As alegrias da maternidade

As alegrias da maternidade Buchi Emecheta
Buchi Emecheta




Resenhas - As Alegrias da Maternidade


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Bookster Pedro Pacifico 26/02/2020

As alegrias da maternidade, de Buchi Emecheta – Nota 9,5/10
Diferentemente do que o título dá a entender, não se trata de um livro sobre alegrias. A maternidade abordada por Emecheta, escritora nigeriana de incrível talento, também está longe daquele conceito idealizado sobre a criação dos filhos. O que encontramos nessa obra é a difícil vida de uma Nnu Ego nigeriana, nascida no interior do país e que é enviada para a capital para se casar com um homem que nem conhece.

Nnu Ego é filha de um grande líder da tribo em que nasceu. Acostumada com as tradições de seu povo, a personagem sofre um choque cultural ao chegar na capital da Nigéria e se deparar com a dura vida nas grandes cidades – fortemente influenciadas pelos colonizadores. A presença do contraste entre a identidade de cada povo africano e dos colonizadores é muito forte na obra. É triste identificar como a mentalidade do colonizador branco tenta silenciar os costumes e tradições de uma nação.

Além disso, a narrativa tem um grande enfoque na constante batalha de Nnu Ego para criar seus filhos em situações precárias e, em grande parte do tempo, completamente sozinha. Qual o papel da mulher na cultura africana? Porque ela deve suportar tantas responsabilidades e se submeter ao injusto crivo moral da sociedade?

Ao se colocar no lugar da protagonista, não há como terminar esse livro sem uma visão mais real e empática sobre a maternidade e sobre as discriminações que ela sofre apenas por ser mulher. Apesar de publicado em 1979, a abordagem da autora sobre temáticas sensíveis e de inegável relevância social é muito atual.

Ah, não dá para deixar de dizer que a escrita de Emecheta também é deliciosa, muito agradável de ler, daquelas que as páginas passam sem você se dar conta. Inclusive, a história da autora não diverge muito da escrita nessa obra. Prometida ao seu marido desde os 11, casou aos 16 anos. Foi vítima de um casamento violento e perturbado. Talvez seja por isso que a sua visão sobre as condições da mulher nigeriana é tão facilmente transmitida ao leitor, que compartilha das angústias da protagonista.

site: https://www.instagram.com/book.ster/
Becca 29/09/2020minha estante
Uma obra linda! Fico impressionada com as escritoras nigerianas! É muita mulher incrível! O livro ainda nos traz a dimensão da segunda guerra numa África colonial, em que a lógica ocidental e as tradições dos povos locais geram novas questões como a crianças de filhos dentro da lógica assalariada numa tradição de muitas crianças. É lindo e duro! Outra escritora que quero ler tudo, tudo ??


Carla 06/01/2021minha estante
Livro lindo, e impactante sobre uma realidade tão diversa, mas com um sentimento de maternidade tão concreta




Vania.Cristina 28/03/2024

Quanto vale uma mulher? E quanto vale uma tradição?
Minha terceira autora nigeriana lida. Acho que agora fui mais fundo, porque Buchi Emecheta nasceu na década de quarenta, escreveu antes de Chimamanda e Adébáyo.

O tema principal é comum às três: as condições de vida da mulher nigeriana.

Emecheta nesse livro, fala da época em que a Nigéria era colônia da Inglaterra. A história tem início em 1934, com nossa protagonista, Nnu Ego, vivendo na cidade de Lagos. Depois, a narrativa volta no tempo para contar de onde veio Nnu Ego, quem era seu pai e quem era sua mãe.

Eles viviam na cidade de Ibuza, na Nigéria Ocidental. Área rural onde o homem branco não conseguiu se adaptar, e onde vivia a etnia Igbó, seguindo suas tradições ancestrais.

