Lopes 20/07/2018
| A prova do enredo |
Nada do que eu escrever aqui será novo ou interessante sobre "A história do novo sobrenome", de Elena Ferrante. Todas as leituras e releituras já provaram o poder sedutor da prosa da autora italiana. O contraponto também é importante, ressalvas quanto a linguagem ou enredo aparecem para controlar olhares perdidos, como o meu. O roteiro é a princípio o que fisga o leitor, prende-o de ponta a ponta neste segundo volume da série napolitana. Do começo ao fim nos vemos diante de histórias contadas tão vertiginosamente que é complicado estabelecer outro vínculo com a obra além da história. As personagens parecem possuídas de embates, que a todo o instante mudam e desviam o rumo. O país é também um personagem, as mudanças culturais, a política dos bairros, a burguesia, tudo é retratado apenas como é, sem exposição além. Toda essa camada é densa de ultrapassar, é importante ir além da maestria do roteiro, penetrar na linguagem quase obscura de Ferrante é outro prazer que podemos ter. A simplicidade pode afastar neste caso, não tem atrativos a princípio. Ao não estabelecer características clássicas já existe uma mudança em nossas visões. O segredo que vi aqui foi sair do roteiro e ver que tudo parte de uma sobriedade na forma de escrever tão simples, que encanta ou afasta. É uma disputa entre a forma e o enredo, sendo um simples, vertical, e outro cheio de mudanças, ventanias, extremidades até na fúria constante dos rumos. Ferrante aqui nos encaminha para a prisão das páginas, contempla o leitor como uma rebelde, que lasca nosso cotidiano e sai pulando nas poças de chuva que ela cria. Não nos enganemos, as poças são maiores que nós visivelmente tolas, apenas.