Isa Beneti 08/06/2020
Terror psicológico: a loucura e a mente humana
Já começo esclarecendo a razão da minha nota relativamente baixa a essa obra prima da literatura de terror. Primeiramente, incomodou-me muito a repetição de temas: (apesar da maneira variada como Edgar Allan Poe consegue abordar a loucura, o medo e a morte) certos cenários, personagens e acontecimentos se repetem nos contos, a exemplo dos cenários de castelos/grandes casas, muito similares nos contos "Metzengerstein", "A Queda de Solar Usher", "O Retrato Oval", "A máscara da morte rubra", entre outros. Além disso, percebi a repetição um tanto cansativa de doenças relacionadas à catalepsia (normalmente para justificar a ocorrência de um enterramento vivo), presente em personagens de "Berenice", "Solar Usher" e "O enterramento prematuro". Por último, vê-se a repetição do tema do magnetismo nos contos "Revelação mesmeriana" e "O caso do Sr. Valdemar".
Segundamente, outro ponto negativo são as descrições cansativas durante os textos, sobretudo as descrições ambientais, que possuem um vocabulário muito complicado, o que não ajuda em nada o leitor a mentalizar o cenário. Além das descricrições ambientais, Poe viveu durante o Romantismo, e, provavelmente por influência dessa escola, alguns de seus textos possuem parágrafos e mais parágrafos descrevendo de maneira idealizada a mulher amada, como é o caso de "Morela" e "Eleonora".
Este último conto, no entanto, assim como outras histórias que são cansativas por suas descrições, ao final acaba se "redimindo" e "valendo a pena" graças aos incríveis desfechos de Edgar Allan Poe. Os finais dos contos são o ponto alto do enredo, pois nos deixam ou de boca aberta, ou enojados, ou aterrorizados, mas sempre pensativos... É difícil ler um desses contos sem ficar com ele na sua cabeça e ter pesadelos com ele.
Afinal, grande parte dessas histórias, além de possuírem incrível enredo e desfecho, também contam com forte caráter filosófico. A maioria dos contos traz discussões sobre a origem da loucura (e outras inconstâncias mentais), tentando, de alguma forma, justificá-la e descrevê-la, como é o caso do incrível "O coração denunciador" e "O Gato preto", ambos possuem narradores muito perturbados psicologicamente, com um grau alto de loucura. Uma loucura tão bem descrita e tão bem narrada que pode ser SENTIDA pelo leitor, e isso é absolutamente incrível: o sentimento de que estamos ficando loucos (assim como os narradores) só de LER os textos de Poe.
Vale aí um destaque a "O demônio da perversidade", que é basicamente um ensaio sobre o consciente e o inconsciente humano- os nossos impulsos primitivos - o que me remeteu muito à obra de Freud.
Outros contos discorrem mais sobre o tema da morte, como "O caso do Sr. Valdemar". E há ainda os que tratam de questões metafísicas, a exemplo de "Revelação mesmeriana".
Em geral, os contos me fizeram ter uma visão melhor da mente humana e seus distúrbios, fazendo-me literalmente SENTIR o que é ser louco. Edgar traz esse tema (loucura) de uma maneira perturbadora e horripilante e com finais que nos deixam pensativos.