O pai de Nnu Ego era um poderoso e rico chefe local, que vivia com conforto e fartura, entre suas esposas, amantes e escravas. A mãe de Nnu Ego era a amante favorita do chefe. Só não era sua esposa porque o pai dela também era chefe local e queria que a filha lhe desse um neto homem, que levasse seu nome e continuasse sua linhagem. Permitia que a filha fosse amante de quem quisesse, mas não esposa. Desse relacionamento nasceu uma menina, não um menino. Como não era do interesse do avô, a menina, chamada Nnu Ego, cresceu com o pai, mimada e protegida por ele.

Quando as mulheres igbós chegam à idade de casar são negociadas em troca de um dote. E assim Nnu Ego teve seu primeiro casamento. No entanto, ela não conseguiu engravidar e passou a ser desprezada pelo marido e pela sociedade. Considerada defeituosa porque não conseguia ser mãe. Para protegê-la, o pai desfez o casamento, devolveu o dote, e para manter a moça longe da língua ferina do povo, casou a filha com outro homem, que morava bem longe dali, na cidade de Lagos.

A cidade é totalmente diferente do ambiente que Nnu Ego conhecia: área urbana em franco crescimento, com comércio forte, localização estratégica, abrigava diferentes etnias africanas. E em Lagos, os colonizadores ingleses eram presentes e reinavam.

O novo marido de Nnu Ego chamava-se Nnaife, e trabalhava lavando as roupas dos patrões brancos. Era um dos empregados da mansão, no bairro construído pelos ingleses para os ingleses. Os trabalhadores e suas famílias viviam em pequenas moradias dentro do terreno do patrão, ao lado da casa principal.

Nnu Ego sofreu um choque cultural. Não conseguia compreender aquele mundo, não conseguia respeitar aquele marido submisso ao homem branco. Ela estava acostumada com o patriarcado igbó, que havia abolido a escravidão por determinação do governo inglês. Mas aquela vida sem honra e dignidade também não era escravidão?

Esse novo mundo a obrigou a frequentar a igreja cristã e a viver sob a lei dos ingleses. Mas em Lagos Nnu Ego engravidou, tornando-se uma mulher de valor, segundo suas próprias tradições. Na verdade, segundo as tradições de Lagos também. Esta nova sociedade também era patriarcal, nela as mulheres também só tinham valor servindo a pais e maridos, que, no caso, serviam a homens brancos.

Uma vez mãe, a vida de Nnu Ego realmente será plena? Seus filhos irão sobreviver naquele mundo colonial, em tempos de recessão e de guerra mundial? Eles irão seguir as tradições e corresponder às expectativas dos pais, como ela teve que fazer?

O livro nos apresenta muito sobre a cultura e a história da Nigéria. É uma perspectiva importante, muito diferente da nossa em alguns aspectos. E muito parecida com a nossa em outros.

Ele me fez pensar em várias coisas... Deixo aqui registrada uma delas (uma viagem bem pessoal):

Não há cultura imutável, não há tradição inabalável, todas fluem e se modificam, na maioria das vezes de forma lenta e gradual. Mas há períodos históricos e lugares onde as mudanças são bruscas. Nosso ímpeto é o da sobrevivência. Algumas pessoas são guerreiras, outras só se deixam levar. Poucas sabem fazer a leitura do mundo, dos contextos e dos momentos. A meu ver, sobreviver, lutar e ler o mundo, são formas de desenvolver a resiliência, a consciência de si mesmo e a consciência sobre o mundo.

Em alguns momentos do livro, Nnu Ego é uma força nobre, amorosa e guerreira. Em outros, ela está lutando para compreender o mundo e as mudanças, mas nem sempre consegue. É difícil e sofrido questionar os valores das próprias tradições.
debora-leao 28/03/2024minha estante
Empolguei para ler. Estou procurando histórias mais leves atualmente. Tem muita leitura boa na fila mas tudo fala de desgraça, trauma, opressão... Mas tbm não dá pra ler nada "bobo demais" pq não me prende. Essa leitura que vc resenhou me pareceu ser assim... É?


Vania.Cristina 29/03/2024minha estante
Debora, é uma leitura triste, porque é uma vida sofrida. Mas não é uma leitura com grandes gatilhos.


