Renata 06/05/2022
ENTRE IRMÃS
Originalmente publicado como A costureira e o cangaceiro, o romance foi cedido para produções de teledramaturgia, o que gerou, após o lançamento nas telas, a mudança do nome do livro.
A obra de Frances de Pontes Peebles tem uma escrita cativante e um enredo muito envolvente. Situada no Brasil dos anos 30 do século passado, em Pernambuco, relata a história de duas irmãs: Luzia e Emília. Órfãs, eram criadas pela tia, no interior pernambucano. Embora sem muitas perspectivas, tia Sofia tenta dar uma boa educação para as sobrinhas, que frequentaram escola, catequese e faziam curso de corte e costura. Mesmo com limitação, não passariam fome. Sabendo ler e escrever e tendo uma profissão, não estariam apenas à mercê da sorte.
As irmãs são muito unidas, embora tenham temperamentos completamente diferentes. Emília é sonhadora e romântica, dona de um bom gosto e senso de estética, faz planos para o futuro e tem o desejo de morar na capital. Luzia é reservada e calada, com um espírito prático, tem muita perspicácia. Ela sofrera um acidente quando criança, que a deixara com uma pequena limitação física e uma aparência em um dos membros que lhe originou um apelido, o qual ela detesta. Apesar de muito bonita, ela sabe que é rejeitada por essa deformação, o que não lhe traria oportunidades de casamento.
A cidade de Taquaritinga do Norte, no sertão, sofria com a seca e a falta de oportunidades, o que era muito comum em todo o nordeste brasileiro. Apenas as capitais apontavam possibilidades, o que gerava nas pessoas jovens vontade de se aventurarem longe de casa.
Taquaritinga é visitada por um grupo de cangaceiros da região e Luzia acaba integrando o bando chefiado por Antônio, vulgo Carcará. A costureira junta-se a eles sem expectativa nenhuma, fugindo da rejeição e do preconceito, sem saber o que lhe reservaria aquela escolha. Logo após a morte da tia e sem notícias da irmã, Emília também sai da cidade e vai morar em Recife, casada com um rapaz rico que aparecera em visita a um amigo.
Os destinos das irmãs não se cruzam mais, como linhas costuradas paralelamente que jamais se tocarão. No entanto, elas acompanham suas trajetórias por meio dos jornais recifenses. Uma encantada com a nova vida, tem um casamento de aparências e, apesar de todo conforto e requinte, não é feliz. A outra é visitada pelo amor, que a surpreende de uma forma nunca imaginada, mas vive sem conseguir fazer planos, sobrevivendo à caatinga um dia de cada vez.
Percebe-se que a autora fez um belo trabalho de pesquisa, pois retrata com talento o cangaço nordestino. Aborda a luta dos cangaceiros em oposição ao governo, seus hábitos na caatinga, sua rotina, a violência e os valores pelos quais lutavam, além disso, faz um panorama do momento político do Brasil: a época de Vargas, o voto feminino, a transformação social e a modernização de Recife e de outras capitais brasileiras, a construção da Transnordestina, a seca intensa da década de 30 que causou o êxodo dos retirantes para a cidade.
Como uma costura, essa trama é traçada com alinhavos e fios costurados, em zigue-zague e linhas retas, bordados e remendos. Uma obra que fica em nosso pensamento mesmo depois de finalizada a leitura.
Pensem num livro fascinante!!! Por ora, é para mim um dos melhores lidos em 2022!
É imperdível!
Recomendo demais!
Renata Saraiva @falo.leio.escrevo