spoiler visualizarcatarina 01/07/2022
excepcional
Eu sou suspeita pra falar de Drummond, conheci suas poesias através do vestibular da fuvest e até hoje não vivo sem.
Quase 5 da manha e eu maravilhada com a poesia de Drummond, o quanto esse homem foi genial e importante na literatura e socidade atual. sem palavras.
Enfim, vim comentar sobre um dos meus poemas favoritos dessa coletânea maravilhosa, a poesia das sete faces.
Sempre entendi que ele se sentia deslocado, enquanto homem de reflexão, num mundo de encontros e desencontros pautados pelo desejo. Um anjo torto, que vive nas sombras. Isto é, desajustado e que vive a espiar o que acontece sob a luz, direto da escuridão, fora do campo de visibilidade dos outros.
Gauche é o tímido, canhestro, inseguro. (como eu)
Então ele descreve a dinâmica de como esses encontros ocorrem numa cidadezinha. Casas espiando, fofocas, homens que correm atrás de mulheres. Só há desejos e é isso que move as coisas. Não pode, com isso, haver metafísica (céu azul), pois há muitos desejos. O desencanto do mundo pela exposição à realidade. Já no meio urbano, tem ele mesmo vários encontros e desencontros. "Pernas" passam, vem e vão. Os olhos (sentidos) não dizem nada, mas o coração (alma) questiona por que tantas. Descreve-se como alguém simples, sério, de compleição não chamativa. Pergunta a Deus por que ele o deixou, só, neste mundo, sabendo que sua criatura, embora ciente, é fraca. Conclui que, embora o mundo seja vasto, mais vasto é seu coração (alma). E que se ele se chamasse Raimundo (nome comum, de pessoa comum, que não reflete a condição do mundo) seria uma rima (ele mesmo não questionaria a ordem das coisas e reproduziria o movimento desejante da vida, rimando com a natureza), mas não seria uma solução (não questionar, fazer-se de desapegado e viver segundo os desejos, não emancipam o homem da separação que existe entre ele e o mundo), quer dizer, não se cientificar e viver como se só houvesse isto aqui não soluciona o drama existencial posto, apenas promove uma adequação do homem animal ao seu meio natural. Por fim, o vemos fora do poema, já como poeta, sozinho, solucionando o problema da existência na arte que se propôs seguir, tomando um conhaque e observando a Lua.
A genialidade de se colocar dentro do poema e trazer uma reflexão sobre o seu "eu" me deixou perplexa.