Fernando.Araujo 26/01/2024
O modelo (branco) que infringe aos não-modelos
Neste livro, somos apresentados à vida de Pecola, ou melhor, a sua não vida. Aqui Toni procura extremar o que seria a condição mais degradante possível para uma menina negra ali nos subúrbios estadunidenses. Através desse choque, ela tenta nos trazer reflexões sobre raça, beleza, estruturas de poder, religião e muito mais que cada leitor irá descobrir por si mesmo dentro de sua bagagem. Para além de bons e maus, Toni procura fazer análises biográficas de cada personagem, visando adicionar camadas e humanizar cada uma de suas criações. Isso, claro, não justifica seus erros, seus problemas, mas os torna mais compreensível para nós leitores que faremos os julgamos consciente ou inconscientemente. Uma coisa que transpassa por todo o livro é o modelo branco desejável, desde o começo com a Shirley Temple, com a mestiçagem, com as relações de poder e até mesmo com a família que Pauline trabalha. Isso tem seu ápice quando Pecola deseja ter olhos azuis, característica tão marcante dos brancos modelos, tanto que leva o título da obra. Acho válido mencionar, ?Eu sei porque o pássaro canta na gaiola? de Maya Angelou que também trata da vida de uma jovem negra. Talvez a grande diferença entre eles seja no fim, onde para um ainda há esperança, para o outro não.