regi @bookiane 07/07/2017
Acompanhar a tetralogia napolitana é como acompanhar uma novela ou seriado. A curiosidade: e o que mais pode acontecer agora? E fulano? E não sei mais quem?
São tantos relacionamentos abusivos que é impossível não parar para pensar na vida. O que existe entre Lenu e Lila não é normal, aquilo não é uma amizade normal. É muita mágoa, muita competição, muito ressentimento. Mas isso é basicamente a descrição do modo que elas foram criadas, do relacionamento dos pais, dos vizinhos, do ambiente miserável em que cresceram. A parte social do livro, que está sempre ali, é absurda. São mais claras através das reflexões da Lenu, por ser narradora e a pessoa que vê tudo por outra perspectiva, mesmo quando está inserida na vida do bairro, e também pela forma de ela querer se libertar daquilo, mas sempre se valendo do que aprendeu naquele estilo de vida para se defender, para se virar quando fora de Nápoles. A violência de uma forma geral e especialmente contra as mulheres, tornada quase “aceitável” (no contexto do livro) pois as meninas cresceram assistindo os pais espancando as mães, os pais e irmãos batendo nelas. Também acho maravilhoso ter aquela coisa meio mafiosa da família que controla o bairro financeiramente e na questão da força bruta também, que se você não está com eles está necessariamente contra eles, não existe meio termo.
Fica meio difícil dizer “personagem x me representa” porque todo mundo ali é muito extremo, muito apaixonado - no sentido de serem pessoas muito intensas. Mas gosto muito da construção da Lenu, o quanto ela quer se libertar de tudo que ela é, pois sua família, seu ambiente a fazem ser. Seu jeito de falar é uma de suas formas de se distanciar, sempre deixando claro quando alguém fala em dialeto e ela quase sempre faz questão de falar em italiano. Além da necessidade de se reinventar, esse grande objetivo pela qual ela tanto luta. E que na verdade meio que acontece com a Lila também, mas não de caso pensado, apenas chega a ela uma nova situação e ela a encara naturalmente. Só para trazer mais ressentimento nessa amizade, pois nessa luta para mudar, Lenu assume seu fingimento, um esforço de repetir o que os outros falam e fazem para ser aceita. Lila não precisa disso.
Amo romances de formação e fui arrebatada por esses italianos.