Vania.Cristina 29/03/2024minha estante
Não sei se dá pra descrever como uma leitura leve. Fica um gostinho amargo bo final, mas não tem violência desmedida, não tem plots. Não sei se é exatamente o que você está procurando, mas sei que pode gostar sim


Naiara 29/03/2024minha estante
tambem nao achei leve lendo nao, me interessei, mas acho que nao é a hora, tambem estou atraz de historias mais leves nao bobas.. ressaca literaria pega forte com certos livros :/


Vania.Cristina 29/03/2024minha estante
Naiara, é uma história bonita, que vale muito a pena ser lida e acho que você vai gostar. Pra sair da ressaca literária... talvez não funcione... difícil dizer....


Vania.Cristina 29/03/2024minha estante
Ainda sobre o papel da mulher no mundo, você já leu, Naiara, a tetralogia napolitana da Elena Ferrante? Li os dois primeiros livros e esse ano devo ler os dois ultimos. Talvez funcione melhor para sair da ressaca e é cheio de camadas.


Naiara 30/03/2024minha estante
nao li nao.. voce tem pdf dele?

quando diz "papel da mulher no mundo", quer dizer sobre as dores e a luta que temos? sobre os ciclos femininos? sobre o que quis dizer?


Vania.Cristina 30/03/2024minha estante
Infelizmente não tenho o PDF dele, Naiara. Tenho físico. No caso de Elena Ferrante, é a história de duas amigas. O primeiro livro é a infância, o segundo a juventude, o terceiro a idade madura e o quarto a velhice. Elas são amigas mas são competitivas uma com a outra. E fazem muita bobagem na vida. A infância se passa na Itália depois do fascismo de Mussolini e há muita violência no ar, dentro das famílias, muito machismo. A infância, elas passam num mesmo bairro, então o livro fala muito da comunidade, é bastante fofoca. Triste, mas não é deprê, a escrita é envolvente. Eu consegui ler um livro por ano, porque não tinha todos na mão. Mas a vontade é de ler tudo de uma vez. Os dois primeiros falam muito da luta das mulheres para viver, e os diferentes caminhos que escolhem. As oportunidades que aparecem e as que não aparecem. Coisas assim


Naiara 30/03/2024minha estante
obrigada, me deseje sorte, vou procurar eles


Vania.Cristina 30/03/2024minha estante
Boa sorte, Naiara! Espero que goste. Esse próximo mês devo começar o terceiro livro e vou postando aqui.




Gabi 24/02/2021

Doloroso!
Quais são as alegrias da maternidade pra você? Quais, você que ainda não é mãe mas deseja ser, acha que são?

Esse livro aborda uma história patriarcal onde a mulher só tem valor se procriar e tiver um filho homem, para honrar a família do marido e impor mais respeito a sua própria família.

Mas respeito é um sonho distante para as mulheres presentes nesse livro.

Um misto de sensações... um final arrebatador.

Não é uma leitura para todos, mas vale a pena lê-lo.
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Kira 08/07/2021

Incrível
"É mesmo, às vezes a vida podia ser tão brutal que as únicas coisas que a tornavam suportável eram os sonhos."

Que obra-prima!
Tocante, sensível e visceral.
Um retrato honesto sobre tantas chagas e sofrimentos.

Um livro sobre às raízes do colonialismo na Nigéria, repressão e apagamento da identidade de um povo.

"Não há nada que a gente possa fazer. Nós pertencemos aos britânicos, assim como pertencemos a Deus, e, como Deus, eles podem se apropriar de qualquer um de nós quando tiverem vontade."

Também sobre as estruturas de poder dominantes, o jugo sobre as mulheres.

"Os homens... a única coisa em que eles estavam interessados era em bebês homens para dar continuidade a seu nome. Mas por acaso uma mulher não precisava trazer ao mundo a mulher-bebê que mais tarde geraria os filhos? "Deus, quando você irá criar uma mulher que se sinta satisfeita com sua própria pessoa, um ser humano pleno, não o apêndice de alguém?."

"Só que quanto mais eu penso no assunto, mais me dou conta de que nós, mulheres, fixamos modelos impossíveis para nós mesmas. Que tornamos a vida intolerável umas para as outras. Não consigo corresponder a nossos modelos, esposa mais velha. Por isso preciso criar os meus próprios."

