Vênus 13/01/2023
?Pouco havia restado, fossem homens ou animais?
Comprei o livro pra UERJ, mas não tinha lido até então porque a prova foi alterada em função da pandemia. Não tinha visto nada do livro até então.
Achei uma introdução bem interessante, situando o leitor aos poucos à insanidade e ao sadismo de Melquíades, à revolta de Pablo, resignação de Valdênio, obediência cega de Taborda e ao intrigante Bronco Gil.
?Existe algo de errado com o lugar, com a estranha quietude e a aparente falta de perigo?.
Nenhuma das informações quanto às caçadas é trazida de forma direta, portanto, a desconfiança vai se desenvolvendo até que a autora traz a ?medida socioeducativa? de Melquíades da perspectiva de Bronco Gil. Para mim, foi um dos pontos fortes pois mostra que isso ocorreu também com os prisioneiros que foram levados para a Colônia sem saber o que esperar até chegarem a realização. ?Entendeu que não foi enviado para este lugar para concluir sua pena, mas sim para ser executado.?
?O confinamento de homens assemelha-se a um curral de animais. O gado é abatido para se transformar em alimento; os homens, por sua vez, são abatidos para deixarem de existir?. Ao longo do enredo, o livro traz reflexões importantes quanto ao confinamento, ao sistema penal e aos mecanismos de poder que se perpetuam através de brutalidades que fingimos não ver ou justificamos com a culpabilização da vítima, atribuindo inferioridade à essa devido a seus delitos anteriores.
O único ponto que eu considero negativo é a falta de aprofundamento dos personagens; não ficamos sabendo o delito cometido por cada um deles que os levou para lá enquanto prisioneiros e muito pouco sobre Melquíades e Talborda.
?Não é um lugar de recuperação ou coisa que o valha, é um curral para se amontoarem os indesejados, muito semelhante aos espaços destinados às montanhas de lixo, que ninguém quer lembrar que existe, ver ou sentir seus odores?
O desfecho, embora doloroso e intrigante, embora alguns leitores o considerem apressado ou mal elaborado é extremamente real. Afinal, os poucos que saem do sistema e conseguem se reinserir no mercado de trabalho, tem a violação de seus direitos ignorados sem qualquer reparação estatal ou comoção social. A sociedade, perpetua o estigma por trás do mecanismo penal e ignora suas consequências na vida de indivíduos como Bronco Gil.