Natália Tomazeli 16/01/2021A Longa Viagem a um Grande Amor Literário"De certa forma, a ideia de um estoque compartilhado de genes que flutuam através da galáxia é muito mais fácil de aceitar do que a noção assustadora de que talvez nenhum de nós tenha a capacidade intelectual de entender como a vida de fato funciona."
Eu tô pensando se vou escrever uma resenha sobre esse livro faz MESES porque simplesmente amei muito ele (foi o melhor livro que eu li em 2020) mas assim EU AMEI COM TODAS AS MINHAS FORÇAS, entrou pra minha lista de livros favoritos da vida. Então talvez essa resenha não tenha tanta credibilidade e vire só uma rasgação de seda eterna mas vamos tentar bolar um texto bacana...
Becky Chambers é uma autora filha de cientistas espaciais. Acho muito importante deixar isso aqui pq em primeiro lugar, a coerência científica REINA aqui! Apesar de a gente tá falando de uma ficção, ela consegue primorosamente seguir uma linha de raciocínio completamente alinhada com a fisica, química e principalmente com a biologia das espécies apresentadas no livro. Só o jeito com que ela estruturou a espécie da Sissix (os aandriskanos) já se percebe esse aspecto do livro. É um deleite total para uma amante da biologia (como eu) ler esse tipo de coisa, gente, eu lia gritando praticamente, de tanta assertividade por parte da autora! Claro, ela não se limita somente a isso! Além de criar um universo com mil possibilidades e com aquela riqueza de novos termos e detalhes, ela cria um núcleo de personagens que é simplesmente impossível de largar! Eu ficava o tempo todo querendo saber mais, conhecer cada história de vida e cada coisa a mais sobre as espécies de cada um. Até o personagem que vc le e pensa "kkkk personagem tosco" tem um desenvolvimento super elaborado, é impecável o trabalho da Becky.
Engraçado que talvez esse seja o livro de ficção científica que mais disserte sobre relações humanas dentre todos os vários que eu já li até hoje. Até mesmo quando a autora está se referindo a outras espécies que não seja a humana, temos um diálogo sobre dilemas culturais e éticos que de certo modo ocorrem na nossa espécie. Isso enriqueceu a obra de uma maneira espetacular porque é sutil tudo o que é posto nas entrelinhas dos acontecimentos, você se vê gostando de uma IA e se questionando sobre o que é uma vida, você se pega questionando o verdadeiro conceito de família e o verdadeiro significado de individualidade. Tudo através de criaturas não humanas!
Outra coisa legal é que por mais que a história traga mutos elementos científicos e nomes esquisitos pra quem não tá habituado com ficção científica, você não precisa necessariamente entender de fato tudo pra poder se sentir imerso na história. Eu lembro de achar totalmente irônico o fato de eu me sentir muito "em casa" lendo um livro que se passa em todos os lugares, menos no planeta terra rsrsrsEra uma sensação de pertencimento e conforto em um livro que traz uma proposta tão distante de tudo o que a gente conhece. Acredito ter me sentido assim também pq muitas das referências que a autora traz pra história, envolve praticamente todas as minhas coisas preferidas (filmes, animes, séries, etc). Essa ambiguidade talvez seja a característica que deixa esse livro autêntico e original dentro do gênero. Acho que ela deu uma certa inovada nesse quesito muito mais pelo jeito que ela apresenta as coisas do que de fato pelas temáticas em si (diversidade, família, sexualidade, gênero, raças, etc), que pra quem já le o gênero de ficção científica, já tá acostumado.
Acho que ao contrário de todo mundo (eu li esse livro em uma leitura coletiva e a maioria das pessoas falavam que esse é um livro pra todo mundo), não sei se recomendaria esse livro para todos, porque é uma história completamente sobre personagens. Não tem muitos plots e muito "aonde chegar", é mais a gente como leitor acompanhando um pouquinho da vida de todos os tripulantes da Andarilha. Pra mim, isso não atrapalhou nenhum pouco a leitura, mas talvez há quem ache o formato cansativo ou sem graça.
Óbvio que eu to louca pra ler o resto da série e reler mil vezes, vem aí!
"Não podemos nos culpar pelo que os nossos pais começaram. Às vezes, o melhor que podemos fazer é ir embora"