"Mas quem foi que escreveu a lei que nos proíbe de investir nossas esperanças em nossas filhas? Nós, mulheres, corroboramos essa lei mais que ninguém. Enquanto não mudarmos isso, este mundo continuará sendo um mundo de homens, mundo esse que as mulheres sempre ajudarão a construir ".

E claro, sobre "as alegrias da maternidade".

"Seu amor pelos filhos e seu sentimento de dever para com eles eram como as correntes que a mantinham em sua escravidão."

Nnu Ego que é única e ao mesmo tempo tão parte de nós, que conta sua história trágica até o derradeiro fim.

"Pobre Nnu Ego, mesmo na morte não lhe davam paz!"
Cassio Kendi 09/07/2021minha estante
Ótima resenha, adicionei aqui na minha lista para ler!


Kira 09/07/2021minha estante
Obrigada, Cassio.
Quando for ler se prepara que ele é bem lento e por ter muitos elementos culturais diferentes do nosso,( e não ter nota de rodapé) toda hora tu vai ter que ficar pesquisando as coisas no Google Hahaha
Mas é excelente!
Não recomendo comprar essa versão da TAG, além de ser cara é toda esfarelenta, vai estragar bem rapidinho.
Inclusive uma exceção, pois todas as outras edições da TAG que eu possuo são de ótima qualidade.


Cassio Kendi 11/07/2021minha estante
Legal, Kira, muito obrigado pelas recomendações! Pesquisei aqui na Amazon, gostei da capa da editora Dublinense, e está barato também.
E triste não ter nota de rodapé hahahah! Mas faz parte, vou levar isso em consideração quando for ler




Rafa 30/11/2021

O machismo em sua plenitude
A obra retrata uma cultura extremamente machista. À medida que somos provocados diante de comportamentos primitivos, a afeição com a protagonista vai aumentando. A certeza de que a história ali contada era comum a milhares de mulheres nos faz refletir sobre as diversas formas de desigualdade enraizadas.
Lara Aimee 06/12/2021minha estante
Que sensacional, marquei aqui!




Roberta 30/01/2022

Deixei ser levada.
Em As alegrias da maternidade imaginei encontrar outro tipo de leitura.

Foi uma grande ironia sobre o tema o que vi ao longo da história.

Provavelmente não o lerei novamente. Porém, valeu como mais um aprendizado sobre a visão de algumas pessoas sobre a tão idealizada maternidade?
Margô 19/02/2022minha estante
Li e gostei bastante. Gerou uma boa discussão no grupo de leitura Coletiva que participei!




Nadia 25/02/2024

Desafios da maternidade
Sem romantizar a maternidade mostrou as lutas, dores e frustrações, mas acima de tudo retratou uma mulher que se apresentou como a verdadeira líder de sua família, mesmo com todas as dificuldades e desafios de sua época.
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Luisa Jordana 19/03/2021

As Alegrias da Maternidade
Nnu Ego é uma mulher nigeriana igbo, da cidade de Ibuza. Nasceu filha de um grande líder africano, fruto de seu amor intenso com uma de suas amantes, uma jovem espirituosa e filha de outro grande líder. A narrativa se passa principalmente nas décadas de 30 e 40, um período marcado pelo paternalismo extremo na região habitada pela protagonista, especialmente nas tribos de povos nativos, como no caso dos igbos.
Ao atingir certa idade, espera-se de uma mulher que se torne esposa e mãe. Se uma mulher não é capaz de dar filhos ao seu marido e de se tornar esposa e mãe exemplares, é uma mulher fracassada e sem nenhum propósito. Mais do que tudo, Nnu Ego almeja atingir estas expectativas, por isso, quando não consegue dar filhos ao seu primeiro marido, se sente castigada e amaldiçoada. Quando é entregue ao seu segundo marido, um homem que nunca conheceu e que reside na cidade de Lagos, em uma realidade totalmente diferente da sua, a protagonista promete a si mesma que irá cumprir seus desígnios e irá se tornar mãe, mesmo às custas de sua própria felicidade. O que, além disso, uma mulher poderia almejar?
Esta foi, com certeza, uma leitura que me marcou além do que posso explicar em palavras. Acompanhar a vida e os sofrimentos de Nnu Ego foi desesperador e a escrita da autora é de uma profundidade de tirar o fôlego. Senti como se estivesse lendo o diário de alguém, os pensamentos secretos de uma mulher cuja vida não parece ser repleta de nada além de dificuldade e sofrimento. As reflexões que este livro traz são inúmeras, mas as que mais permearam meus pensamentos foram: O que significa ser mulher? O que eu almejo é fruto de minhas vontades ou de imposições sociais? Eu faço o que eu quero ou o que se espera de mim como mulher?
Marli.Ramires 23/04/2021minha estante
Acabei de ler. Final impactante. A autora não nos poupou. É reflexão do início ao fim.


