Mar 26/03/2023
Nós, em vez de você e eu
Faz mais de 2 meses que terminei O Rei Corvo, e como não sou retentore de uma grande memória, vou precisar ser breve.
O Rei Corvo tropeça bastante na expansão do lore de Stiefvater, toda a questão de leilões de objetos de sonhos e pessoas ricas e poderosas cientes de magia espalhadas pelo mundo sendo interessante, mas uma quebra no que é na realidade uma jornada de amadurecimento da adolescência para a vida do jovem adulto meticulosamente costurada com a magia cotidiana e o além do que vemos. O Rei Corvo acaba perdendo algum tempo de sua narrativa tentando fazer caber o que acaba se tornando plano de fundo para a próxima trilogia de Stiefvater, tempo que poderia ter passado desenvolvendo melhor Henry, o mais novo garoto corvo que acaba não se misturando ao grupo - uma coisa boa e ruim - além de, e essa é a maior perda, minimizar a tragédia da morte-morte de Noah, cada vez mais desaparecido. Morto desde o início, seu fim era seu começo, mas o personagem é uma parte amada do grupo, parte que faltou os outres sentirem falta.
Com exceção desses tropeços e uns detalhes menores, O Rei Corvo é exuberante no tamanho de sua narrativa. O fim de todos é seu começo. Stiefvater trabalha muito bem uma complexa questão técnica da escrita - personagens condenados pela narrativa desde o início, cientes de seu destino, que na realidade só não enxergaram o destino como ele era de fato.
E essa é a questão. Sonhos enormes, destinos enormes, e o medo enorme do amanhã. Cada personagem da Saga dos Corvos vive num tempo próprio, revolto, doloroso, relutante. Em Rei Corvo, todas as linhas se convergem, os afetos estouram, e há, quando a poeira abaixa, a coragem repleta e real para encarar o presente, e deixar que o futuro apenas chegue, nunca só. Nós, em vez de você e eu. A magia da Saga será sempre Blue e seus Garotos Corvos, personagens exímios e inesquecíveis, tropeços ou não.