Catharina.Mattavel 12/08/2020Um dos melhores do ano....As Alegrias da Maternidade foi o livro escolhido para a primeira leitura coletiva que organizei por aqui. Apesar de se mostrar um enredo promissor, não imaginava o tamanho impacto que Buchi Emecheta teria não só na minha consciência mas de todas as participantes. Fizemos algumas chamadas para expor todos os sentimentos e reflexões que a leitura nos causou, mas o sentimento que fica é que Buchi aborda tantos pontos acerca do "ser mulher" e da maternidade que poderíamos manter as chamadas todos os dias.
Nossa protagonista Nnu Ego é filha de um guerreiro igbo e quando foi enviada a capital nigeriana para ser esposa de um homem escolhido pelo pai, Nnu Ego se percebe como incompleta, já que não consegue engravidar de jeito nenhum. O sentimento de insuficiência na protagonista é tão grande que percebe-se nas primeiras páginas o que uma cultura violenta de opressão patriarcal desencadeia.
A história é ambientada no século XX, dentro de uma Nigéria colonial, entre Ibuza (comunidade igbo) e Lagos. Acompanhamos a trajetória de uma mulher que representa inúmeras no mundo inteiro, uma mulher que continua se deparando com a violência mesmo depois de ter cumprido seu "papel de mulher" colocando filhos no mundo. Quanto mais velha, mais solidão a maternidade compulsória reflete em Nnu Ego, seja como mãe ou esposa mais velha submissa.
Obedecendo valores tradicionais que inferioriza mulheres de todas as formas, nota-se os questionamentos que Nnu Ego e outras personagens começam a levantar. São momentos que nos dão esperança de haver mudanças, mas a opressão as dominam cada vez mais. Tudo isso em meio as consequências da colonização, de guerras e outros pontos históricos importantíssimos para o cenário do enredo.
Quando Buchi, com cinco filhos, sofre violências físicas e verbais constantemente, decide escrever essa obra de arte quase autobiográfica. Foi uma forma que encontrou de ter sua voz escutada finalmente, transformando-se em uma das grandes autoras de seu tempo e até atualmente, com enredos que demonstram a realidade de tradições ancestrais, patriarcalismo, machismo, sexismo e todas as formas de violência possíveis.
Queria poder falar muito mais sobre tudo que esta leitura oferece, mas não tenho capacidade de colocar em palavras a importância desta obra para quebra do imaginário idealizado e romantizado sobre a criação dos filhos e "as alegrias da maternidade".
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