spoiler visualizarBernardoSG 18/08/2021
"Tudo o que vi e vivi como médico legista" se aplicaria mais
[CONTÉM SPOILERS LEVES]
Quando escolhi esse livro, a sinopse me deixou com a impressão de que seria um livro tal qual o ?Confissões do Crematório?, onde conheceríamos mais sobre o modo que aquela morte aconteceu através das marcas percebidas pelo autor do livro, um médico forense. E isso foi um ponto positivo, já que esse outro livro foi uma excelente e agradável leitura. Aqui, a experiência foi bem diferente.
Primeiro, os capitulos falam mais da vida do indivíduo em questão do que o que aconteceu com ele até ele chegar ali, na fria mesa do necrotério. Tudo isso, provavelmente, como uma forma de contextualizar e humanizar o que o Vincent chama de ?carcaça? (porque ?cadaver? é um termo feio - e eu concordo). Há também desdobramentos jurídicos em alguns dos casos, mas os termos são bem ?tribunal para leigos?, então dá pra entender. No geral, a leitura é até agradável. O livro é bem escrito, a narrativa segue uma lógica e é fácil entender o que está acontecendo.
Mas pra quem esperava outra coisa, o começo é triste. Até engatar na leitura, superando que ?ok, não era isso que eu esperava?, é preciso primeiro passar por cima das várias e incansáveis auto apreciações do autor; do racismo velado (não que o autor seja ativamente racista, mas ?não enxerga?(?) o racismo em situações óbvias); detalhes em excesso sobre a vida do indivíduo citado, com poucas páginas dedicadas à necropsia.
Há todo um capítulo dedicado à vida do autor, com ele fazendo a auto promoção e vendendo todo o tipo de peixe que dá pra imaginar. Todas as pessoas citadas nos capítulos são sempre os melhores e maiores especilistas da área, principalmente se tiver alguma relação com ele - pai dele, ex-chefe, ex-mentor, ex-professor, etc. Ele não faz questão nenhuma de esconder ou amenizar isso.
Mas, como eu disse, a leitura é boa. Passando por esses perrengues e entendendo do que se trata o livro, começa a ficar interessante. Ilustres celebridades desconhecidas, como a enfermeira que inspirou a Annie Wilkes do livro Misery, de Stephen King (que já falei sobre), aparecem por lá. O capítulo final é dedicado à Van Gogh, cuja morte, segundo o DiMaio, foi indiscutivelmente um homicídio. E lá ele detalha os motivos para tal crença.
No geral, levando em conta que o cara é realmente um expert nessas coisas, a leitura trás detalhes interessantes pra nós, leigos, com o quê exatamente ele trabalha, o que se vê numa necropsia e tudo mais. No fim, a sinopse cumpre o que promete nesse aspecto, ?sem o inconveniente cheiro do formol? (Sinopse).