Luisa Jordana 26/04/2021minha estante
Verdade! Demorei para digerir a leitura.




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Ingrid.Pardinho 06/05/2021

Dilacerante
Um livro espetacular e dolorido do início ao fim. Os sofrimentos e crises de Nnu Ego se tornam ainda mais brutais por representarem o que ainda acontece atualmente: mulheres sendo consideradas propriedades de seus maridos, resumidas ao papel de gerar descendentes. Recomendo esse livro a todos, sem exceção.
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Ari Phanie 13/08/2020

"Que maior honra pode haver para um mulher do que ser mãe?"
Cuidado, podem ter uns spoilers, meu anjo!




Eu não posso dizer que As Alegrias da Maternidade foi um livro que me proporcionou uma experiência agradável e significativa. Na realidade, ele é de uma de uma dureza sem fim que dói e deprime. E que também causa uma raiva enorme. Eu não precisei me pressionar a ler porque na verdade, a Emecheta tem uma forma de contar a história que envolve o leitor. Mas se eu soubesse o quanto me angustiaria essa leitura, teria deixado de lado. Mas esse é um problema meu e vou explicar o porquê.

Tradições são os filhos do patriarcado; nenhuma tradição foi criada em prol da mulher. Elas servem apenas para beneficiar os homens. E esse livro é todinho sobre tradições, desde o começo com uma escrava sendo morta para acompanhar sua falecida "dona" negra (isso foi chocante para mim) até a última página com uma mulher que não pode descansar nem depois de morta.

A história se passa na Nigéria no final da década de 20, início da década de 30, e acompanha Nnu Ego, filha amável e carinhosa de um poderoso líder de aldeia. Como tinha de ser, Nnu Ego se casa cedo, e sua única ambição na vida é ser mãe porque só assim, ela se torna mulher, e só assim ela honra seu marido e consegue o respeito de sua família. Mas o caminho é tortuoso para Nnu Ego, e novos arranjos a levam a Lagos, lugar muito diferente daquele a que ela estava acostumada, mas onde acaba por finalmente realizar aquilo que tanto queria: ser mãe.

As alegrias do título, no entanto, são tão efêmeras que nem parecem ter existido de fato. A vida de Nnu Ego é um mar de cansaço, solidão, aflição e miséria. Ela não tem nada seu, nem ela própria se considera sua. Todo o seu ser é do marido e dos filhos, e ela só existe para cuidar deles. Deus, como essa realidade foi extenuante pra mim. Durante muitas partes do livro, eu quis chorar de raiva. Nnu Ego, além de ser vítima do machismo estrutural, é também uma reprodutora dele porque assim foi criada para ser. Felizmente, Adaku (a outra esposa do seu marido) é um contraponto; mulher que sabe que toda a dureza da vida recaía sempre sobre as mulheres, e elas precisavam ser exatamente como os homens necessitavam que fossem.

“Pode ser que você tenha razão de novo, esposa mais velha. Só que quanto mais eu penso no assunto, mais me dou conta de que nós, mulheres, fixamos modelos impossíveis para nós mesmas. Que tornamos a vida intolerável umas para as outras. Não consigo corresponder a nossos modelos, esposa mais velha. Por isso preciso criar os meus próprios.”

