Maiani - @minhavidaforadeorbita 21/03/2019Eis aqui uma surpresa desse início de ano. Conheço o canal da Pam faz anos, mas confesso que não fui fisgada por essa onda de Youtubers escrevendo livros. Por isso comecei essa leitura despretensiosamente, e considerando o gênero, achei esse um excelente livro!
Alina é uma nerd, que levava uma vida sem grandes emoções no interior. Ela vai cursar faculdade de Engenharia da Computação em outra cidade, e decide mudar sua forma de viver (confesso que gostaria que minha vida acadêmica tivesse sido um pouco parecida com a dela, mas passou bem longe). Ela se muda para uma república, onde vivem outras pessoas bem peculiares, mas que formam um excelente grupo.
Claro que surgiria o primeiro romance, amizades, festas e bebedeiras. A amizade dela com a Manu e a Luana foi bem construída, de forma simples; Gustavo é um personagem maravilhoso, por mais pessoas como ele no mundo, Talita e Bernardo mereciam um pouco mais de aprofundamento, mas mesmo assim achei personagens bem aproveitados.
Mas nessa história, temos muito mais do que um relato do início da vida acadêmica, assuntos muito sérios são abordados. O machismo é mostrado em diversas formas e níveis de gravidade. Para começar, o preconceito que ela e as amigas enfrentam dentro de sala; tanto os alunos como os professores acham que por serem mulheres, elas são incapazes de concluir esse curso. E posso falar sobre isso, pois vi acontecer com pessoas próximas a mim; professores que acham que mulheres são incapazes de realizar atividades "tradicionalmente" masculinas. Depois, o relacionamento abusivo; achei que poderia ser um pouco aprofundado, mas vemos um homem possessivo que não consegue aceitar que sua namorada possa se divertir sem ele, vestir e se comportar da forma como bem entender.
Por último, o estupro dentro das universidades. Conheço casos dentro das faculdades que cursei, não só os alunos, mas também os professores como algozes, que utilizam de sua posição privilegiada para subjugar as alunas. Festas universitárias tendem a ter muita bebida, e mediante a alegria e a liberdade que temos ao entrar nesse universo, esquecemos do risco que corremos ao aceitar bebidas vindas de outras pessoas. Não estou julgando as meninas que caem nesse golpe, muitas vezes esquecemos que vivemos nesse mundo doente e abrimos mão de coisas que nos foram ensinadas para nossa própria segurança. É um absurdo termos que ensinar as meninas novas coisas para que elas não sofram nas mãos de homens que as veem como objetos, mas essa é a nossa triste realidade.
Enfim, esse é livro sobre o início da vida na universidade, mas que possui temas muito mais complexos nas entrelinhas. A Pam está de parabéns, pois ela conversa com um público jovem, e precisamos reafirmar cada vez mais que não devemos nos conformar com essa situação.
“Mesmo com toda essa tragédia eu me sinto feliz por ter ajudado de alguma forma. Por ter sido útil. Por conseguir fazer a diferença. Ao contrário do que somos educadas a pensar, as outras mulheres não são nossas inimigas, mas sim nossas irmãs. Um time. O exército que precisamos proteger. ”