Alle_Marques 12/05/2021
“Leto, o Imperador, e O Verme que é Deus.”
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[...] O Verme é Deus. Leto vive no colo de Deus [...]
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É sem dúvidas o mais difícil até agora, a leitura é muitas vezes confusa e complexa, as tramas e diálogos são filosóficos, complicadas e difíceis de entender, mas isso se dá justamente por causa da figura central do livro: O imperador-Deus Leto II Atreides. Leto é, sem exagero nenhum, o maior filosofo, pensador e sábio que o mundo já viu, e incorporar um personagem assim em um livro é uma ideia arriscada, até mesmo em um livro como os da saga de Duna, quando se trata de um Deus, ou a coisa mais próxima que tenhamos de um, dar a esse personagem um ponto de vista é quase uma ideia perigosa, tanto pelo desenvolvimento da trama quanto pelo contexto geral, até porquê, como conspirar contra um ser que, teoricamente, sabe de tudo?
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“— Um homem sábio entre meus antepassados... na verdade eu fui essa pessoa, sabia? Compreende que não há estranhos no meu passado?”
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Os primeiros três volumes da saga tratam quase que exclusivamente de temas como política, religião e ecologia, fez isso de maneira brilhante e constante, porém ainda conseguiu entregar cenas e diálogos memoráveis e incríveis, enquanto esse quarto volume, embora as vezes aborde os mesmos temas, faz isso superficialmente e foca mais em temas filosóficos e abstratos, a leitura é por muitas vezes cansativa, as cenas de ação são poucas e os momentos realmente memoráveis escassos, mas o que o livro perde em ações, ganha em diálogos, os personagens também deixam a desejar, Leto e Moneo estão bem, são bem trabalhados e bem desenvolvidos, mas são os únicos, Duncan e Siona se tornam mais insuportáveis a cada página lida, Duncan é reduzido ao estereótipo do ‘guerreiro machão com a mente fechada’ e passa o livro quase todo envolto em seus preconceitos e egoísmos, Siona, por sua vez, é porcamente desenvolvida, suas atitudes parecem mais com as de uma garota mimada que se rebela contra o sistema e as autoridades apenas por tédio ou falta do que fazer, do que por real necessidade, o livro não apresenta quase nenhum motivo plausível para ela fazer o que faz, e os que apresentam não são desenvolvidos o suficiente para dar a personagem a profundidade que ela merece, sobre Hwi Noree é difícil comentar, sua importância na historia é inquestionável, mas sua participação é mal trabalhada, e na sua própria personalidade e ponto de vista faltam camadas, gostaria de ter visto mais das oradoras peixes, suas camadas, treinamentos, doutrinas, etc , ainda que esse seja um péssimo nome para um exército dessa magnitude, e um ponto de vista do povo comum também seria bem-vindo, coisa que anda em falta em todos os livros até agora.
Além disso o livro traz à tona questões problemáticas, algumas delas que já haviam aparecido no primeiro livro, mas nesse ganha ainda mais forma e força, entre ela a sutil e incomoda homofobia do Frank Herbert, que além de incomodar, diminui não só o próprio volume, mas também a saga como um todo.
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[...] — Senhor, eu não...
— E difícil de entender, eu sei. Morrerei quatro mortes — a morte da carne, a morte da alma, a morte do mito e a morte da razão. E todas essas mortes contêm a semente da ressurreição.
— Vai retornar dos...
— As sementes retornarão.
— E, quando tiver partido, que será da sua religião?
— Todas as religiões são apenas uma única comunhão. O espectro permanece contínuo dentro do Caminho Dourado. Apenas acontece que os seres humanos vêem primeiro uma parte e depois outra. As ilusões podem ser chamadas de acidentes dos sentidos.
— As pessoas ainda o adorarão — disse ela.
— Sim.
— Mas quando o sempre terminar restará apenas a cólera — ela disse. Haverá apenas a negação. E alguns dirão que o Senhor foi apenas um tirano comum.
— Uma fraude — concordou ele. [...]
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