Angélica Patriano 29/08/2020As relações familiares e as abelhas.Tudo que deixamos para trás é um livro que retrata a história de três pessoas abordando as questões e relações familiares, inseridos no contexto das abelhas.
Temos Tao, seu marido e filho em um mundo pós Colapso, por volta de 2098, quando não mais há abelhas e a polinização de árvores é feita manualmente pela população em turnos, com folgas somente quando decidem dar, onde a quebra de galhos gera punição com um desconto no salário, se o pólen acaba rápido demais há punição, se o pólen demora a ser utilizado há punição. Alimentos, eletricidade, transportes, vestuário... tudo se tornou difícil de ser adquirido, racionado, caros demais. Ela só quer juntar o valor necessário com seu marido, Kuan, para que eles consigam se mudar e tenham outro filho, e ensinar os números e palavras ao filho de três anos Wei Wen - independentemente da hora ou local -, para que ele se destaque e tenha uma vida melhor do que na polinização manual. Num dia de folga, o marido quer ir à cidade e ela não, então, eles acordam e vão para os campos, onde algo acontece próximo a floresta e nada será como antes.
William está na Inglaterra de 1852, é um naturalista que, por ter aquele lado nerd, sempre sofreu com a falta de atenção e menosprezo do pai. Tem uma loja de sementes e bulbos, muitos filhos e uma esposa, e novamente foi menosprezado, desta vez por seu orientador, ao qual tinha atribuído a figura paterna e onde buscava sempre aprovação. Dado o ocorrido, perde a paixão pela vida e fica acamado por vontade própria. Então, ele quer que seu filho Edmund se orgulhe dele, mas não sabe lidar com os filhos e não enxerga sua filha Charlotte, que se dedica ao pai e o acha o melhor pai do mundo. Entre encontros e desencontros com a paixão que o move, segue William, sempre dependendo da aprovação de uma figura masculina.
George está em 2007, é apicultor e tem muito orgulho de suas colmeias. É casado e, como todo pai fazendeiro e do campo, enviou seu filho para a faculdade acreditando que o mesmo iria aprender marketing e outras coisas para promover ainda mais o apiário, afinal, ele seu legado. O que acontece é que George não resolveu sua situação com Thom, o qual parece não ter interesse no apiário, e é uma relação complicada e que piora através dos primeiros indícios do Colapso, quando as abelhas começam a sumir.
Tendo como pano de fundo as abelhas, o livro adquire uma sensibilidade que em alguns momentos, quando você vê a vida dos personagens, àquilo ao qual se dedicaram a vida inteira, ?acabar?, é muito triste. E com as relações familiares, tudo o que é projetado e atribuído aos outros, as conversas necessários e adiadas, as mentes duras e turronas, o amor incondicional pelos filhos.
Para mim, um belo livro que não consegui largar até terminar.