Nina 28/02/2018Durante muitos anos ouvi a mídia taxando os anos 80 como brega e de mau gosto. Tudo daquela época era considerado cafona: as pessoas, a moda, as músicas; e por isso era muito comum que esses elementos acabassem ridicularizados. Mas nos últimos anos as coisas mudaram um pouco, especialmente depois do sucesso de Stranger Things, Dark e do remake de It. Eu particularmente gosto muito dessa onda de nostalgia, porque eu estava lá nos anos 80 e vivi todas essas coisas, e, apesar de concordar que não éramos nada bonitos, foram anos muito felizes! E foi nessa onda de nostalgia dos anos 80 que Fortaleza Impossível chegou em minhas mãos.
Estamos no ano de 1987 e Billy Marvin está no auge dos seus 14 anos, e não é nada popular na escola. Ele tem dois amigos inseparáveis, Alf e Clark, e juntos eles formam um trio de nerds desengonçados e excluídos. Mesmo não namorando, eles são fissurados no sexo feminino e a grande musa deles é a apresentadora da Roda da Fortuna Vanna White. Então imaginem o quanto eles não surtaram ao saber que Vanna estava na capa da revista Playboy! Eles precisam ter essa revista, mas como são menores de idade não podem comprar.
Eles começam a bolar planos mirabolantes para conseguir a revista, alguns bem ousados, outros bem engraçados, mas nenhum funciona, e é aí que eles conhecem um garoto mais velho que decide ajudar. Ele já trabalhou na banca e sugere que um dos meninos se aproxime de Mary Zelinsk, a filha do dono da banca, e a missão fica para Billy.
Billy se aproxima de Mary com o objetivo de conseguir a revista para os amigos, mas logo ele percebe que os dois compartilham da mesma paixão: a programação. Mary convida Billy para participar de um concurso de jogos digitais, em que o prêmio é um computador novinho! Enquanto se lançam elaboração do jogo Fortaleza Impossível, Billy percebe que Mary é uma garota incrível e vai ser ver dividido entre a nova amiga e os antigos.
Eu sabia que estava acontecendo algo extraordinário e, embora não soubesse que nome lhe dar, eu jamais deixaria que Alf ou Clark estragassem isso.
Eu gostei muito de ler esse livro! Primeiro por causa da narrativa super envolvente de Jason Rekulak, vocês não imaginam o quanto ele conseguiu me prender na história. Os personagens são muito reais e alguns são bem engraçados, gargalhei várias vezes lendo! Segundo por causa daquela nostalgia que falei no início da resenha. Em 1987 eu tinha 10 anos e vivi muito do que Billy descreve: os computadores, os jogos, a internet. Assoprei fita do Nintendo, aluguei vídeo cassete na locadora, usei o MS-DOS, entre tantas outras coisas e ler esse livro me deu uma saudade enorme da minha infância.
Por outro lado, eu não conseguia parar de pensar no quanto as crianças de hoje são diferentes das dos anos 80. Naquela época os meninos se matavam por uma Playboy e hoje ninguém nem liga mais para revista, eles têm acesso a coisas bem mais picantes no próprio celular, sem precisar criar planos mirabolantes para isso. Qualquer um tem acesso a jogos, e naquela época nós morríamos de inveja de quem tinha um Nintendo ou um Atari e juntava uma penca de moleques para jogar na casa do amiguinho rico, kkkkk.
Entretanto, tiveram algumas coisas que me incomodaram bastante durante a leitura. Os meninos fazem comentários extremamente preconceituosos e gordofóbicos, especialmente para Mary, e em nenhum momento eles parecem adquirir a noção do quanto estão errados. Sei que o bullying é bem recente e que naquela época nós achávamos essas brincadeiras até bem naturais, mas não há razão para se reforçar um mau exemplo né? Mas por outro lado eu achei interessante a oportunidade de observar o quanto melhoramos nesse quesito de lá para cá e perceber como é importante o combate ao bullying. Outro ponto que me incomodou foi o desfecho do livro, os meninos acabam fazendo uma escolha muito errada e em nenhum momento eles puderam se arrepender pelo que fizeram ou aprender com isso. O autor tirou um segredo da manga e tudo se resolveu quase magicamente.
Mas mesmo com essas questões, ainda posso dizer que minha experiência com o livro foi super positiva e não deixo que recomendar o livro. Ele é leve, divertido e, se você for um pouquinho mais velho como eu, vai te fazer sentir uma saudade enorme daquela época e, se você for da turma mais nova, vai ter a oportunidade de conhecer melhor a década de 80. Ah, e pesquisando eu descobri que a tal Playboy com a Vanna White na capa realmente existiu e ela está na mesma pose descrita no livro. E o autor também disponibilizou jogo Fortaleza Impossível desenvolvido por Billy e Mary
site:
http://www.quemlesabeporque.com/2018/02/fortaleza-impossivel-jason-rekulak.html