Nicolly RS 02/07/2023"They're just husbands. I'm Evelyn Hugo"Acho que não tem frase melhor para descrever esse livro. Comecei a leitura já sabendo algumas coisas da história, mas nada me preparou para o que Evelyn Hugo tinha a apresentar. Eu sou um pouco suspeita para falar, mas livros com representatividade bi tem todo o meu coração ??? Não preciso elogiar também a construção da personagem, a Taylor tem um talento inigualável nesse quesito.
Toda a trajetória da Evelyn é majoritariamente solitário e dolorido de acompanhar. Desde muito cedo ela já precisa lidar com o assédio e dificuldades por ser mulher em uma sociedade ainda mais misógina do que a que vivemos hoje. Ao longo de seu crescimento, ela cria uma relação completamente distorcida com seu corpo e sua própria sexualidade. Ela usa o que tem em seu benefício para se libertar da vida que consegue ver projetada para si mesma, se não começar a agir por conta própria. Com isso, tendo apenas seu corpo e sua astúcia, ela vai criando conexões e sempre se coloca no local certo em busca da opotunidade perfeita (100% mastermind, Evelyn andou pra que a Taylor pudesse correr ??).
Cada capítulo do livro tem o nome de um dos seus sete maridos, mas nenhum consegue roubar seu protagonismo ao longo da história. Eles servem como meros divisores temporais enquanto acompanhamos mais e mais da sua história ? e que história viciante! Depois que engatamos na trama de sua vida é quase impossível largar o livro. Vemos aos poucos nossa protagonista se encantar e desencantar com os homens que entram em sua vida, manipular a mídia e os telespectadores com a imagem que melhor lhe cai, casar estrategicamente um certo número de vezes e se descobrir uma mulher bi em plena década de 50, quando o termo mal era reconhecido.
A construção de sua sexualidade começa de maneira completamente conturbada já nos primeiros anos de sua adolescência, e permanece assim por décadas ainda durante o início de sua carreira e ascensão em Hollywood. Ela só se descobre capaz de se apaixonar e sentir desejo real no seu relacionamento com Don ? seu segundo marido. Depois da grande desilusão que o comportamento agressivo dele lhe causa, ela começa a perceber que seus sentimentos por Celia estão um pouco além de apenas uma amizade forte. Ela não compreende de começo porque se sente desta maneira, e quando descobre que Celia é lésbica (o que acontece no mesmo momento em que ela descobre que o marido a trai), ela se deixa levar pelos sentimentos que vinha reprimindo, e se permite descobrir aos poucos o que eles significam.
Ao longo dos anos seguintes, vemos a relação delas florescer, balançar, amadurecer e desmoronar ? numa montanha-russa incessante. Ambas lutam para conseguirem permanecer juntas, mas elas possuem visões distintas de como lidar com a sua relação. Evelyn viveu uma realidade difícil, e precisou batalhar muito pelo que conquistou; ela tem plena noção da ideia que a sociedadetem de pessoas como elas, e luta a cada dia para manter essa pequena utopia em que vivem em segurança. Celia veio de uma realidade completamente diferente, e seus obstáculos não foram os mesmos que os de Eve. Ela se sente insegura pelo fato de Evelyn poder se apaixonar por homens e não suporta precisar esconder sua relação com a atriz, vivendo sem deixar rastros do que sentem uma pela outra.
Esses constantes atritos e inseguranças levam elas a se separar mais de uma vez. Evelyn se casa diversas vezes mas apenas com Celia ela consegue fugir da personagem que criou para Hollywood e ser ela mesma. Apenas com ela consegue se sentir mais do que um troféu ou um corpo perfeito. Ela se frustra com os homens que se relaciona, e não consegue ver uma razão para se arriscar com uma mulher que não seja Celia. Nesses momentos, quem sempre está lá para segurar a sua mão é Harry, o produtor que a lançou na carreira de atriz e vem sendo seu maior amigo e porto seguro por toda a vida.
O final solitário dela, vendo todos aqueles que amou sendo pouco a pouco levados pela morte foi triste demais de ler, e destruiu um pedaço de mim.
"You imagine a world where the two of you can go out to dinner together on a Saturday night and no one thinks twice about it. It makes you want to cry, the simplicity of it, the smallness of it. You have worked so hard for a life so grand. And now all you want are the smallest freedoms."