Silvana 24/07/2020
Na aristocracia inglesa os títulos são passados de pai para filho. O filho homem mais velho herda não somente o título, mas as propriedades e riquezas que a família venha a ter. Os outros filho ou contam com a caridade do irmão ou seguem alguma carreira como a militar, a sacerdotal ou a advocacia. Essa última foi a escolhida por George Radford. E seu filho Oliver desde pequeno já demonstra querer seguir os passos do pai. Em vez de brincar com seus primos e amigos ele prefere ficar com a cara enfiada em um livro, o que lhe rendeu o apelido de "corvo". Seus únicos amigos no colégio são Clevedon e Longmore, que parecem ser tão excluídos quanto Robert. E é através deles que Robert conhece Lady Clara Fairfax, irmã de Longmore que com seus nove anos já demonstra ter mais cérebro que muitas garotas mais velhas que ela. E no único encontro entre os dois Clara acaba com um dente lascado ao defender Radford de seu primo.
Mas essa lasca no dente não tira nada da beleza extraordinária de Clara, que é considerada a mulher mais linda de Londres e quem sabe até da Inglaterra. No alto dos seus vinte e dois anos Clara recebe uma proposta de casamento praticamente toda semana, as vezes até duas. Mas Clara ainda não aceitou nenhuma porque quer se casar com alguém que veja além de sua aparência. Uma vez ela quase foi obrigada a se casar com um vigarista, mas foi salva pelas irmãs Noirot, donas da Maison Noirot e hoje as irmãs contam com sua gratidão. Por isso sempre que pode Clara ajuda com a Sociedade das Costureiras para a Educação de Mulheres Desafortunadas, uma instituição criada pelas irmãs para dar uma profissão as mulheres que por um motivo ou outro são rejeitadas pela sociedade.
E quando uma dessas mulheres pede a ajuda de Clara para encontrar seu irmão mais novo que está metido com uma gangue, os caminhos de Clara e Radford voltam a se cruzar, já que ele é um advogado de renome reconhecido por ajudar os menos favorecidos. A princípio Radford nega a ajuda por achar que não tem nada a ser feito. E também ele está preocupado com outro assunto, porque justo ele pode vir a ser o próximo duque de Malvern Mas quando ele fica sabendo que Clara esteve envolvida em um incidente com um dos piores jovens do submundo, ele decide intervir. Os dois conseguem salvar a criança, mas acabam fazendo um inimigo que vai fazer de tudo para se vingar dos dois. E Lady Clara fica doente e por sentir que a culpa é sua, Radford insiste em cuidar dela. E quanto mais tempo passam juntos mais eles se dão conta de que o amor não respeita classe social e logo os dois estão apaixonados.
“— Eu não teria feito dessa maneira
— Claro que não — disse ela. — Você é homem. Pode agir com mais liberdade. Eu estou amarrada por uma camisa de força de regras.”
Esse livro é considerado o quarto da série As Modistas, mas eu achei que é uma trilogia e esse um spin-off da história. As três irmãs modistas, apesar de serem citadas, nem aparecem nesse livro. Acho que esse quarto livro foi mais um presente para os fãs, e eu me incluo nessa, que queriam ler a história da Clara já que ela é uma presença constante na trilogia e se dá mal principalmente nos dois primeiros livros. E mais um motivo para eu achar que o livro não faz parte da trilogia é que a história muda completamente nesse livro, o foco é outro e mais parece um livro policial de época do que um romance. Tem romance sim, aliás um que fez meu coração derreter, mas a maior parte do tempo é ação e até um certo suspense.
Recomendo que esse livro seja lido somente depois de ter lido os outros três. Como disse a Clara participa ativamente das outras histórias. No primeiro ela é praticamente abandonada no altar por seu noivo que se apaixona por uma das modistas. No segundo ela se deixa envolver por um canalha da pior espécie e quase tem sua reputação arruinada. E no terceiro podemos ver que apesar de ter milhares de pretendentes ao seus pés, Clara praticamente desistiu do casamento. E só poderia mudar de ideia com alguém tão diferente dela e de todos que pediam sua mão e esse alguém é Radford. Eles são água e vinho, mas como dizem, os opostos se atraem. E isso foi o que deixou o romance entre eles gostoso de ler. Radford tratava Clara como uma igual, ele se recusava a tratar ela diferente por ser uma Lady e foi isso que conquistou Clara porque isso era tudo o que ela sempre quis.
Uma coisa que raramente vejo em um romance de época e que a autora mostrou bem nesse, foi a parte pobre da sociedade. A forma como eles viviam, as doenças, os ladrões, as dificuldades, tudo por não terem nascidos nobres. E a forma como os nobres fingem não ver que existe essa parte da cidade. Mas não Clara. Ela ajuda a quem precisa e faz o que está ao seu alcance e o que não está ela convence alguém a fazer por ela. E esse foi meu problema com ela e com o livro, o que até me fez tirar uma estrela da nota. Achei ela muito inconsequente. Não sei se por ter sido criada protegida, ela não conseguia ver os perigos que a cercavam. Acabou metida em várias confusões e quase morreu só por ser teimosa e sair fazendo tudo o que dava na telha.
Sou feminista, mas não é por querer meus direitos reconhecido que devo ser burra e tentar provar algo que eu nunca faria em sã consciência, e só estou fazendo para mostrar que posso. Não preciso levar um tiro ou algo pior só porque foi um homem que me disse que não saísse da carruagem durante uma batida policial. Acho que o bom senso sempre. Por isso tive uma relação de amor e ódio com Clara. Radford também me enervou em alguns momentos, mas dentre os protagonistas dessa "série", ele foi o que mais gostei. A capa está tão linda quanto as outras, mas assim como as outras não condiz com a protagonista. Enfim, é uma série que recomendo para quem gosta do gênero, mas ainda acho o livro O Príncipe dos Canalhas o melhor da autora.
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