Bruno 30/04/2020
Tocante, uma leitura pra ser feita com calma
As Fúrias Invisíveis do Coração, esse calhamaço de quase 540 páginas, narra a vida de Cyril Avery do seu nascimento, em 1945 até os seus 70 anos, em 2015, com capítulos que avançam de sete em sete anos.
Acompanhar a trajetória inteira de um personagem exige, pra dizer o mínimo, uma conexão especial com esse. E, felizmente, o autor cria tal conexão com primazia; desde o primeiro capítulo, a vida de Cyril é apresentada ao leitor que se dispuser a encarar a obra, e aqueles que seguem até o fim criam por ele a mais profunda afeição.
Mas não espere que Cyril seja um herói. Ele, seus pais adotivos, seus pais biológicos, seus amigos e aqueles que cruzam seu caminho poderiam ser todos pessoas assustadoramente reais. E não há heróis ou vilões entre pessoas reais; a narrativa nos guia por um amontoado de personagens que tentam fazer o melhor para si e para os outros, mas que - como se espera de uma pessoa real - falham.
A habilidade de John Boyne em criar uma obra de excelência é digna de elogios, tanto quanto o trabalho incrível de tradução desse livro, que não peca em momento algum. A história alterna entre momentos trágicos e cômicos com uma leveza que tendo a pensar que nem mesmo seria apropriada, mas que encanta e apaixona.
O livro, mesmo que em seu decorrer tenda a nos fazer pensar o contrário, só traz esperança em seu final. Traz um sentimento de leveza e possibilidade de futuro que me enche de paz e - mesmo tendo terminado a leitura minutos antes de escrever essa resenha - saudade.
Já me sinto órfão de uma grande história de amor, sofrimento, dor, esperança, ressentimento, carinho... uma história de vida.