nayanebrito 06/12/2020Os mortos não devem nadaNevernight #1 | Jay Kristoff
"Quanto mais brilhante a luz, mais profunda a sombra."
Nevernight, uma das fantasias dark mais aclamadas por aqui, se não a mais aclamada, foi uma leitura de altos e baixos. Mia Corvere, a protagonista da história, tem 16 anos e possui um desejo bem claro: vingança. A construção, a base de uma assassina, gira em torno da personalidade, o que Mia tem de sobra. Antes de mais nada, esse é um livro adulto. A narrativa, mortes, sexo, e por aí vai.
Existe muita problemática em torno da sexualização da protagonista, mas neste cenário estamos falando de uma assassina aos 16 anos. Aqui não há regras, padrões, conceitos, leis que determinem o certo e o errado. Iremos acompanhar a Mia descobrir e aflorar sua sexualidade muito jovem. Se isso lhe causa incômodo, não leia esse livro e outros do gênero, porque isso é frequente.
Quando soube que esse livro teria várias notas de rodapé, achei que não iria funcionar para mim. Primeiro: porque isso interfere no meu ritmo de leitura; segundo: geralmente são coisas que não agregam à história; terceiro: torna difícil ler a todo tempo coisas aleatórias. Só que essas notas de rodapé atuam como um segundo narrador, o que ficou bem interessante, uma vez que em certo ponto, passei a procurar por elas cada vez mais esperando uma explicação sobre determinado termo ou o que está por trás daquela história.
A escrita do autor não é "enfeitada" ou floreada, o que é comum no gênero, já que estamos falando de assassinos, sangue e muita morte. Porém, quando passa da metade do livro, achei que ele quis causar demais, usando termos "crus" para causar uma impressão que ele não conseguiu com a história. Isso é algo que não funciona com todas as pessoas, e eu sou uma delas.
"Às vezes a fraqueza é uma arma. Se você for inteligente o bastante para usá-la."
O universo é bem construído, a atmosfera é palpável. É bem dark mesmo. Ele também não tem receio de matar personagens, mais um ponto. A cidade que é base da história é condizente, e como eu falei, a atmosfera é dark, sombria, te leva pra dentro do ambiente. Se um homicídio acontecer, o autor não vai poupar os detalhes. Vai dizer o sentimento, a sensação. O autor usou de um artifício (figura) para criar uma relação mais próxima com a Mia, que depois de um tempo ficou extremamente cansativo.
A construção-base de um assassino é algo que geralmente me incomoda. Tem um costume de ser idealizado e forçado demais, um ser impiedoso, que mata todo mundo, sem piedade, não se importa com ninguém, etc e etc.
A Mia tem uma personalidade forte e de presença, não é ofuscada por outros personagens e guiada pelos próprios motivos, mas aí entra o que falei antes: a personalidade forçada. Não funciona para mim. Achei parecido com "Prince Of Thorns" do Mark Lawrence, que inclusive, foi inspiração para o Jay Kristoff. É óbvio que se você gosta dos elementos que constroem um assassino (não um bom assassino, na minha opinião) vai curtir todas essas características, mas não funciona para mim.
O elemento da religião eu gostei, porque gosto desse tipo de abordagem, mas não achei criativo os nomes, conceitos empregados. Entretanto, a atmosfera, o mistério e outras coisas foram legais e funcionaram bem.
"Mas acreditem em mim, há destinos piores do que a morte. E nós conhecemos todos eles."