Além de falar de maternidade compulsória, a Emecheta também falou de temas como colonialização e racismo, tudo com em uma narrativa limpa, simples, e muito vívida, o que nos coloca muito perto dos personagens, principalmente de Nnu Ego, que algumas vezes me exasperava, mas que afinal, eu compreendia. Infelizmente, compreensão foi tudo o que Nnu Ego não teve. No fim, seus muitos filhos e sua família, tudo pelo qual viveu, não se importaram com ela da mesma forma que ela o fez. Não existiram nem mesmo as alegrias de uma velhice de descanso, como garantia a tradição. A mulher nunca viveu para si, apenas para os outros. E no fim, nem viveu, de fato.
Andrea 13/08/2020minha estante
Gente, como o título engana! :O Eu não leria por achar que seria uma ode à maternidade e olha só como não podia estar mais errada... História atualíssima.


Ari Phanie 13/08/2020minha estante
Pois é, mana kkk. Eu já tinha visto que era um título irônico, mas esperava que a protagonista n fosse tão injustiçada. É uma experiência dolorosa, mas recomendo a leitura mesmo assim.


Marcelo Caniato 13/08/2020minha estante
Adoro suas resenhas, Ari!
O título é bem pegadinha mesmo. Eu não lembro de detalhes da história, porque já tem um tempinho que li, mas lembro que ficava chocado a cada hora que ela falava que estava grávida. Eu pensava "não é possível". Tudo isso pra satisfazer as exigências da sociedade.


Ari Phanie 13/08/2020minha estante
Marcelo, seu lindo, obrigada *-*
Exato, cara. Eu ficava chocada com quase tudo, sabe!? kkk. Eu não conseguia afastar muito minha mente ocidental do século XXI, e fiquei puta a maior parte da leitura querendo que a mulher agisse de forma diferente daquela que era previsível. Foi um eu que lute mesmo kkk. Mas não vejo a hora de ler outro livro dela.




Rosana 10/04/2021

Emocionante
Caracas, que livro! Super recomendo esta leitura. Além de retratar a cultura entre povos da Nigéria, traz a tona assuntos importantes como o papel da mulher na sociedade. Até que ponto a mulher deve abdicar a sua individualidade em prol do que a sociedade lhe impõe??
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Flavissíma 05/08/2021

Um título abertamente irônico
Buchi Emecheta me deu muitos tapas na cara e abrindo os meus olhos sobre a consciência de ser mãe (E eu sou mãe). Com um título irônico, ela mostra que as alegrias da maternidade vai muito além de conceber, gerar e cuidar. Retratado na Nigéria, algo que me encantei pelas descrições das paisagens e de cada tribo, a personagem foi criada sabendo que têm que ser esposa, dona de casa e gerar filhos (principalmente filhos homens). Ela nunca foi dona de si, sempre pertenceu ao pai, ao primeiro marido, ao segundo marido e depois aos filhos! Ermecheta expõe muitos abusos psicológicos e físicos que a personagem sofre e que existe o Patriarcado, onde ela não pode expor o que pensa, o que deseja, porque simplismente tem bocas para cuidar e alimentar, e mesmo assim a personagem Nnu Ego bate de frente. Teve alguns capítulos que eu tive sentimentos de raiva e de ódio quando se mostrava o machismo no seu ponto mais alto...Mas ao mesmo tempo e um livro que aborda a cultura Nigeriana, onde o que eu acho um horror para eles é totalmente normal, há um julgamento e ao mesmo tempo não há...
Eu indico esse livro para todas as mães e não mães! Simplismente maravilhoso!
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João Paulo 20/05/2022

Uma leitura cria, intensa, original, sensível e inesquecível. Não conhecia nenhum trabalho da autora, mas através desse me tornei fã. Ansioso para ler os próximos ?
Silva.Ligi 21/05/2022minha estante
Ainda não li este mas ta na fila! Li Cidadã de segunda classe e No fundo do poço. Gostei demais!!


João Paulo 23/05/2022minha estante
Pretendo ler ambos :)




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