Meir 26/03/2022ANNE DE GREEN GABLES E A DOCE PROVIDÊNCIA"nunca houve um erro mais bem-aventurado do que aquele que a senhora Spencer cometeu? se é que aquilo foi mesmo um acaso. Eu não acredito que tenha sido isso. Foi a Providência, é lógico, porque o Todo Poderoso viu que precisávamos dela? só pode ter sido."
Um livro sobre uma órfã que é adotada "por engano" por dois irmãos solteirões do interior de Avonlea que, na verdade, queriam um menino. Mas Anne mostra que não existe enganos na história da humanidade quando se tem consciência da mão providencial invisível que tudo trabalha para o nosso bem.
Esse livro (essa história, porque falo da série também) me toca de diferentes maneiras. Primeiro, a primeira vez que ouvi falar dos livros eu tinha 15 anos (a idade de Anne em um período dos livros) e estava morando 6 meses em Coaldale, Alberta, no Canadá, uma vila realmente pacata, vivendo um sonho e aprendendo inglês. Toda a atmosfera e cultura canadense dessa história aquece meu coração, me fazendo lembrar de tudo o que eu vivi ali e da mão providencial do Senhor neste período da minha vida.
Também me move sobremaneira por seu estopim de narrativa ser a adoção. A adoção é um tema que eu creio que todos os cristãos deveriam estar totalmente envolvidos de maneira teórica e prática, incentivando e adotando crianças de todas as idades, sem preferências. A história de Anne mostra de uma forma mais leve, mas ainda assim, dolorida, o sentimento de se sentir rejeitado e não querido. Ao mesmo tempo, mostra a redenção que o amor de Deus pode trazer através de uma família, mesmo quebrada.
O tema do amadurecimento é outra coisa que percorre a história. Eu poderia dizer que esse é o tema central da narrativa: como Anne, uma órfã tagarela e emocionada se torna uma jovem mulher, ainda imaginativa, mas com um espírito manso e tranquilo, que realça cada vez mais a sua beleza. Pessoas que lêem muito na infância costumam ser muito emocionadas e falarem tudo o que pensam. Este é o defeito da Anne. Mas é incrível ver como ela não perde a sua essência, mas amadurece isso, controlando seus nervos e suas palavras através do exemplo de boas mulheres.
Eu imagino o motivo de não terem colocado a Sra. Allen na série, muito menos esse amadurecimento dos nervos da Anne. Não é conveniente a uma produtora que só pensa em lacrar ser fidedigna no aparecimento de uma esposa de pastor piedosa e que ensina Anne a ser uma verdadeira cristã, num relacionamento de discipulado. Também não é conveniente mostrar como a mocinha luta contra seus pecados e tendências a ponto de se tornar uma jovem madura, não negando a sua personalidade.
A verdade é que a série é, de fato, uma adaptação moderna de Anne de Green Gables (uma que a escritora deve estar se movendo em seu túmulo ao saber que tipo de coisas colocaram). É uma adaptação feminista e moderna que pende para um moralismo progressista (sim, existe isso) super pobre em narrativa. Simplesmente tem que haver Anne dançando de camisola para a lua e falando da mística feminina. Simplesmente tem que haver um amigo trans da Anne. Isso é simplesmente uma forçação de barra muito esperada da produtora. Eu não me surpreendo.
Eu não me surpreendo ao descobrir que este é um livro profundamente cristão sobre adoção, providência e redenção no sofrimento. É um livro sobre sacrifício e verdadeiro amor. Anne não se torna uma menina meramente ambiciosa e que quer conquistar o mundo por estar "à frente do seu tempo". Ela se torna bela, por dentro e por fora, capaz de se sacrificar em seus desejos pela sua família e comunidade.
Foi um dos livros mais belos que já li. Sem dúvida, relível.