spoiler visualizarLívia 06/11/2021
Sinceramente? Achei chatinho...
Gostei do conceito do livro, a ideia que o autor teve de entrelaçar a história da personagem principal com uma história paralela, de Booker com seu Ceifador de Chicletes, é interessante.
A escrita dele achei ok, já li outro livro do autor (Perdão, Leonard Peacock) então já sabia o que me esperava nesse quesito.
O livro tem algumas reflexões, mas às vezes chega a ser genérico demais, como se em determinado momento o autor pensasse "beleza, agora é a hora de você refletir, faça sua lição direito e pense a respeito", em vez de ser algo mais leve.
As referências a Bukowski foram legais e os poemas feitos por Alex, tenho que admitir: foram ótimos!! E o melhor: como Alex era inspirado por Buk, faria sentido se os poemas de autoria do Alex tivessem uma estrutura de escrita e temática parecidas com os poemas de Buk, e isso realmente acontece! Foi muito perspicaz por parte do Mathew Quick fazer essa ponte juntando os poemas.
Agora falando do resto...
Eu entendo que a personagem principal foi criada para ser "chata", pois está no auge da adolescência descobrindo a si mesma enquanto "enfrenta ferozmente a sociedade líquida que a cerca" e bla bla bla, mas existem jeitos melhores de caracterizar uma adolescente em transição e ESSE jeito foi só chato mesmo, não apenas a chatice bem dosada e cuidadosamente adicionada à história de forma proposital, mas a chatice em sua forma mais pura e intocada, daquelas que faz a gente revirar o olho e soltar um "ah pronto" a cada capítulo.
A Nanette enfrenta muitos conflitos internos e vai recebendo ajuda da psicóloga durante o processo. Isso foi um ponto bacana, já que o diálogo das duas enriquece a trama e traz algumas reflexões - em alguns momentos, genéricas.
A protagonista perde e ganha amigos, se envolve e se isola, tem problemas com os pais e depois os resolve para em seguida viver uma linha tênue entre "será que tá tudo bem mesmo?" e "okay, agora está tudo bem", tem dúvidas e dilemas... exatamente como a maioria dos adolescentes ?
E isso era pra ser um ponto positivo já que facilita a identificação, mas às vezes parece que é só encheção de saco mesmo.
A Nanette erra diversas vezes com os outros, mas sempre foca apenas no que os outros fazem com ela, direta ou indiretamente. Em vários momentos o leitor consegue ir catando atitudes egoístas dela, como o fato de que ela diz que Booker seguiu a vida dele dando a entender que Nanette foi chutada por ele, sendo que não é dito isso, inclusive a última interação deles é justamente o Booker a chamando para tomar chá e jogar Scrable com Sandra, Oliver e Violet. ELA escolhe se isolar dos outros por achar que ELA é especial demais e diferente demais para se misturar "ao rebanho".
Enquanto Oliver não tinha mais nenhum amigo, ela estava lá com ele. Mas é só ele arranjar uma namoradinha que ela fica toda "ain que Oliver seguiu a vida dele". Parece que ela quer as pessoas como exclusividade dela, sem que tenham direito de conhecer ou interagir com outras pessoas, de ter novos amigos.
A Nanette é aquela pessoa egoísta, com o ego elevado que acha que por ler livros e gostar de filmes (ela literalmente fala que isso a torna diferente dos outros ?) está acima dos meros mortais que compõem uma sociedade robótica e sem sentimentos, e que ela, apenas ela, foge do molde e se aparta do rebanho (rt se vc chorou)
Alex, meu Deus, só serviu para morrer. Já esperava que eles não iam ficar juntos porque a relação dos dois era muito confusa; ele chegava a se referir a ela como "a primeira mulher sem defeitos que conheceu" e a chamava de namorada e "minha mulher", sendo que eles mal se conheciam, pois praticamente só conversavam sobre O Ceifador de Chicletes. E a Nanette nunca teve certeza sobre o que sentia por ele, dizendo que iria terminar o que tinham "assim que ele aparecesse".
Alex começou como um personagem interessante, sedento por justiça e sempre querendo fazer o certo, porém, por meios errados. Acho que se o Alex tivesse sido desenvolvido mais a fundo em vez de aparecer apenas sob a ótica da Nanette, teria sido mais legal.
Enfim, meu veredito é esse: o conceito do livro é legal, mas o desenrolar da história, nem tanto.