de Paula 21/03/2021
Monumental
Bem, não vou negar que demorei um tempinho para terminar o segundo volume de Guerra e Paz, por dois motivos: não queria terminar, por ser tão maravilhoso, e por não aguentar mais o Tolstói criticando o Napoleão, pois já estava se tornando redundante e cansativo. Passei diversas leituras à frente e decidi terminar, sem nenhum arrependimento.
Neste volume temos a guerra na Rússia, em 1812, diferente do primeiro e segundo tomos, onde temos intervalos de batalhas e a vida moscovita e de São Petersburgo, agora o foco será quase completamente na invasão napoleônica. Conseguimos perceber o amadurecimento dos personagens e mudanças de ideais. Muitos destinos são traçados e os finais determinados nos terceiro e quarto tomos.
Não quero me afixar aos acontecimentos de cada personagem, até porque são muitos. Gostaria de deixar registrado o ciclo do Pierre, o personagem com maior crescimento e amadurecimento desse colosso. O filho ilegítimo do início da história, o marido ciumento, o maçon dedicado, o marido frio e o homem responsável por matar a besta do Apocalipse se torna um homem absolutamente completo, feliz, acima de tudo, sábio. Menção honrosa e necessária ao Platon Karatáiev, homem humilde e simples que fez Pierre mudar toda sua percepção de vida.
Natasha e Nikolai foram os personagens que mais me frustraram, porque imaginava um fechamento incrível para eles, embora não fosse muito fã da Natasha depois de tudo o que ela fez com o Andrei, ao cair na lábia do Anatole. Mas, o Nickolai, depois de cair na jogatina, teve sua remissão no exército e sua ascensão com a ajuda de Denissóv. No entanto, as pessoas que os irmãos se tornaram me entristeceu, principalmente pelo potencial.
Mária teve um belo desenvolvimento e seu auge está no quarto tomo, finalmente sua luta foi recompensada, mesmo com sua feiura, reforçada em diversos momentos. Ela precisou se tornar muito forte e independente para permanecer viva e cuidar dos seus, considerando todas os obstáculos da guerra. Uma personagem explendorosa.
Senti falta de alguns finais, dos personagens fictícios, que foram tão explorados no primeiro volume, simplesmente foram esquecidos por não serem parte da grande família abnegada e perfeita, após suas redenções pessoais.
A escrita de Tolstói é perfeita, o foco nas pessoas e indivíduos para contar os acontecimentos importantes da história é fenomenal, embora tenhamos hoje autores com esse estilo literário, na época do lançamento era inovador e não se encaixava em nenhuma escola. As histórias monumentais eram contadas por historiadores, não artistas, o que foi uma grande disrupção no século XVIII.
Agora, entro no mérito de suas visões e posicionamentos históricos. Não vamos nos iludir que o ponto de vista do autor seja o mais correto, mas nos faz pensar em questões humanas importantes sobre o curso da História e como o conceito de poder se estabelece na sociedade. Na edição da Companhia das Letras há um estudo sobre o Tolstói e Guerra e Paz.
Não se assuste com a segunda parte do epílogo! Pense nela como o TCC do Tolstói sobre Napoleão não ser um gênio. É muito divertido ler com isso em mente, porque ele acaba sendo muito redundante em defender seu ponto de vista, reforçando seus argumentos em diversos capítulos, sem mudar de assunto, somente falando o que ele já tinha deixado claro durante o restante do livro. Pode ser cansativo ler direto, talvez seja necessário ler aos poucos.
Considerando a sociedade russa e sua vanguarda em assuntos importantes, como libertação dos servos e divórcio, o final de Natasha e Mária é machista, inclusive Tolstói critica o feminismo, que já era uma vertente em discussão na época, porque apagam e tiram o potencial e há uma quebra da personalidade das personagens.
É um livro monumental, daqueles que você precisa ler em algum momento da vida e vai aprender muito sobre a vida, sobre o curso da História e as relações sociais, em períodos de Guerra e Paz.