spoiler visualizarMarco Antonio da Silva Filho 30/01/2024
Uma busca pelo sentido da vida
"Uma confissão", de Tolstói, é uma autobiografia que não explora tanto os detalhes históricos da vida dele, mas se aprofunda nos pensamentos, sentimentos e conflitos internos que ele viveu.
Acredito que podemos dizer que sua busca principal era a busca por sentido, o sentido da vida. Vivia tentando se aperfeiçoar, mas percebeu que era incentivado a fazer o mal. Escrevia para ensinar os outros, mas tinha consciência de que não sabia nem o que ensinar. E a vida dele não era penosa de muito trabalhar, pois tinha propriedades, esposa amorosa... Vivia uma vida de abundância material quando começou a refletir sobre o devido da vida.
Olhava para a vida como aquele que foge de uma fera, se joga em um poço, mas não desce porque há um dragão no fundo. Agarra-se a uns galhos. Logo vê que ratos roem esses galhos, que logo vão se romper. Ah, mas há um pouco de mel nos galhos, e é possível lamber um pouco. A ilustração mostra o que Tolstoi sentia: está encurralado nesta vida, prestes a ser estraçalhado.
A partir do que aprendeu e do meio onde vivia, concluia apenas que não havia sentido algum... a vida era apenas "crueldade e absurdo". E isso tirou-lhe a vontade de viver. Na verdade, tirou-lhe o desejo de qualquer outra coisa. Não tinha interesse em nada, pois não sabia a finalidade de nada. Por que trabalhar? Por que educar os filhos? Se nada tem sentido, por que fazer qualquer coisa? Por que viver, afinal, se tudo irá acabar, ser esquecido e aniquilado?
Então passou a procurar nas ciências exatas e na Filosofia a resposta para o sentido da vida. As primeiras não faziam essa pergunta, a última, sim, mas, para ele, chegavam à mesma conclusão que ele. Buscou entre os sábios uma resposta, mas não se satisfez com as alternativas.
Mas então o que fazia a maioria das pessoas viver uma vida cheia de sentido, quando ele concluia que não havia nenhum? O que ele descobriu, principalmente entre as pessoas mais simples, trabalhadoras, era a fé era o sentido da vida humana. "Se o homem vive, ele acredita em alguma coisa. Se não acreditasse que é preciso viver para alguma coisa, ele não viveria". O problema era que Tolstói via a fé como algo totalmente irracional, e os ensinos e práticas do cristianismo como coisas falsas e impossíveis.
Tolstói conta, então, seu itinerário, cheio de obstáculos, em direção a fé. Ora acreditava, ora desacreditava. Entre os obstáculos que enfrentou podemos citar: a vida dos crentes em seu círculo contradizendo a fé que professavam, a possibilidade de se relacionar com Deus, as divisões da cristandade, os relatos de milagres...
O desenrolar de seus conflitos teológicos ficaram para outra obra, mas é interessante mencionar como ele percebeu que quanto mais conhecia Deus, mais ele vivia. Quando desacreditava, começava a morrer. Concluiu consigo que "conhecer Deus e viver é a mesma coisa. Deus é vida".