia Digby era o irmão reconhecidamente superfofo de Eden e no dia seguinte roubava o ar, causava calafrios e fazia todas as minhas entranhas se contorcerem? [...] Só sei que os meus sentimentos idiotas e irritantes comprometeram completamente a minha capacidade de funcionar quando estou perto dele, que quero diminuir o espaço entre nós e me enrolar toda nele."
A parte boa nisso tudo é que, ao que parece, Lucille e sua irmã possuem alguns anjos da guarda, pois elas vêm sendo agraciadas com compras, suprimentos e até reparos em sua casa, enquanto estão lutando para se manter fingindo estar tudo bem. Elas não poderiam agradecer menos, mas isso também significa que alguém sabe que elas estão sozinhas e isso, querendo ou não, é um risco.
Esse livro me deixou muito desconcertada, na verdade, eu me senti tão frágil ao incorporar a personagem. Lidar com o abandono dos pais e ainda ser forte para manter sua irmã, definitivamente não é fácil. Ela tenta segurar todas as pontas soltas, mas ela não é adulta, ela não é uma mãe, então o desespero lhe atinge em algumas vezes, mas logo ela se preenche de força ao ver que, sim, ela tem pessoas que lhe querem bem. Então continua.
"Confiança. O que isso quer dizer, aliás? Você entrega a faca para uma pessoa quando confia nela. [...]
Digby tem uma faca na mão.
E agora Shane.
É um monte de facas.
Sinto as lâminas roçarem na minha garganta e fico torcendo para que as mãos que seguram as cadas sejam firmes."
A parte que mais me tocou em tudo isso foi o fato de que ela teve de ser adulta, fora obrigada a ser, na verdade. Ela tomou a responsabilidade para si e foi em frente, mesmo que sem escolha, ao contrário dos pais, que teriam de estar fazendo esse papel. Na verdade, eu fiquei irritadíssima com esses pais dela. A mãe simplesmente desapareceu e não teve a decência de ligar nem no aniversário de Wren e o pai acha que tem o direito de estar 'se recuperando', enquanto suas filhas lutam para se manter.
Então, me agradou muito que a nossa personagem não é cheia de 'mimimi', ela é forte e supera cada obstáculo. Ela não tenta ser a vítima, ela tenta mostrar a todos que está tudo bem, que ela vai conseguir, é lindo. Sim, ela tem seus momentos de autopiedade, mas só para si. O foco da história é justamente a superação, a força e a amizade.
"Estamos deitadas juntas na cama. Eu me enrolo ao redor dela. Ela apoia a cabeça no meu braço e eu a abraço bem forte.
Não sei dizer quem de nós tem mais medo de ficar sozinha."
Já, em contrapartida, o romance entre ela e Digby, não me agradou muito. Lógico, eu o amei de cara, tudo que uma menina poderia querer, mas simplesmente não senti intensidade no romance desenvolvido entre eles. Tudo pareceu acontecer rápido demais, mas sem justificar o final deles, como eles chegaram ali. Entendi que a situação os fez sentir tudo mais intensidade, mas para mim, leitora, não pareceu tanto assim.
"Ele estende a mão para mim. [...] Agora está desperta e tocando. Traça o contorno do meu ombro, desce pelo meu braço, desliza pela minha mão. [...].
Todo o sangue do meu corpo está nos pontos em que ele tocou.
Uma guerra.
Uma luta mortal."
Quanto à diagramação, não tenho o que reclamar. A capa é linda, vibrante e condizente com a história, as páginas são amareladas e as letras em com tamanho, com espaçamentos ótimos. Temos alguns detalhes nos capítulos que dão um toque mais fofo no livro e, por fim, não encontrei nenhum erro de revisão ou gramática.
Quanto à narrativa, a autora soube conduzir muito bem a história e me surpreendi com o desenvolvimento dos personagens. Os temas que ela abordou também foram ótimos e a forma como ficamos conectados com a história é incrível, não tenho o que reclamar.
Apesar de a história deixar muitas pontas soltas no final (sim, eu queria arrancar meus cabelos por não saber o que iria acontecer), é um livro que vale a pena ser lido. Quanto a isto, já adianto que terá sim uma continuação (eu pesquisei incessantemente hahaha) e, ao que parece, é intitulado But Then I Came Back.
"Então os dedos dele estão no meu braço de novo, tocando bem de leve, percorrendo minha pele devagar, e meus pulmões estão enormes, como nunca antes. Não quero que isso acabe nunca.
Toque minha pele para sempre."
Então, eu super recomendo a leitura, mas já adianto que lhe fará se emocionar, se angustiar, se alegrar e, principalmente, se apaixonar por esses personagens tão fortes e tão bondosos!
site: http://www.leitorasvorazes.com.br/2016/11/resenha-94-essa-luz-tao-brilhante.html